Eduardo Leite deixa aliados de sobreaviso sobre saída do PSDB e indica que pode se filiar ao PSD

Governador gaúcho avalia trocar de legenda no início de maio, em meio à indefinição tucana; sua saída pode acelerar a debandada de lideranças

Eduardo Leite

Luísa Marzullo e Bernardo Mello - O Globo

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), deixou seu grupo político de sobreaviso, nos últimos dias, sobre seu destino partidário. O gaúcho tem dito a aliados que deve deixar o PSDB e se filiar ao PSD, partido comandado nacionalmente por Gilberto Kassab. O movimento, que vem sendo maturado nos bastidores desde o ano passado, pode se concretizar já no início de maio, e tem deixado seu entorno em estado de alerta.

Leite chegou a convocar uma reunião com deputados estaduais e federais do PSDB nesta quarta-feira (10), em Porto Alegre, com a expectativa de tratar do assunto com o grupo mais próximo. No entanto, o encontro acabou cancelado por dificuldades de agenda. Ainda assim, integrantes da legenda no estado acreditavam que o governador pudesse anunciar, ali mesmo, a data exata de sua filiação ao PSD, deflagrando um efeito cascata entre outras lideranças tucanas gaúchas.

Apesar do adiamento da reunião, o movimento de saída do PSDB parece inevitável. Aliados próximos avaliam que a decisão já está tomada, faltando apenas a formalização. Segundo apurou o blog da jornalista Ana Flor, no portal G1, Leite já teria reservado o dia 6 de maio para assinar sua ficha de filiação ao novo partido.

A presidente estadual do PSDB no Rio Grande do Sul, Paula Mascarenhas, que também ocupa o cargo de secretária de Relações Institucionais no governo estadual, confirmou a inquietação do governador diante da indefinição interna da sigla. Segundo ela, Leite esperava uma decisão concreta sobre uma eventual federação partidária ou fusão do PSDB com outras legendas — um processo que segue emperrado.

— O governador tem dito que até o fim de abril terá uma decisão. Se o PSDB não se decidir, ele pode fazer seu próprio movimento. Ele tem participado das conversas com lideranças de outros partidos na tentativa de fortalecer o centro democrático, mas chega uma hora que o prazo se esgota. Ele tem um tempo político que precisa cumprir — afirmou Mascarenhas.

Nas redes sociais, Eduardo Leite adotou um discurso semelhante, indicando que sua permanência no PSDB depende diretamente do desfecho das tratativas internas:

"Em respeito à história que construímos juntos, qualquer decisão sobre meu futuro partidário será tomada apenas após a conclusão desse processo interno, que terá um desfecho até o fim do mês de abril", escreveu em publicação.

Negociações com o PSD

Desde novembro do ano passado, Leite tem mantido diálogos frequentes com Gilberto Kassab, discutindo seu ingresso no PSD. A movimentação ganhou força nos últimos meses, especialmente após a filiação da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, ex-PSDB, à legenda. A Lyra, Leite teria confidenciado que poderia seguir o mesmo caminho.

Além de Kassab, o governador gaúcho conversou com outras figuras de destaque no PSD, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador do Paraná, Ratinho Júnior. O avanço das tratativas entre Leite e PSD já circula entre prefeitos e vice-prefeitos tucanos no Rio Grande do Sul, que se mostram dispostos a seguir o governador em uma nova sigla — efeito similar ao que ocorreu após Lyra trocar de partido em Pernambuco.

Em entrevista nesta quarta-feira a uma rádio local, o vice-prefeito de Erechim, Flávio Tirello (PSDB), afirmou que Leite será seguido "por todo mundo" quando trocar de partido. Tirello disse que está "aguardando" a decisão do governador de migrar para o PSD, que classificou como uma situação "muito avançada".

— É importante salientar que é um movimento coletivo, de todo o PSDB (gaúcho) e todas as nossas lideranças. A única brincadeira é que nosso presidente (do diretório municipal do PSDB de Erechim) Wallace Soares fala que ele vai ficar para fechar as portas. Na hora que fizermos um movimento de saída, faremos todos juntos — disse Tirello à rádio Cultura.

A articulação de mudança de partido de Leite, no entanto, esbarra em um ponto sensível: o projeto presidencial da sigla.

Leite tem pretensões de disputar novamente a Presidência da República, como fez nas prévias tucanas de 2021. Contudo, Kassab já manifestou preferência por apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, ou até lançar Ratinho Júnior como nome próprio do PSD ao Planalto. A indefinição sobre esse cenário atrasou a tomada de decisão do gaúcho.

Articuladores afirmam, contudo, que as indefinições do PSDB passaram a falar mais alto. As tentativas de fusão ou federação seguem travadas, e os embates internos, como a disputa entre o presidente nacional da sigla, Marconi Perillo, e o deputado federal Aécio Neves, alimentam um clima de estagnação. Para Leite, esse impasse tornou-se incompatível com seu calendário político e ambições eleitorais.

Alternativas para 2026

Com a eventual filiação ao PSD, Leite pode abandonar, ao menos por ora, o sonho presidencial e mirar em uma vaga no Senado Federal em 2026. A candidatura ao Senado ganharia corpo especialmente no contexto pós-enchentes no estado, em que o governador passou a exercer papel mais ativo na interlocução com o governo federal e os órgãos de ajuda humanitária.

Como noticiou o GLOBO, o gaúcho também tem se aproximado do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tendo feito recentemente elogios públicos ao mineiro. Seu nome ganhou coro para, inclusive, disputar a vice-presidência.

Interlocutores avaliam que, independente de qual cargo venha a concorrer, o PSD pode oferecer a Leite melhores condições para se consolidar como uma "liderança do centro democrático". O partido teria uma estrutura nacional mais sólida, com maior tempo de TV e recursos do fundo partidário.

Caso se confirme a saída de Eduardo Leite, o PSDB corre o risco de ficar com apenas um governador no país: Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul. Contudo, interlocutores de Riedel já admitem que ele também vem sendo cortejado por outras siglas, como PSD e PL, e não descartam uma possível mudança no futuro próximo.

Procurados pelo GLOBO, Leite e Kassab disseram não haver uma confirmação até o momento de que o governador gaúcho trocará o PSDB pelo PSD. A reportagem também procurou Marconi Perillo e será atualizada em caso de retorno.

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