Membros do setor cultural organizaram jantar de boas-vindas a Totó Parente e para apoiar a presidente da Spcine
Manoella Smith - Coluna Mônica Bergamo/Folha.com
"Costumo dizer que eu apanho da direita de manhã, da esquerda à tarde e à noite dos dois", diz o secretário municipal da Cultura, Totó Parente, em um jantar com cineastas, produtores e atores na noite de terça-feira (25), em São Paulo. A plateia então dá risada.
"Sem arrogância e sem pretensão nenhuma, não quero ser um secretário morno. Não é a minha característica. Ou vou sair [do cargo] muito bem com vocês, o que espero, ou vou sair com vocês me odiando", segue.
A reunião ocorreu na casa da produtora Diane Maia, que recebeu convidados ao lado de Debora Ivanov, sócia da Gullane Filmes. O convite dizia que o encontro tinha como objetivo dar "boas-vindas" a Totó, nomeado este ano por Ricardo Nunes (MDB), e apoiar a presidente da Spcine, Lyara Oliveira.
A movimentação foi uma espécie de reação a um jantar realizado pelo grupo Artistas Livres, liderado pelos cineastas "anti-woke" Josias Teófilo e Newton Cannito, que foi marcado por deboches a Totó e a Oliveira. O encontro, realizado no mês passado, incomodou a gestão municipal.
Em um tom conciliador, Totó disse em seu discurso que "a eleição passou". "Agora, é tentar juntar todo mundo, tentar criar um espírito mais de corpo da indústria do audiovisual para a gente tentar alavancar políticas públicas juntos. Para gente ter essa capacidade de articular com outros setores, de buscar mais recursos", afirmou.
A escolha do secretário foi criticada por ele não ter em seu currículo cargos de gestão na área cultural. Ligado ao MDB, Totó afirmou em entrevista à Folha que é "radicalmente de centro". Ele já presidiu a Embratur, foi vereador e candidato a prefeito em Cuiabá e assessor de campanha do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).
Virou alvo de membros da cultura ligados à direita e ao bolsonarismo que apoiaram a reeleição de Nunes e são contrários a políticas afirmativas e ao que chamam de "identitarismo" na cultura.
Entre os presentes no jantar de quarta estavam os atores Caio Blat e Paulinho Vilhena, a cineasta Tata Amaral, a atriz Regina Braga e o marido, o médico e colunista da Folha Drauzio Varella, a atriz Caroline Abras, a diretora da Cinemateca, Maria Dora Mourão, e o diretor de inovação da Spcine, Emiliano Zapata.
No centro da sala, uma mesa estava decorada com flores e ofertava petiscos variados —pães, queijos, pastas, guacamole e cuscuz. Garçons passavam com porções de moqueca e farofa de limão e de creme de mandioquinha com rabada desfiada. Para beber, os convidados escolhiam entre vinho, cerveja, refrigerante e suco de caju.
O secretário ouviu sugestões e chamou a Spcine, empresa de fomento ao audiovisual da prefeitura, de "joia da coroa" da gestão. Em seguida, Lyara discursou. Disse que a empresa, que completa 10 anos de existência, passa por "um momento muito feliz" e que "o audiovisual é a locomotiva da economia criativa".
Ela, que completa em breve um ano no cargo, também quis reforçar que tem o apoio da atual gestão apesar das críticas de setores conservadores. "Realmente estou muito feliz de estar fazendo parte desse momento histórico, de estar construindo essa parceria com o Totó. De receber esse reconhecimento e esse apoio dele, do prefeito Ricardo Nunes", disse.
O clima da noite foi descontraído. E claro que, em uma sala cheia de membros do audiovisual, a corrida do filme "Ainda Estou Aqui" ao Oscar não ficou de fora. Totó descreveu a produção como "uma das poucas unanimidades" do país nos últimos anos.
O secretário também contou que, após receber o convite de Nunes para chefiar a Cultura, ligou para o ex-presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema) Manoel Rangel, que chefiou o órgão no segundo mandato de Lula (PT) e no governo Dilma (PT). "Então você se dá bem com comunistas", brincou um dos convidados, arrancando risos.
"Meu amigo, fui presidente da Ubes [União Brasileira dos Estudantes Secundaristas] durante o impeachment do [ex-presidente Fernando] Collor", respondeu Totó, bem-humorado.
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