Ex-chanceler afirma que ‘o Brasil não é certificador da lisura de outros pares’; na sua avaliação, processo de cerceamento no país vizinho começou há tempos
Aloysio Nunes
Vera Rosa - Estadão
O ex-chanceler Aloysio Nunes disse que o governo brasileiro não deveria ter mandado o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, para acompanhar as eleições presidenciais na Venezuela. “Foi um erro”, afirmou Aloysio ao Estadão. “Estava na cara que o jogo ali estava ruim há meses”, emendou ele, numa referência à anunciada reeleição do ditador Nicolás Maduro.
Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em fevereiro, para comandar a divisão de Assuntos Estratégicos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Bruxelas, Aloysio afirmou que nenhum observador internacional tem muito o que fazer em Caracas. “Observar o quê?”, perguntou. “O Brasil não é certificador da lisura de outros pares. A lisura daquela eleição não se verificou no domingo, mas em todo processo de cerceamento do processo.”
Amorim foi enviado por Lula a Caracas, na semana passada, para dar informações ao presidente sobre a eleição, que foi marcada por suspeitas de fraude. Ele retornou ao Brasil nesta terça-feira, 30, após conversar com Maduro e com o candidato da oposição, Edmundo González Urrutía.
Liderada por Maria Corína Machado, que foi impedida de entrar na disputa, a oposição acusa Maduro de ter fraudado as eleições. Amorim pediu ao ditador da Venezuela que o Conselho Nacional Eleitoral divulgue as atas de votação. Apesar das cobranças até mesmo internacionais, o governo brasileiro vai esperar esses dados para se posicionar.
“Há meses que Maduro vem barbarizando e o presidente Lula manifestou preocupação com essa situação. Foi um processo viciado”, argumentou Aloysio. “Mais do que isso, vamos fazer o quê? Não podemos romper com a Venezuela. O Brasil tem relações até com a Coreia do Norte.”
Ao destacar que o país vizinho integra o Tratado de Cooperação Amazônica, o ex-chanceler disse que a fronteira do Brasil com a Venezuela é “delicada”, entre outros motivos por causa da penetração do narcotráfico na Amazônia.
Mesmo afirmando que não é papel do Brasil reconhecer ou não o resultado eleitoral de outros países, Aloysio argumentou que os partidos de esquerda deveriam manifestar repúdio ao que ocorre na Venezuela. “É difícil conceber que um partido de esquerda aplauda um governo nitidamente autoritário como o de Maduro”, avaliou.
Na noite desta segunda-feira, 29, a cúpula do PT reconheceu a vitória de Maduro, proclamada pelo regime chavista. Depois de muita discussão e polêmica interna, a Executiva Nacional do partido divulgou nota na qual diz que as eleições na Venezuela transcorreram em jornada “democrática” e sustenta que os graves problemas da Venezuela são, em grande medida, causados por “sanções ilegais”.
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