Raquel Lyra pede ao PSDB que deixe oposição ao governo Lula

Em entrevista à Coluna, a governadora de Pernambuco afirmou que parceria com o governo federal é essencial para o Estado

Raquel Lyra

Augusto Tenório - Estadão

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, enfrenta um dilema no PSDB: ao mesmo tempo em que é uma das apostas para a renovação do ninho tucano, o partido – já debilitado pelo encolhimento da bancada federal – não a ajuda quando faz oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No segundo turno da eleição de 2022, Lula recebeu quase 67% dos votos no Estado onde nasceu.

Raquel enxerga na parceria com o Palácio do Planalto um caminho para fazer entregas e, com isso, deixar o posto de governadora com a pior avaliação no Brasil, segundo pesquisa AtlasIntel. Tanto que ela já pediu ao presidente do PSDB, Marconi Perillo, que o partido deixe a oposição e se torne independente.

“Defendi uma postura de independência do PSDB, dada a necessidade de um esforço nacional para o País voltar a crescer de maneira sustentável”, disse a governadora.

Em entrevista à Coluna do Estadão, Raquel debitou a má avaliação de seu governo na conta do PSB, que administrou Pernambuco por 16 anos. O último governador, Paulo Câmara, deixou o Palácio do Campo das Princesas em 2022 com aprovação de apenas 13%, segundo pesquisa Ipec.

“Virar esse jogo não é algo simples, mas eu confio na força do trabalho”, afirmou Raquel. “Já fizemos a maior captação de recursos da história do Estado, com quase R$ 3,5 bilhões em empréstimos para investimentos em estradas e distribuição de água.”

Para a governadora, Pernambuco não conseguiu garantir recursos nos últimos anos porque não construiu parcerias institucionais com o Planalto.

“Perdemos oportunidades importantes. Através do governo do presidente Lula, temos construído parcerias sólidas, que já começam a entregar resultado, como as unidades habitacionais”, observou Raquel, que em janeiro assinou ordem de serviço com o Ministério do Desenvolvimento Regional para construção de nova barragem no agreste do Estado.

Por causa desse diálogo com o governo Lula – Raquel já esteve com o presidente em diversas agendas públicas, até mesmo fora de Pernambuco –, ela é assediada por partidos de centro, como o PSD e o MDB. Cada um deles conta com três ministérios na gestão petista e tem mais do dobro de deputados do que o PSDB.

Se Raquel deixar as fileiras tucanas, o Nordeste não terá mais nenhum governador de partido de oposição a Lula. Ela minimiza o assédio e garante não haver compromisso nem com o PSD nem com o MDB.

“O PSDB me deu a oportunidade de estar aqui. Fui eleita e reeleita prefeita de Caruaru pelo partido e tive todo o apoio para disputar a eleição para o governo”, disse Raquel à Coluna. “Mas vivemos um momento desafiador, com redução da bancada.”

Questionada sobre quais são seus conselheiros políticos, ela citou dois petistas, sob o argumento de que também é importante dialogar com quem não compõe a base do governo.

“Tenho sempre procurado os senadores Humberto Costa e Teresa Leitão, do PT, além do senador Fernando Dueire, do MDB” contou. “Tenho a sorte de ter em casa o meu pai, João Lyra, que foi governador de Pernambuco, e tive muita sorte de ter convivido com meu tio, o ex-deputado e ex-ministro da Justiça Fernando Lyra.”

Na eleição municipal deste ano, Raquel medirá forças, pela primeira vez, com o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Filho do ex-governador Eduardo Campos – morto em 2014 –, ele disputará novo mandato, mas também é cotado como candidato ao governo de Pernambuco, em 2026.

Campos é o gestor de capital com melhor avaliação no Brasil, segundo ranking do AtlasIntel. Apesar da rivalidade, Raquel descarta escalar a vice-governadora Priscila Krause (Cidadania) para a corrida à Prefeitura e aposta no diálogo com Campos para resolver problemas na região metropolitana da cidade.

“Eu trabalho para todos os municípios, independentemente da bandeira partidária levantada pelos prefeitos. Não estou disputando a eleição deste ano; estou trabalhando como governadora”, afirmou Raquel, que, recentemente, teve uma reunião com João Campos, no Campo das Princesas.

“Precisamos da presença forte da Prefeitura. Recife está dentro de todas as nossas estratégias: na criação de vagas de creche, no combate à fome, na geração de emprego, na habitação popular e mobilidade”, destacou a governadora.

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