Padilha usa programa alimentar da Prefeitura de Nunes para promover Boulos; veja vídeo

Ministro das Relações Institucionais induz quem assiste a pensar que projeto é federal; UNAS Heliópolis confirma que ação não recebe dinheiro do governo Lula; secretário reclama de ‘apropriação’

Carlos Fernandes e Alexandre Padilha

Roseann Kennedy - Coluna Estadão

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, produziu um prato indigesto para a pré-campanha da esquerda à Prefeitura de São Paulo. Ele visitou uma unidade do programa Rede Cozinha Escola, desenvolvido com a União de Núcleos e Associação de Moradores de Heliópolis (UNAS), distribuiu marmitas e almoçou no local. Depois, divulgou um vídeo em tom elogioso, com mensagens que induzem quem está assistindo a pensar que se trata de um programa federal. No entanto, o projeto é feito em parceria com a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e não recebe verba do governo Lula. A Coluna do Estadão entrou em contato com a equipe de Padilha, mas ele ainda não se manifestou.

O vídeo de 48 segundos, postado nas redes sociais de Padilha, tem uma mensagem de texto com a seguinte mensagem: “Governo Lula vai investir R$ 30 milhões em iniciativas como essa”. E um testemunhal do ministro. “Estou aqui na UNAS de Heliópolis. Heliópolis é a maior favela da cidade de São Paulo. A UNAS organização dos moradores de Heliópolis. Estamos aqui acompanhando o desenvolvimento da Cozinha Solidária, projeto do governo federal do presidente Lula, parceria.

O ministro aproveita para promover o nome do pré-candidato do PSOL à Prefeitura, Guilherme Boulos. “O presidente Lula encaminhou o projeto do Congresso Nacional, foi aprovado na relatoria. Inclusive o relator do projeto foi o deputado Guilherme Boulos, que colocou ali o Cozinha Solidária e virou uma política pública. E que mostra esse esforço nosso de combater a fome. Ano passado, nós já tiramos 13 milhões de pessoas da fome, no Brasil, e vamos tirar cada vez mais”, conclui a mensagem.

No texto que acompanha a publicação no Instagram, Padilha diz que iniciativas como a da UNAS Heliópolis vão receber recursos do governo Lula e terão papel central para retirar o Brasil novamente do mapa da fome. Ele cita que o secretário executivo de Segurança Alimentar e Nutricional e de Abastecimento municipal, Carlos Fernandes, acompanhou a visita. E no final fala do esforço “virou política pública na parceria comunidade organizada, prefeitura e governo federal”.

Veja vídeo

UNAS diz que ministro visitou o local para usar exemplo para o projeto federal

A União de Núcleos e Associação de Moradores de Heliópolis (UNAS) confirmou à Coluna do Estadão que o projeto visitado pelo ministro Alexandre Padilha é desenvolvido com a Prefeitura de São Paulo e não recebe dinheiro da União. Explicou que Padilha e o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) foram ao local para conhecer o trabalho e avaliar o exemplo para execução do programa federal Cozinha Solidária, que ainda vai entrar em fase de licitação.

“O projeto faz parte da Rede Cozinha Escola criado pela atual gestão municipal. Diariamente, serve quase 500 refeições, de forma gratuita a famílias em vulnerabilidade social . Nossa parceria com a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania e Secretaria de Abastecimento e Segurança Alimentar da cidade de São Paulo ocorre desde outubro de 2023... A visita dos ministros tinha o intuito de apresentarmos as demandas que a nossa comunidade precisa com o apoio do governo federal, e assim apresentarmos esse projeto para que sirva de exemplo em todo o território nacional″, disse a entidade em nota enviada à Coluna do Estadão.

Toda verba para combate à fome é bem-vinda mas ministro não pode se apropriar de programa da Prefeitura, diz secretário

O secretário executivo de Segurança Alimentar da cidade de São Paulo, Carlos Fernandes, acompanhou os ministros do governo Lula à cozinha escola. Ele disse à Coluna que apoia toda parceria para projetos de combate à fome, mas ressaltou que o Rede Cozinha Escola não recebe verba federal.

“Toda verba para enfrentamento da fome é bem-vinda. Mas o ministro não pode se apropriar de um projeto nosso para fazer propaganda do governo federal, como se fosse iniciativa deles”, afirmou.

O secretário ainda ressaltou que falou com Padilha sobre o programa municipal e destacou: “As marmitas distribuídas no local têm a marca da prefeitura da Cidade, não há nem como ele dizer que não sabia”.


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