Para Persio Arida, democracia é o segredo que garante o sucesso do Plano Real

Economista entende que a inflação baixa é conquista do povo brasileiro e que nenhum governante terá sucesso nas urnas com os preços em alta

Persio Arida

O GLOBO

Um dos mentores do Plano Real, o economista Persio Arida, ex-presidente do Banco Central, acredita que a consolidação da democracia no país foi fundamental para o sucesso do plano, que em 2024 completa 30 anos. Para Arida, a inflação alta mina a popularidade dos governantes, com efeitos sobre os resultados eleitorais. Por isso, todos os que ocuparam a Presidência da República desde 1994 mantiveram as linhas gerais do Real, ainda que, em algum momento ou outro, houvesse desvios que colocassem a estabilidade monetária sob risco.

"Eu acho que o segredo aqui é a dinâmica democrática. Uma estabilidade de preços é um valor do povo brasileiro. O governante sabe que, se der inflação, ele estará politicamente morto. Então, os políticos, toda vez que a inflação ameaça subir, deixam de lado os planos, digamos, eleitoreiros ou populistas, e tratam de fazer o necessário para combater a inflação", afirmou Arida em entrevista ao jornal Valor Econômico.

Ao lado do economista André Lara Resende, Arida foi autor de um estudo conhecido como Plano Larida, que serviu de base, 10 anos antes, para a formatação do Plano Real. Uma das ideias desse estudo foi a criação de uma nova moeda, indexada à inflação passada, e que acabou sendo incorporada no plano sob a forma virtual, por meio da Unidade Virtual de Valor (URV).

Arida diz, no entanto, que o plano foi uma construção coletiva, e que as reformas iniciadas no governo Fernando Henrique Cardoso, foram cruciais para que a inflação não subisse novamente, como aconteceu em outros planos, como o Cruzado, no governo José Sarney. Ele alerta para o déficit fiscal prolongado das contas públicas, que tem enfraquecido um dos pés do chamado "tripé macroeconômico".

"O governo Fernando Henrique, ainda que não na partida, conseguiu implementar o chamado tripé macroeconômico, que é câmbio flutuante, taxa de juros voltada para combater a inflação e superávit fiscal. Nos primeiros anos lulistas, o tripé foi mantido. Mas depois, gradativamente, o superávit fiscal foi minguando. Hoje, temos déficit. Hoje, temos déficit. O tripé está um pouco manco, porque tem dois pés no lugar, e o terceiro, mais ou menos. Mas eu creio que isso vai ser corrigido", disse.

Um dos principais momentos de risco do plano, segundo o economista, foi o fim da paridade cambial em 1999, logo após a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.

"O sucesso de um plano de estabilização não pode ser julgado por três ou seis meses, mas por um período prolongado. O Real passou por vários momentos de risco. Por exemplo, a flutuação cambial em 1999, o déficit público crescente na época lulista. Mas passou bem por esses momentos", disse.

Comentários