Bonde São Paulo: o projeto do VLT no Centro

Plano é de 2 linhas de transporte menos poluente; do trajeto ao tempo de viagem; o que se sabe sobre projeto de novo bonde


O nome preliminar é Bonde São Paulo, com a proposta de duas linhas circulares (Vermelha e Azul) por trechos dos distritos República, Sé e Bom Retiro — passando no entorno de pontos conhecidos, como Vale do Anhangabaú, Jardim da Luz e Largo do Paissandu, e partes das principais vias da região, como Avenida São João, Rua José Paulino, Avenida Prestes Maia e as proximidades da Rua Santa Ifigênia. A estimativa é atender cerca de 100 mil passageiros por dia.

Segundo a Prefeitura, o projeto está em desenvolvimento há cerca de um ano e terá novas etapas de estudo ao longo de 2024, a fim de calibrar fontes de receita e outros aspectos, como a adoção de uma opção elétrica ou a hidrogênio.

Não há prazo oficial para a apresentação da modelagem definitiva e a publicação de licitação. O chamamento público do PMI foi assinado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em agenda pública comemorativa do aniversário de São Paulo.

A gestão municipal argumenta que esse modo de transporte poderia reduzir os acidentes com ônibus — cujos trajetos passariam por alterações —, diminuir a emissão de poluição sonora e atmosférica, interligar terminais de ônibus e estações de trem e metrô do perímetro, aumentar a sensação de segurança, atrair turistas e embelezar a região central. Parte dos especialistas em urbanismo e mobilidade concorda que pode gerar esse tipo de impacto positivo.



O nome do projeto faz referência aos antigos bondinhos elétricos (que operaram até 1968 na capital). Como os bondes, esses veículos trafegam em um trilho ao lado das faixas para automóveis e afins. Externamente, lembram vagões de metrô, com fluxo mais silencioso e sem tanta vibração.

Na Prefeitura, tem-se destacado que a implementação poderia impulsionar transformações mais profundas no centro, em conjunto com incentivos estabelecidos no Plano de Intervenção Urbana (PIU) Setor Central e outras medidas. O grupo de trabalho que desenvolve a proposta é chefiado pelo secretário adjunto de Governo, Clodoaldo Pelissioni, secretário estadual de Transportes Metropolitanos em gestões passadas.

Ao Estadão, o secretário ressaltou os diversos estudos em desenvolvimento para o projeto, parte feitos internamente, parte em colaboração com a iniciativa privada, por meio de reuniões com agentes do setor ferroviário, fabricantes de material rodante e entidades variadas. Um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também é esperado, especialmente para desenhar as possíveis receitas para garantir o funcionamento do sistema.

Pelissioni evita dar uma data para a licitação, mas é pouco provável que seja este ano, voltado a delinear o projeto e o modelo de concessão. “Precisamos de tempo para investir em um bom projeto”, disse. “O VLT é um projeto de valorização grande do centro, de valorização imobiliária. É um ‘ganha-ganha’ tremendo, não em detrimento de outras políticas. Essas coisas têm de andar em paralelo, de maneira conjunta e integrada.”

A gestão Nunes pleiteia recursos federais para a obra, via Novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento, retomado pelo governo Lula). Após a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP 28), em dezembro, chegou a divulgar que o ministro Jader Filho sinalizou a liberação de R$ 1,4 bilhão. Por enquanto, oficialmente, o Ministério das Cidades afirma que a proposta segue em análise, sem definição “sobre o aporte de recursos pelo governo federal”, conforme nota enviada ao Estadão.

O projeto preliminar considerou outras duas propostas. Uma delas foi a anunciada em 2017, na gestão João Doria (então no PSDB), de duas linhas circulares no centro, doada à Prefeitura pelo setor imobiliário (Secovi-SP) e de autoria do escritório do urbanista Jaime Lerner.

Essa tinha percurso menos amplo, que não chegava ao Bom Retiro, assim como o transporte sugerido era um Veículo Leve Sobre Pneus (VLP), não trilhos. Além disso, o conteúdo de uma Manifestação de Interesse Privado (MIP) apresentada pela Alstom (fabricante dos VLTs do Rio) há cerca de cinco anos também foi avaliado.

O levantamento mais recente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) sobre empreendimentos de mobilidade aponta 21 projetos de VLT em desenvolvimento no País. Divulgado em agosto, o material indicava dois sistemas do tipo em obras e quatro em operação.

Na capital paulista, o VLT chegou a ser anunciado para o transporte de passageiros entre o metrô e o Aeroporto de Congonhas (e também foi discutido para o de Guarulhos e para a zona leste) após acordo entre as três esferas de governo. Posteriormente, optou-se pelo monotrilho.

Na Baixada Santista, o VLT está próximo de completar uma década. Hoje, liga São Vicente até o Porto de Santos, mas está em obras de expansão de um novo trecho santista. Além disso, o governo do Estado estuda a ampliação até Praia Grande.

O que mais se sabe sobre o projeto do VLT do centro paulistano?


O PMI receberá os estudos das consultorias autorizadas em três meses (prorrogáveis), com subsídios operacionais, econômico-financeiros, jurídicos e afins à proposta. Essa etapa terá investimento de R$ 3,6 milhões, com a exigência de que sigam diretrizes e características do projeto básico, como integração ao sistema do Bilhete Único e veto a uma tarifa superior à da passagem de ônibus. Estima-se que seriam necessários quatro anos para a implantação.

O projeto preliminar calcula que o tempo do trajeto completo de cada linha dure cerca de 45 minutos, com velocidade média de 18 km/h e guiado por um condutor. É esperado que seja um anel de interligação por diferentes partes do centro e com outras formas de locomoção, como metrô, trem e ônibus. Isto é, espera-se que o passageiro desembarque nos terminais e estações e, na sequência, faça o trecho mais curto de VLT.

A capacidade seria de receber 447 passageiros para cada viagem, realizada das 6h à 0h, com nove veículos em operação. Cada linha teria 13 estações cada, com a vermelha voltada especialmente à região da Santa Ifigênia e Bom Retiro, enquanto a azul no entorno da República e da Sé (com operação nos dois sentidos).

A Linha 1-Azul tem trajeto preliminar de 6,45 km, enquanto a Linha 2-Vermelha teria 6,26 km. A conexão prevista entre as duas linhas seria na Avenida São João. Com a implantação, dezenas de pontos e trajetos de ônibus precisariam ser transferidos, com possível redução na circulação no miolo das linhas de VLT.

Além disso, a proposta envolve um centro integrado de operações na Rua Prates, no Bom Retiro. No local, espera-se implementar um espaço multiuso de 27 mil m², com comércio voltado à rua, equipamentos públicos e até 2 mil apartamentos. Para a gestão municipal, a verticalização desse espaço pode ser importante fonte de renda para viabilizar o projeto.


Fonte: Priscila Mengue - Estadão (Texto editado pelo Blog do Welbi)

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