Aloysio Nunes diz que Aécio deve ‘cuidar da eleição em Minas’, em vez lançar chapa do PSDB em SP

Para ex-chanceler, apoio do partido à reeleição de Ricardo Nunes é ‘questão de decência’

Aécio e Aloysio

Vera Rosa - Estadão

O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira afirmou que o deputado Aécio Neves “deveria cuidar da eleição em Belo Horizonte” em vez de defender candidatura própria do PSDB em São Paulo. Aloysio ocupou a vice na chapa de Aécio, na campanha presidencial de 2014, quando o tucano foi derrotado por Dilma Rousseff (PT).

“Não há qualquer razão para o PSDB ter candidato próprio em São Paulo”, disse ao Estadão o ex-ministro das Relações Exteriores, que prega o apoio de seu partido ao prefeito Ricardo Nunes, do MDB. “É até uma questão de decência do PSDB apoiar a reeleição do prefeito”, emendou ele.

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Ex-presidente da São Paulo Negócios, agência de investimentos vinculada à Prefeitura, Aloysio lembrou que, na atual gestão municipal, os tucanos comandam a Secretaria da Casa Civil, da Justiça, da Assistência Social, da Educação e do Desenvolvimento Econômico.

Nomeado na segunda-feira, 5, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para chefiar a Divisão de Assuntos Estratégicos do escritório da Apex em Bruxelas, o ex-chanceler disse que voltará ao Brasil em outubro para votar em Nunes. Lula apoia Guilherme Boulos (PSOL), que tem Marta Suplicy, de volta ao PT, como vice da chapa.

Sob o argumento de que o PSDB precisa se reabilitar para conseguir disputar a eleição presidencial de 2026, Aécio e outros dirigentes tucanos avaliam que este é o momento para o partido apresentar nomes nas campanhas municipais. Mas a bancada de vereadores do PSDB é contra.

Andrea Matarazzo foi convidado para ser candidato

O empresário Andrea Matarazzo já foi convidado para retornar às fileiras do PSDB com o objetivo de ser candidato à Prefeitura de São Paulo. Matarazzo deixou a legenda em 2016, após 23 anos de filiação, e está no PSD de Gilberto Kassab, secretário de Governo na administração de Tarcísio de Freitas. Em 2020, Matarazzo foi candidato a prefeito de São Paulo pelo PSD e ficou em oitavo lugar. Antes, em 2016, concorreu a vice na chapa liderada por Marta Suplicy, que à época estava no MDB.

Sem se importar com reclamações de colegas, Aloysio tem feito duras críticas ao PSDB, partido que integra há três décadas. Primeiro tucano a apoiar Lula, o ex-chanceler chegou a dizer ao Estadão, por ocasião dos 35 anos da sigla, em 2023, que o PSDB havia se transformado em um partido de direita, estava sem rumo e não servia mais para nada, “nem para fazer oposição”.

Amigo de Aécio, a quem sempre defendeu – mesmo antes de o deputado ser absolvido das denúncias de corrupção no caso JBS –, Aloysio usou essa credencial para aconselhar o ex-governador de Minas, hoje presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), a se concentrar nas eleições municipais da capital mineira.

“Quem vai ser o candidato do PSDB à Prefeitura de Belo Horizonte?”, questionou ele. “Aécio deveria cuidar da eleição em Minas, em Belo Horizonte, e também da presidência do ITV para ajudar a formular a luta política no País. Deixe São Paulo resolver as questões de São Paulo. Esta, aliás, é a orientação do presidente do partido, Marconi Perilo, que vai penar para estancar a crise interna e a debandada.”

Os reparos feitos por Aloysio à ideia de uma parte da cúpula tucana de lançar chapa própria em São Paulo também atingiram o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ex-presidente do PSDB.

Leite sempre disse ser importante que o PSDB apresentasse nomes para disputar os maiores colégios eleitorais do País. “E o que Eduardo Leite vai fazer para derrotar o prefeito bolsonarista de Porto Alegre?”, indagou o ex-chanceler, numa referência a Sebastião Melo (MDB).

Na prática, o PSDB – partido que já governou o País duas vezes, com Fernando Henrique Cardoso – continua dividido em ter candidatura própria na capital paulista ou apoiar o prefeito. Ricardo Nunes assumiu a Prefeitura após a morte de Bruno Covas (PSDB), em 2021.

Aécio costuma afirmar que concorda com “quase tudo” o que diz Aloysio, a quem classifica como “amigo fraterno”, mas desta vez não quis se manifestar. Leite também não.

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