FBI vai colaborar com PF sobre esquema de venda de joias de Bolsonaro nos Estados Unidos

Acordo firmado permite quebras de sigilo e diligências em joalherias

Bolsonaro

A Polícia Federal vai receber informações de autoridades americanas e está autorizada a realizar diligências nos Estados Unidos na investigação sobre o suposto esquema ilegal de vendas de joias no governo de Jair Bolsonaro. Haverá colaboração, por exemplo, com o Federal Bureau of Investigation (FBI). A informação foi antecipada pelo portal g1.

A proposta de acordo foi encaminhada pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica (DRCI), órgão do Ministério da Justiça responsável pelas tratativas com outros países. A proposta foi chancelada pelo Departamento de Justiça Americano (DoJ, na sigla em inglês). 

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O acordo prevê que agentes da PF sigam para os EUA e cumpram diligências em joalherias na Florida, Nova York e Pensilvânia, onde as joias desviadas do acervo presidencial teriam sido negociadas. Também será possível ouvir depoimentos, reunir informações de quebras de sigilo de contas no exterior e ter acesso a dados de imóveis dos alvos. Há suspeita, por exemplo, de apropriação indevida das joias e de lavagem de dinheiro nas operações. 

Investigadores afirmam que “em breve” haverá policiais nos EUA para dar continuidade às investigações. 

No curso da investigação, a PF apontou a existência de uma organização criminosa no entorno de Bolsonaro para o desvio das joias e outros itens de luxo. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também determinou as quebras de sigilo bancário e fiscal de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ambos negam irregularidades. 

A colaboração dos EUA na investigação é relevante para colher informações que ainda não estão disponíveis. 

A empreitada incluiu viagens às pressas de aliados para os Estados Unidos para recomprar presentes que, após terem sido entregues ao então presidente por autoridades árabes, foram vendidos a joalherias. Parte dos itens foi levada no avião presidencial para ser vendido no exterior, quando Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022.

Um relógio Patek Philippe, entregue a Bolsonaro em 2021 pelo regime do Bahrein, não aparece nos registros oficiais, segundo a PF. Na chefia do Executivo à época, ele recebeu do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, em 16 de novembro daquele ano, via WhatsApp, o certificado de autenticidade do modelo, avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 250 mil, na cotação atual). 

A investigação colheu no celular do ex-ajudante de ordens documentos que comprovam a venda da peça, em 13 de junho de 2022, para uma loja na Pensilvânia (EUA). Cid recebeu US$ 68 mil na transação — um relógio Rolex, presenteado pela Arábia Saudita em 2019, também entrou na negociação. O tenente-coronel estava nos Estados Unidos na ocasião acompanhando Bolsonaro na Cúpula das Américas. 

Segundo a PF, a falta de registro indica “a possibilidade” de o relógio sequer ter passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, sendo desviado diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro”. 

Quando vieram à tona, já neste ano, informações sobre joias em posse de Bolsonaro, aliados desencadearam uma ofensiva para tentar reaver ao menos parte das peças e entregá-las ao Tribunal de Contas da União (TCU). 

Coube a Cid reaver um dos conjuntos. Em 26 de março, o militar embarcou para os Estados Unidos com o objetivo de recuperar um kit que tinha anel, abotoaduras e um rosário islâmico. Na manhã do dia seguinte, já no exterior, sacou US$ 35 mil em uma agência do Banco do Brasil e se dirigiu à joalheria em Miami onde as peças estavam expostas. O cronograma da viagem evidencia a urgência com a qual o assunto era tratado: Cid voltou para o Brasil na noite do dia seguinte ao embarque, permanecendo menos de 24 horas em solo americano. Os itens também foram devolvidos, após ordem do TCU.

Fonte: O Globo

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