Escolha do novo comando do PSDB opõe Eduardo Leite e Aécio Neves; veja os principais candidatos

Enquanto o governador do Rio Grande do Sul deverá trabalhar para eleger Tasso Jereissati ou Reinaldo Azambuja, deputado federal defende caciques como José Aníbal, Marconi Perillo e Adolfo Viana

Eduardo Leite e Aécio

Guilherme Caetano - O Globo

Depois de caminharem juntos desde as prévias presidenciais do PSDB, em 2021, o atual cacique do partido, o governador gaúcho, Eduardo Leite, e o deputado Aécio Neves defendem nomes diferentes para comandar a legenda a partir do mês que vem, quando os tucanos vão escolher um novo presidente. Com disputas internas e fracassos eleitorais, a sigla vive uma das piores crises desde que foi criada, há 35 anos.

Atual ocupante da cadeira mais importante do partido, Eduardo Leite deverá trabalhar para eleger os ex-governadores Tasso Jereissati (CE), um dos seus padrinhos políticos, ou Reinaldo Azambuja (MS). Já Aécio Neves (MG), que ocupou a presidência por cinco anos e representa uma força política dentro da legenda, defende caciques como José Aníbal, Marconi Perillo (GO) e o líder na Câmara dos Deputados, Adolfo Viana (BA). Ele não descarta, contudo, apoiar Azambuja.

O PSDB está rachado entre o grupo que está no poder, liderado por Leite, e outro insatisfeito, formado principalmente pelos tucanos de São Paulo, estado que foi governado por quadros da legenda por quase três décadas. O mais recente capítulo dessa briga se deu no último fim de semana, quando um grupo de 37 paulistas, sob o comando do ex-governador Rodrigo Garcia e do ex-senador e ex-ministro Aloysio Nunes (SP), divulgou um comunicado contra a gestão Leite.

Convenção suspensa

Em tom duro, eles chamaram de “inadmissível” a decisão do diretório nacional do último dia 19 de suspender por 180 dias a convenção estadual do partido em São Paulo. O evento estava programado para o próximo domingo, dia 29. Entre as razões da cúpula está a de que a organização da convenção “requer mais tempo, levando em consideração o tamanho e a importância histórica do PSDB”.

Uma das signatárias do manifesto do fim de semana, a deputada estadual Maria Lúcia Amary (SP) elogia uma possível escolha de Jereissati, mas não poupa crítica às lideranças que têm conduzido os diretórios nacional e paulista. Ela diz que apoiará quem conseguir pacificar a sigla:

— O PSDB é bom de gestão e ruim de comunicação. Está faltando um líder. E, como todo mundo está procurando o seu próprio líder, não estamos conseguindo conciliar os grupos.

O pano de fundo da resolução assinada por Leite é o que a gestão nacional entende ser um desmonte do partido em São Paulo para fins particulares. Dirigentes nacionais citam como um grande escândalo a participação do presidente da executiva paulista, Marco Vinholi, em um evento de desfiliação do prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, do PSDB. Na mesma ocasião, Machado assinou sua ficha de entrada no PL, na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto, presidente nacional da sigla.

A cúpula tucana vê uma atuação direta da direção paulista para desmontar a estrutura partidária no estado. Segundo dirigentes, tucanos paulistas se conformaram em perder sua maior fortaleza, o Palácio dos Bandeirantes, que ocuparam por 28 anos, e não têm agido para segurar a debandada de quadros.

Troca de comando em SP

A resolução, uma resposta a uma representação feita por quadros históricos do PSDB como José Serra, Barjas Negri e José Aníbal, também prevê trocar o comando paulista assim que o atual mandato se encerrar, no próximo domingo. O diretório nacional vai designar uma comissão provisória responsável por organizar a convenção adiada para abril de 2024.

— A gente observa prefeitos que saíram do partido e que continuam tentando manter influência no partido. Não podemos deixar o partido ir a reboque de projetos individuais. A crise acontece diante do pior resultado da história do partido. São Paulo elegeu só três deputados (federais). Tudo isso cria uma circunstância excepcional que vai ter que ser tratada com medidas excepcionais — afirma o governador.

Em meio à disputa de poder, Leite deve abrir mão de continuar no cargo. O governador gaúcho tem dito que, em um ano importante como o de eleições municipais, em 2024, o PSDB precisa de alguém com disponibilidade completa para liderar o partido, que vem sofrendo com derrotas eleitorais.

A sigla, que já teve 991 prefeitos em 2000, elegeu 512 em 2020 — uma queda de 36% em relação aos 801 eleitos em 2016. Elegeu 99 deputados federais em 1998, e hoje tem 14. Conquistou duas vezes a Presidência da República (1995-2002), mas não conseguiu ir para o segundo turno da eleição presidencial em 2018 e em 2022.

Os candidatos
  • Tasso Jereissati, ex-governador do CE: Ex-presidente do PSDB, o ex-senador tem o apoio de Eduardo Leite. Em 2022, chegou a cogitar a pré-candidatura ao Planalto. À época, fez um pacto de não agressão com Leite. Desistiu da disputa em favor do gaúcho.
  • Marconi Perillo, ex-governador de GO: É próximo de Aécio Neves. Em 2017, quando o PSDB enfrentava uma crise interna, foi um dos caciques a defender a permanência de Aécio Neves na presidência. O mineiro sofria pressão para renunciar ao posto.
  • Reinaldo Azambuja, ex-governador de MS: Eleito no último sábado presidente estadual do PSDB do Mato Grosso do Sul, o ex-governador e ex-deputado federal é próximo ao grupo de Leite, que tem citado seu nome como cotado para presidir a legenda nacionalmente.
  • Adolfo Viana (BA), líder na Câmara: Deputado federal, está na lista de nomes apoiados por Aécio Neves para comandar o diretório nacional do PSDB. No ano passado, foi um dos tucanos a declarar apoio à reeleição de Jair Bolsonaro.

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