Tarcísio pede levantamento de cargos a secretários e acata indicações da base na Alesp

Troca de comissionados que ainda eram ligados ao PSDB deve acontecer nas próximas semanas

Tarcísio de Freitas

Gustavo Côrtes - Estadão

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), prepara uma série de trocas em cargos de terceiro e quarto escalões para acomodar indicados de deputados estaduais da base. No início de agosto, durante uma reunião com seus secretários, queixou-se do elevado número de figuras ligadas às gestões do PSDB nesses postos e anunciou que, nas próximas semanas, deve trocá-los. O governo foi procurado para comentar a movimentação, mas não se manifestou.

Tarcísio pediu que todas as pastas levantassem os nomes e os padrinhos políticos de cada servidor comissionado. No último dia 29, o coronel Edilson José da Costa, número 2 da Casa Civil, enviou uma mensagem no grupo de WhatsApp que reúne todos os secretários-executivos da gestão e exigiu que enviassem, até o fim daquele dia, as informações.

Junto com a ordem, mandou um modelo de planilha que continha as colunas “cidade”, “cargo” e “valor”, na qual constariam os vencimentos mensais. Devido ao atraso na entrega da tabela por parte de alguns secretários, a lista completa com os nomes só chegou às mãos do chefe da Casa Civil paulista, Arthur Lima (PP), na semana passada.

Serão abertos aproximadamente 100 cargos. A manutenção de quadros ligados aos governos tucanos é uma das principais críticas de parlamentares da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) à gestão de Tarcísio. Alguns integrantes do Palácio dos Bandeirantes vinham se esquivando destas cobranças sob o argumento de que, se tais trocas fossem efetuadas logo de partida, haveria uma paralisia da máquina.

Passados quase nove meses de mandato, a avaliação é de que já existe uma compreensão suficiente do funcionamento das estruturas internas do governo para promover mudanças. A expectativa é que, já no fim desta semana, metade das demandas dos parlamentares tenha sido atendida.

Um dos grupos que será contemplado é a ala bolsonarista da Alesp, insatisfeita com o atual nível de representação no Executivo Paulista – os secretários de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e da Mulher, Sonaira Fernandes, ex-assessora do deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Deputados de primeiro mandato, que ainda não tinham apadrinhados em cargos do Executivo também vão ganhar espaço no governo paulista.

Os cargos oferecidos não são os de maior poder político e institucional, mas garantirão a quem os assumir capacidade de operar programas na ponta, a exemplo de superintendências regionais do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) e do comando de algumas Agências Metropolitanas, vinculadas à secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação. Estes postos são considerados estratégicos, pois estão associados a entregas de obras e implantação de projetos capazes de gerar dividendos eleitorais.

As nomeações fazem parte de um plano de Tarcísio para aumentar a mobilização de sua base e tirar da fila uma série de projetos prioritários. A reforma administrativa, que prevê a redução de 10 mil cargos comissionados e a normatização de remuneração de servidores, faz parte deste pacote, assim como a emenda que reduz de 30% para 25% o percentual obrigatório de investimentos do Estado em Educação e libera mais recursos para a Saúde.

O governo pretende ainda aprovar um projeto que amplia as atribuições da Controladoria Geral do Estado (CGE) e o Transaciona SP, que permitirá o parcelamento de débitos inscritos em dívida ativa em prazos mais longos e o oferecimento de descontos naqueles considerados “irrecuperáveis ou de difícil recuperação”.

Segundo auxiliares, antes mesmo de todas as nomeações serem efetuadas, já é possível notar a melhora da relação com a base parlamentar. Na última terça-feira, 5, um dia depois de Tarcísio se reunir com deputados e comentar sobre a intenção de acatar as indicações, foi aprovado o projeto de reajuste das taxas processuais do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

O texto, proposto pela própria Corte, mas patrocinado pelo Palácio dos Bandeirantes, não pôde ser votado dias antes por falta de quórum.

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