Pressão do “Centrão paulista” sobre Tarcísio ameaça cota de Kassab

Partidos que só apoiaram Tarcísio no 2º turno cobram cargos para virarem base e auxiliares do governador apontam “gordura” na cota do PSD

Tarcísio e Kassab

Bruno Ribeiro e Juliana Arreguy - Metrópoles

A pressão de bancadas que compõem uma espécie de “Centrão paulista” na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) por cargos no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) expõe a fragilidade da base de apoio ao governador e virou uma ameaça ao espaço que o PSD de Gilberto Kassab conquistou dentro da máquina paulista.

Além da Secretaria de Governo comandada por Kassab, responsável pela articulação política, o PSD tem o controle de outras três pastas robustas — Educação, Habitação e Saúde — que detêm, juntas, o controle de R$ 84 bilhões, cerca de um quarto do Orçamento do Estado.

Nos últimos meses, partidos como União Brasil, PSDB e MDB têm cobrado espaço no governo Tarcísio para aderirem à base governista na Alesp, que hoje não consegue levar com tranquilidade o mínimo de 48 votos necessários para aprovar um projeto de lei na Casa. Juntas, essas bancadas somam mais de 20 deputados. Todos só apoiaram o governador no segundo turno de 2022.

Tarcísio já percebeu a fragilidade de sua base, evidenciada em duas votações de projetos do governo primeiro semestre – o reajuste salarial das polícias e autorização para empréstimo destinado ao trem regional —, mas já avisou que não cederá áreas consideradas da sua cota pessoal, como as secretarias de Desenvolvimento Econômico, Gestão, Infraestrutura e Parcerias.O governador tem dito aos aliados que pretende manter uma relação com os deputados estaduais pautada pela liberação de emendas parlamentares ou pelo atendimento de demandas específicas, como obras em redutos eleitorais, sem abrir porteira para o loteamento político.

Mas como a pressão por cargos continua e o governo não tem a segurança de que terá uma base confortável para aprovar projetos ainda mais desafiadores no futuro próximo, como a reforma administrativa e o remanejamento de recursos da Educação para a Saúde, auxiliares de Tarcísio têm dito nos bastidores que o espaço nos primeiros escalões precisa ser cedido pelo PSD de Kassab.

Na Alesp, deputados que querem cargos já reproduzem um discurso semelhante ao do Centrão da Câmara dos Deputados em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dizem que as bancadas do União, com sete deputados, e do PSDB, com nove, podem entregar mais votos do que os quatro parlamentares do PSD.

O União já fez chegar ao governo o desejo de controlar a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), que fica sob o guarda-chuva da pasta da Habitação, cota do partido de Kassab. Hoje, a estatal é comandada por quadros ligados ao ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que declarou apoio a Tarcísio no segundo turno mas não representa os anseios nem da bancada tucana na Casa.

Queixas do bolsonarismo

O amplo espaço de Kassab no governo Tarcísio, que o considera um aliado vital desde a pré-campanha de 2022, tem sido criticado há algum tempo pelos bolsonaristas do PL, partido que tem a maior bancada na Alesp, com 19 deputados.

Os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Assembleia paulista se queixam que há mais kassabistas do que bolsonaristas dentro do governo Tarcísio. Esse grupo passou a levar suas demandas políticas para o secretário da Casa Civil, Arthur Lima, braço direito do governador e bem quisto pelo bolsonarismo.

Nos bastidores, parlamentares e auxiliares afirmam que Arthur Lima e Kassab disputam poder dentro do governo Tarcísio. Ambos negam e dizem que mantém uma ótima relação de trabalho.

Segundo auxiliares de Kassab, a avaliação na Secretaria de Governo é que a relação com a base governista na Alesp é boa e que críticas a projetos do governo ou busca por espaço na máquina são naturais. Eles afirmam que Kassab não tem problema com nenhum deputado e que são alguns poucos parlamentares que têm restrições a ele.

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