PT racha e PSOL fica praticamente isolado na votação do Plano Diretor em São Paulo

Partido de Boulos não consegue unificar esquerda e movimentos de moradia contra prefeito


Os vereadores do PT de São Paulo trocaram ataques públicos e votaram divididos na sessão que aprovou o novo Plano Diretor Estratégico (PDE) da capital paulista, nessa segunda-feira (26/6), na Câmara Municipal. Três parlamentares da legenda votaram contra o texto e cinco a favor.

Luna, Hélio Rodrigues e João Ananias votaram contra o texto. Senival, Jair Tatto, seu irmão Arselino Tatto, Alessandro Guedes e Manoel Del Rio a favor.

O vereador Jair Tatto e o colega Senival Moura chegaram a gritar um com o outro porque Tatto queria que Senival lesse uma nota da Executiva Municipal da legenda que recomendava a aprovação do texto.

“Eu quero a nota do partido”, gritou Tatto, quando Senival foi discursar. O colega respondeu pedindo calma.

Senival também se dirigiu à correligionária Luna Zarattini (na foto em destaque), que votou contra o texto, como uma “menina jovem que vai crescer muito” quando se viu contrariado pela parlamentar, o que resultou em acusações de machismo por aliados.

O PDE vigente, premiado internacionalmente, era visto como um legado deixado pelo então prefeito Fernando Haddad (PT). Agora, na avaliação de especialistas, o Plano Diretor foi tão modificado que dificilmente alcançará posição de destaque novamente.


Movimentos de moradia

Manoel Del Rio é advogado da Frente de Luta por Moradia (FLM), movimento de sem-teto que ocupa diversos prédios abandonados do centro da cidade.

O grupo vem negociando com a Prefeitura de São Paulo a inclusão de prédios no programa Pode Entrar. O projeto da gestão Nunes reforma prédios ocupados e os repassa aos movimentos. Atualmente, o edifício Prestes Maia, da FLM, passa por esse processo.

Diante da perspectiva de conseguirem mais espaço no Pode Entrar, Manoel Del Rio e seu movimento deram apoio ao governo Nunes.

Nunes busca desde o fim do ano passado construir alianças com movimentos de moradia. Ele prevê entregar cerca de 60 mil unidades habitacionais até o fim de sua gestão e assim tirar votos do deputado federal Guilherme Boulos (PSol), provável adversário do emedebista nas eleições de 2024.

Após a aliança com parte dos petistas e o apoio da FLM, metade dos ocupantes das galerias no plenário da Câmara Municipal durante a votação estava a favor do texto do prefeito. A outra metade, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), grupo do qual Boulos é coordenador, se manifestava contra.

Descontentamento com acordo

Arselino, Jair, Senival e Alessandro Guedes já haviam marcado uma guinada em direção a Nunes em dezembro do ano passado, quando os vereadores votaram “sim” ao projeto de lei do Orçamento para este ano, contrariando o histórico do partido de votar contra projetos do tipo.

Em troca, segundo aliados petistas, eles vêm recebendo o mesmo tratamento que políticos da base de Nunes no atendimento a pleitos ligados à gestão da cidade, como indicação de obras nas subprefeituras. Há expectativas de que, nos próximos dias, a gestão Nunes promova mudanças na Subprefeitura de Cidade Tiradentes para acomodar indicados do grupo, inclusive.

O quarteto é ligado ao deputado federal Jilmar Tatto (PT), irmão de Jair e Arselino, candidato derrotado à Prefeitura em 2020 e é descrito por Nunes como seu “amigo”.

Eles se aproximaram de Nunes nas eleições para o governo do Estado do ano passado, quando Lula, então candidato à presidência da República pelo PT, impôs ao diretório municipal paulistano aliança com o PSol para o pleito do ano que vem.

O acordo feito por Lula prevê que os petistas apoiem Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo, em 2024, o que os Tatto não querem. Para deixar claro o descontentamento, esse grupo petista evita dividir trincheiras ao lado de vereadores do PSol.

A saída do grupo foi construir o discurso de que os eventuais pontos negativos na revisão do PDE tinham de ser revertidos com base na negociação com o governo, o que Senival chamou de “redução de danos”, e não se opor à aprovação do projeto.

Uma parcela de militantes petistas na cidade, porém, condena veementemente a aproximação dos vereadores ao governo Nunes porque entende que o prefeito tem apoio já costurado com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Fonte: Metrópoles

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