Alckmin é o vice que mais ocupou a Presidência em seis meses de mandato

Como presidente em exercício, tem usado a caneta de titular para tomar decisões importantes

Geraldo Alckmin

Jeniffer Gularte - Brasília

Visto com desconfiança pela base petista ao ingressar na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, Geraldo Alckmin se tornou o vice-presidente que mais assumiu a Presidência da República no início de mandato desde a redemocratização. Com o giro internacional do titular, ele vai chegar ao fim do mês com 31 dias no posto, apenas um dia a menos que o vice de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão, ao longo de todo o primeiro ano do governo passado.

Na comparação com os outros ocupantes do posto, quem chega mais perto é José de Alencar — vice de Lula nos primeiros dois mandatos. Alencar ocupou a Presidência por 27 dias no primeiro semestre do segundo mandato do petista, em 2007.

Longe de ser um "vice decorativo", Alckmin tem usado a caneta de titular para tomar decisões importantes, como a prorrogação do prazo para que pessoas físicas possam adquirir carros com descontos. Na quinta-feira, diante da decisão do Banco Central de manter a taxa de juros em 13,75%, convocou uma entrevista coletiva e criticou o patamar, chamado por ele de “desnecessariamente elevada”.

O peso político do cargo também tem servido para turbinar os quadros do PSB, principalmente atraindo prefeitos de São Paulo — no sábado passado, esteve em Barueri na cerimônia de filiação do prefeito Rubens Furlan, que deixou o PSDB. Nos últimos dias, recebeu deputados e dirigentes partidários em seu gabinete para discutir eleições municipais. Uma das metas do PSB é ter candidatos próprios em quase todas as cidades da Região Metropolitana de São Paulo.

Ao deputado Jonas Donizete (PSB-SP), que preside a legenda no estado, Alckmin pediu ajuda na mobilização, indicou nomes de alvos que podem migrar para a sigla, especialmente ex-prefeitos, e demonstrou preocupação em meio ao cenário em que o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, e o PSD, do secretário de Governo, Gilberto Kassab, têm feito o mesmo movimento.

— Ele me pediu ajuda para conversar com as pessoas. Alckmin é um ativo que a gente tem, alguém que além de ter governado o estado de São Paulo agora tem a autoridade de ser vice-presidente. Ele nos diz que o partido que não tem força nos municípios depois pode ter dificuldade no plano nacional — disse Donizette ao GLOBO.

Ao receber deputados, Alckmin segue um roteiro semelhante. Faz uma avaliação da conjuntura política e tem em mãos um relatório com o resumo de recursos enviados e ações do governo direcionados à base do parlamentar. Quando esteve com Aliel Machado (PV-PR) na quarta-feira, citou as emendas e a quantidade de profissionais do Mais Médicos que alocados em Ponta Grossa, além de prometer que o deputado seria convidado para integrar a comitiva do vice em uma viagem ao Paraná, prevista para o dia 30 de junho. Avisar deputados da base quando ministros forem aos seus estados é uma determinação de Lula.

O vice tem aproveitado as conversas também para defender a federação entre PSB e PDT e argumentado que partidos com bancadas menores devem buscar alianças para lançarem candidatos a prefeitos e vereadores em 2024, sob pena de perderem força nos municípios.

— Ele nos aconselha a tentar diminuir o máximo de conflitos possíveis, fazer alianças onde for possível, para evitar duas candidaturas da base do governo — disse o deputado Max Lemos (PDT-RJ), ex-prefeito de Queimados e estimulado por Alckmin a tentar retomar o posto.

O vice se define como alguém que ajuda a construir pontes, avalia que a relação do governo com o Congresso tem melhorado, mas atribui o mérito do distensionamento dos últimos dias ao presidente Lula. Na semana que vem, vai a Portugal, a pedido do petista, para se reunir com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro António Costa.

Na terça-feira, antes de anunciar a prorrogação por mais 15 dias do prazo para que apenas pessoas físicas possam adquirir carros leves com os descontos entre R$ 2 mil e R$ 8 mil bancados pela União, Alckmin conversou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O programa aproximou o vice e o ministro. Embora tenha havido uma hesitação inicial da Fazenda com a medida do Ministério de Indústria e Comércio, que autorizou o uso de R$ 500 milhões em créditos tributários para a venda de carros com desconto, o sucesso da iniciativa reduziu as tensões.

Os feirões anunciados por montadoras nos finais de semana e a expectativa de que as empresas continuem praticando descontos animaram Alckmin a prorrogar a medida. Na avaliação de auxiliares do vice, o programa está tendo efeito na classe média, público sobre o qual o governo tenta vencer resistências.

Avesso a sentar na cadeira do chefe, dessa vez Alckmin sequer ocupou o gabinete presidencial no terceiro andar do Palácio do Planalto. Cumpre agenda das 8h às 20h, parte despachando da Vice-Presidência e parte do Ministério de Indústria e Comércio.

Período em que os vices ocuparam a Presidência nos primeiros seis meses de mandato
  1. Geraldo Alckmin - 2023 - 31 dias
  2. José de Alencar - 2007 - 27 dias
  3. José de Alencar - 2003 - 22 dias
  4. Marco Maciel - 1999 - 17 dias
  5. Michel Temer - 2011 - 16 dias
  6. Hamilton Mourão - 2019 - 16 dias
  7. Marco Maciel - 1999 - 13 dias
  8. Michel Temer - 2015 - 13 dias
  9. Itamar Franco - 1990 - 9 dias

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