Governo Tarcísio gasta R$ 136 mil com viagem de secretária para evento religioso

Sonaira Fernandes, da pasta de Políticas para as Mulheres, está em Genebra, na Suíça

Tarcísio de Freitas  e Sonaira Fernandes


O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai gastar R$ 135,9 mil com a viagem para a Suíça de Sonaira Fernandes, secretária estadual de Políticas para a Mulher, que participa de evento que propõe "ensinar os princípios bíblicos nas esferas de governo no mundo todo".

Além dela, diz o governo de São Paulo, em nota, viajaram também dois assistentes. Em uma primeira resposta, na segunda-feira (8), a gestão estadual se negou a informar os valores envolvidos. Nesta terça (9), deu novo posicionamento, com as cifras.

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De 6 a 10 de maio, Sonaira participará do "Uniting our Nations and Reconciling", do ministério Parlamento e Fé, fundado em 2009, pelo pastor argentino Luciano Bongarrá.

O objetivo, segundo descreve o próprio pastor em entrevistas, é o de levar "a mensagem do Senhor" aos que estão em posição de autoridade.

"Parlamento e Fé quer estabelecer em cada Congresso, cada município, cada lugar, cada prefeitura do mundo um homem de Deus para que possa transmitir a mensagem transformadora de Jesus Cristo", afirma Bongarrá, em vídeo.

Segundo o decreto que autorizou o afastamento, publicado no Diário Oficial estadual de 3 de maio, a secretária fará a viagem sem prejuízo dos vencimentos e das demais vantagens de seu cargo —ou seja, sem desconto salarial.

A coluna perguntou ao governo de São Paulo quais os gastos (passagens aéreas, alimentação, hospedagem), quem está custeando, qual a relação do conteúdo do evento com as atividades da pasta de Sonaira e se a ideia de espalhar os ensinamentos da Bíblia não colide com o princípio de que o governo tem que ser laico.

Em nota, a assessoria de comunicação da secretaria de Políticas para a Mulher disse que Sonaira será uma das palestrantes no painel sobre Direitos Humanos na conferência e que "apresentará as políticas públicas do Estado para a prevenção e o combate à violência doméstica, a saúde da mulher e o empreendedorismo feminino."

"O evento é um fórum de políticas públicas e reúne de lideranças de diferentes países para discutir soluções e trocar experiências sobre gestão pública, alinhada aos objetivos pactuados no âmbito das Nações Unidas", completa.

Evangélica, Sonaira é próxima de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com quem trabalhou, e tem atuação política alinhada aos valores do bolsonarismo. Nas redes sociais, já escreveu que "o feminismo mata mais do que guerras e doenças" e é "o grande genocida do nosso tempo".

Nos últimos anos, como vereadora da capital, apresentou projetos para proibição de cotas raciais em instituições públicas e privadas na cidade de São Paulo e para que o sexo biológico seja o único critério para participação de atletas em competições no município, excluindo, assim transgêneros de disputas esportivas.

Outros projetos dela incluem proibir a criação de banheiros unissex na cidade, o uso da linguagem neutra e o ensino sobre "ideologia de gênero" e orientação sexual nas escolas. Nenhum deles foi aprovado.

Fonte: Painel da Folha

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