Como as câmeras em uniformes reduziram o número de adolescentes mortos pela polícia
Gerar link
Facebook
Twitter
Pinterest
E-mail
Outros aplicativos
Estudo do Fórum Brasileiro de Segurança e do Unicef analisou o impacto do equipamento e de outros protocolos nas mortes cometidas por agentes no Estado de São Paulo
Ítalo Lo Re - Estadão
O uso de câmeras corporais por policiais militares de São Paulo, implementado de forma gradativa há três anos, reduziu em 62,7% as mortes decorrentes da intervenção de agentes em serviço entre 2019 e 2022. Em batalhões que já possuem a tecnologia, a queda chegou a 76,2%, mais do que o dobro da redução observada no resto da corporação (33,3%), segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 16, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Unicef (fundo da ONU para a infância).
As câmeras ajudaram a diminuir de forma expressiva os óbitos de adolescentes, que já vinham em queda, mas são considerados um ponto de alerta em São Paulo. Uma a cada três mortes por intervenção policial registradas em 2017 teve um jovem entre 15 e 19 anos como vítima – foram 171 ocorrências. Desde então, houve queda de 81,1% nesse indicador, com 34 óbitos nessa faixa etária contabilizados no ano passado. Hoje, menos de duas a cada dez vítimas são jovens, percentual mais próximo ao de outros Estados.
Especialistas afirmam que a redução também ocorreu por conta de medidas como a criação, pela PM, de uma comissão para analisar ocorrências de mortes por intervenção policial, mas foi impulsionada pela adoção das câmeras corporais (também chamadas de COPs ou bodycams). Eles reforçam que a política tem dado certo no Estado não só pela tecnologia em si, mas pelos protocolos para gestão e controle das imagens. A alta da letalidade policial no início deste ano, puxada por casos envolvendo policiais de folga, é alvo de atenção.
“É um resultado sem precedentes. Não há nenhum estudo, nenhuma avaliação de nenhuma polícia que tenha reduzido nessa proporção a letalidade provocada pela polícia. Os números são muito significativos”, disse Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Além dos dados locais, o grupo de pesquisadores analisou mais de cem estudos, em um período de seis meses, para construir do material.
Samira reforça que a adoção de câmeras corporais em São Paulo faz parte de uma tendência observada há pelo menos uma década, especialmente por forças de segurança pública de países como Estados Unidos Canadá e Reino Unido.
Os resultados, porém, não estão atrelados apenas à tecnologia, mas a medidas acessórias adotadas para propiciar o bom uso da ferramenta, principalmente levando em conta contextos locais. “Quando a gente fala de São Paulo, o número de adolescentes vítimas em decorrência de intervenções policiais é muito elevado, mais do que em outros Estados. Isso exige um nível de capacitação e de atenção.”
A pesquisadora destaca que o Estado foi pioneiro em adotar a gravação ininterrupta das imagens – em outros locais, a captação costuma ocorrer apenas quando o sistema é acionado por um agente ou uma central. Essa especificidade fez com que o programa Olho Vivo, implementado ainda na gestão João Doria, em 2020, dependesse menos de aspectos subjetivos.
“Não se pode assumir que a implantação da câmera no fardamento policial por si só vai dar resultados”, afirmou a pesquisadora. “Mas tem uma coisa que vários estudos mostram: o resultado do programa parece depender da adoção ou do cumprimento do protocolo.”
Como funcionam as câmeras usadas por policiais em SP
Até aqui, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), foram implementadas 10,1 mil câmeras corporais em São Paulo, distribuídas em 63 batalhões (quase metade do total) e unidades de ensino da Polícia Militar. O programa já atende toda a região metropolitana da capital paulista.
“O policial tem de acionar a câmera no momento do atendimento da ocorrência, mas ela não deixa de gravar quando não está acionada. O que muda é a qualidade da gravação e a captação do som ambiente”, explicou Samira. “Mas ela grava ininterruptamente, tanto que o policial pode tirar para ir no banheiro, para fazer refeição, justamente porque ela está gravando de maneira ininterrupta.”
Além disso, os vídeos de rotina permanecem arquivados por um período menor (90 dias), enquanto os vídeos intencionais ficam arquivados por um ano. Os materiais que são compartilhados com usuários ou órgãos cadastrados no software de gestão das COPs permanecem arquivados por três anos.
Comentários
Postar um comentário