Bolsonaro participou de telefonema sobre ofício para resgatar joias apreendidas

Ex-chefe de gabinete de documentação histórica da Presidência contou à PF que o ajudante de ordens colocou a ligação no modo viva-voz e pediu para que ele explicasse ao Presidente da República sobre negativa de assinatura em oficio

Bolsonaro e Mauro Cid

Bruno Tavares, Andreia Sadi e Patricia Marques - g1

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de um telefonema sobre um ofício feito pelo seu braço-direito, Mauro Cid, para tentar resgatar as joias de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, disse um ex-funcionário da Presidência da República à Polícia Federal.

No depoimento, segundo o blog apurou, o ex-chefe de gabinete de documentação histórica da Presidência, Marcelo da Silva Vieira, contou que, em dezembro de 2022, Cid pediu para ele assinar um ofício que seria enviado à Receita para solicitar incorporação dos bens aprendidos pela presidência.

As tratativas todas ocorreram por WhatsApp, e não por vias oficiais.

Mauro Cid enviou ofício para Vieira em 27 de dezembro, às vésperas de Bolsonaro deixar o governo e partir para os Estados Unidos, e em meio à operação casada entre o gabinete de Bolsonaro e a chefia da Receita Federal para recuperar as joias (veja mais abaixo).

Vieira se negou a fazê-lo.

Depois da negativa, os dois falaram ao telefone sobre o assunto – Vieira disse à PF não se lembrar quem fez a ligação.

Durante o contato, Vieira contou à PF que "Mauro Cid colocou a ligação no modo viva-voz e pediu ao declarante para que explicasse ao Presidente da República essa situação e por que não poderia assinar."

Vieira afirma, então, que deu explicações técnicas sobre a impossibilidade e que Bolsonaro disse "ok, obrigado."

Vieira era chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH). Sua função era revisar o que poderia ser aceito como presente para o acervo privado presidencial ou não. Ele estava no órgão desde 2017, quando Michel Temer (MDB) era presidente - e foi exonerado do cargo em janeiro de 2023, assim como outros funcionários do governo, quando Lula (PT) assumiu a presidência.

O blog procurou o advogado de Bolsonaro, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

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