Armínio Fraga: ‘Perna fiscal do tripé macroeconômico precisa ser reconstruída’

Para o ex-presidente do Banco Central, o regime de metas de inflação do Brasil tem se saído bem diante dos últimos testes pelos quais passou

Arminio Fraga

Eduardo Rodrigues, Thais Barcellos e Caio Spechoto - Estadão

Em sessão temática no plenário do Senado sobre “juros, inflação e crescimento”, o ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, disse nesta quinta-feira, 27, que o regime de metas de inflação brasileiro tem passado por fortes testes e se saído muito bem. Ele pediu, no entanto, esforço na reconstrução da perna fiscal do tripé macroeconômico.

“O BC tem flexibilidade para suavizar os ciclos de aperto para atingir as metas definidas pelo governo. Mas o BC não faz milagre, não vai melhorar a educação ou reverter a tendência do desmatamento. Hoje claramente temos um BC sobrecarregado”, destacou.

Para o ex-presidente da autoridade monetária, é preciso haver colaboração da política fiscal com o trabalho da política monetária. “Claramente o BC precisa de ajuda”, alertou. “A perna fiscal do tripé macroeconômico precisa ser reconstruída”, acrescentou.

Nesse sentido, ele elogiou o trabalho dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, presentes na sessão. Segundo ele, os ministros têm tomado decisões no sentido correto, apesar de pressões políticas contrárias dentro do próprio governo.

“A coragem de vocês será recompensada”, disse aos ministros. “Todos sabemos o mal que uma política fiscal ou regulatória irresponsável, inconsistente e imprevisível faz para a economia. Precisamos olhar para o médio e longo prazo com sangue frio, sabendo que acertar nessa área é fonte de crescimento”, avaliou.

Para Fraga, é necessário caminhar no sentido de um resultado primário maior. Ele criticou a ênfase do novo arcabouço fiscal na parte das receitas. “Na minha avaliação, o ajuste fiscal que precisa ser feito vai além do ajuste necessário para estabilizar a dívida. É imensa a necessidade de se revisitar as prioridades do gasto público no Brasil. O arcabouço está na direção certa, mas as metas são insuficientes”, avaliou.

O ex-BC alertou para o risco de uma nova crise econômica que, no limite, poderia levar a uma nova crise da democracia. “Se ano passado foi o ano da democracia, esse ano precisa ser o ano da economia”, concluiu.

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