A disputa pelo poder no Palácio dos Bandeirantes

Secretários duelam por posto de braço-direito de Tarcísio em São Paulo

Tarcísio, Arthur Lima e Kassab

Por Guilherme Caetano e Bianca Gomes - O Globo

O início da gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem sido marcado por uma disputa de espaço entre seus dois principais auxiliares: Arthur Lima, chefe da Casa Civil, e Gilberto Kassab, que comanda a secretaria de Governo (Segov). Para medir forças na nova gestão, eles vêm travando um embate pelo posto de número 2 de Tarcísio, relatam servidores e integrantes do alto escalão do governo. A situação mais emblemática aconteceu no início do ano, quando Lima mandou cancelar uma reunião de Kassab com os prefeitos paulistas. O chefe da Casa Civil se irritou com o fato de não ter sido avisado sobre o evento, segundo interlocutores.

Homem de confiança de Tarcísio, Lima tem centralizado funções e atuado para frear a influência de Kassab. Pessoas próximas ao governador dizem que qualquer nomeação passa antes pelo crivo do chefe da Casa Civil.

Ele foi trazido de Brasília, onde presidiu a Empresa de Planejamento e Logística (atual Infra S.A), vinculada ao antigo Ministério da Infraestrutura, que tinha Tarcísio à frente. Kassab, por sua vez, é presidente do PSD, foi prefeito de São Paulo e ministro nas gestões Dilma Rousseff e Michel Temer.

Em novembro, na transição, Tarcísio havia dito que sua Casa Civil, tradicionalmente responsável pela articulação política do governador, seria incumbida de “promover resultados, arbitrar conflitos e ter efetividade nas políticas públicas”, enquanto a pasta entregue a Kassab, a Secretaria de Governo, cuidaria da “interface política”.

No entanto, Tarcísio passou a inserir Lima nas reuniões com Kassab e parlamentares para ajustar a relação com o Legislativo. Na terça-feira, os três receberam a bancada do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para debater o início dos trabalhos.

Mas a falta de conhecimento sobre a máquina paulista e o perfil articulador de Kassab tem atrapalhado Lima — os deputados têm encaminhado demandas diretamente para o secretário de Governo.

Kassab nega qualquer turbulência na relação — chama os relatos de “fofoca” — e diz que a relação com o chefe da Casa Civil é “fraterna”. Questionado se a interlocução direta dos deputados estaduais com ele próprio estaria desagradando a Lima, ele disse incentivar que “todos os secretários conversem com a Alesp”.

— Concentrar tudo em um só secretário deixa as ações morosas. Não quero exclusividade — afirmou.

A centralização de Lima, dizem fontes, tem atravancado algumas ações governamentais. Integrantes da Secretaria de Políticas para a Mulher atribuem a ele a paralisação da pasta, que sequer tem CNPJ e, por isso, não consegue firmar convênios nem parcerias. São apenas quatro servidores nomeados até o momento.

A situação é motivo de insatisfação da secretária Sonaira Fernandes (Republicanos), que vem notificando a Casa Civil desde janeiro atrás de resolução, segundo um aliado.

Outro ponto de atrito tem sido as nomeações para segundo e terceiro escalões e órgãos estaduais, disputadas por ambas as pastas.

Procurado, Lima afirmou que a “articulação política é de competência do Kassab e concordamos reiteradamente com isso”:

— Não há nenhum ruído. À Casa Civil, compete unicamente a parte técnica. Enquanto a Secretaria de Governo olha para fora, a Casa Civil olha para dentro.

Alas em choque

A disputa envolve também o Republicanos, insatisfeito com o espaço relegado ao partido. Tarcísio nomeou como assessor técnico da Casa Civil o pastor Sergio Fontellas, ex-presidente do diretório estadual da sigla, como forma de equilibrar as forças. A nomeação incomodou Lima, integrante da “ala brasiliense” do governo, que abarca as pessoas de confiança trazidas por Tarcísio da capital federal, como os secretários Rafael Benini (Parcerias em Investimentos), Natália Resende (Meio Ambiente e Infraestrutura) e Laís Vita (Comunicação).

O grupo é visto com desconfiança pelos bolsonaristas do governo e disputa espaço com as indicações de Kassab e Guilherme Afif Domingos (PSD), secretário especial de Projetos Estratégicos e o principal mentor de Tarcísio na campanha eleitoral.

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