Prefeito de São Paulo busca alternativas para viabilizar a tarifa zero

Opções de Ricardo Nunes para pôr o transporte gratuito em prática são restringi-la a inscritos no CadÚnico ou liberá-la só nos fins de semana e em algumas linhas

Prefeito Ricardo Nunes

Bianca Gomes e Gustavo Schmitt - O Globo

Diante da dificuldade de colocar de pé a tarifa zero na cidade de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) já estuda um plano B — e até um C — para não ficar de mãos atadas em 2024, quando vai disputar a reeleição. A implementação do transporte gratuito na cidade se tornou a principal aposta de Nunes para a reeleição. Embora desfrute de um acúmulo de caixa nunca antes visto na história da cidade, de R$ 26 bilhões, o prefeito paulistano carece de uma marca para chamar de sua no próximo pleito.

Embora a ideia seja bem vista por correligionários do prefeito, todos admitem a dificuldade de executá-la. É preciso que toda a infraestrutura de transportes esteja preparada para um aumento substancial na demanda por ônibus.

Em outras palavras: a cidade provavelmente precisará aumentar o número de corredores, expandir a frota de ônibus e ampliar os terminais. Tudo isso precisaria ser colocado em prática até dezembro, de modo a afastar acusações, especialmente por parte da oposição, de uso da máquina em ano eleitoral.

Além disso, é necessário negociar subsídio com o governo federal e acertar a situação do metrô com o governo de São Paulo, que se mantivesse o funcionamento pago poderia perder público e arrecadação. Diante da complexidade da proposta, há outras opções sendo estudadas pela equipe de Nunes. Uma das ideias aventadas é a implementação da gratuidade apenas para as famílias inscritas no CadÚnico — um universo menor e tido como mais viável de atender.

Estabelecendo este recorte, o prefeito estaria priorizando as pessoas que são mais afetadas pela alta da tarifa, dizem seus aliados. Ele ainda poderia, em sua plataforma eleitoral, prometer a expansão da gratuidade para outros públicos ao longo de um segundo mandato.

Uma das prioridades de Nunes é se aproximar do eleitorado de baixa renda da cidade, que vota prioritariamente em candidatos da esquerda. Além da tarifa zero, o prefeito aposta na pauta da habitação para alavancar sua candidatura.

Outra opção para viabilizar a tarifa zero é deixar a catraca livre aos fins de semana, o que ajudaria inclusive a incentivar o turismo na cidade. Neste caso, afirmam pessoas próximas ao prefeito, a principal vantagem é não sobrecarregar o transporte público, já que aos sábados e domingos o fluxo de passageiros é menor. Uma das preocupações com a tarifa zero “universal” é que a medida resulte em superlotação nos ônibus e afete a percepção de qualidade do serviço prestado, o que seria prejudicial ao emedebista.

Há também, no entorno de Nunes, quem defenda testar a gratuidade total apenas em algumas linhas da cidade, uma espécie de piloto que possibilitaria medir os ganhos e perdas da tarifa sem custos.


Estudo atrasado

Nunes encomendou à SPTrans um estudo para avaliar a viabilidade jurídica e financeira da proposta. Os resultados seriam divulgados no mês passado, o que não ocorreu.

— O estudo da SPTrans ficou para o fim de fevereiro, mas vamos precisar ainda de outros estudos, por exemplo sobre o aumento da demanda e seus impactos — admite o prefeito de São Paulo. — A tarifa zero é uma questão complexa. São dois contextos diferentes: o acesso ao transporte para quem mais precisa e o incentivo ao transporte coletivo.

Nunes disse que tem feito conversas com Marco Antonio Assalve, secretário dos Transportes Metropolitanos, sobre como ficaria a integração com o metrô. O GLOBO apurou que, dentro do governo do estado, a tarifa zero é vista como difícil de ser viabilizada.

Em relação à infraestrutura, o prefeito afirma que fez a concessão de terminais e deve construir mais cinco estações. Mas há outras obras que não dependem só da prefeitura: a licitação para o corredor BRT Radial Leste, por exemplo, foi interrompida pelo Tribunal de Contas do Município, cita Nunes.

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