Cobrança foi feita por pastor Arilton Moura com aval de pastor Gilmar Santos, ambos com acesso ao ministro da Educação, Milton Ribeiro
Gilmar (em pé) e Arilton no gabinete do MEC
Julia Affonso e Renata Cafardo - O Estado de S.Paulo
Os pastores que operam o gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC), Gilmar Santos e Arilton Moura, atuavam de forma coordenada na cobrança de contrapartida para intermediar a liberação de recursos para escolas. Segundo relato de prefeitos ao Estadão, a abordagem era feita na hora do almoço. Logo após levar os prefeitos a reuniões no MEC, Arilton puxava uma conversa informal e chegava a oferecer desconto na propina que cobrava.
O prefeito de Bonfinópolis (GO), Professor Kelton Pinheiro (Cidadania), contou ao Estadão que Arilton Moura ofereceu um abatimento de 50% no pedido de propina. O prefeito relatou que a proposta de Moura foi feita durante um almoço, no restaurante Tia Zélia, em Brasília, e teve o aval do pastor Gilmar Santos, líder da igreja Cristo para Todos.
"(Arilton) falou: 'vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil'", disse o prefeito.
O encontro no restaurante, segundo o prefeito de Bonfinópolis, ocorreu após reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, na sede da pasta. Kelton Pinheiro contou que ele e a mulher almoçaram na companhia de Gilmar Santos. O pastor Arilton Moura, narrou o prefeito, se aproximou deles depois de ter passado por outras mesas.
"Sentou do meu lado, em um dos lados da mesa, falou: 'olha prefeito, eu vou ser direto com você. Tem lá um recurso para liberar com ministro, mas eu preciso de R$15 mil hoje'", afirmou Arilton Moura, segundo o prefeito.
"O discurso dele que ainda me deixou mais chateado foi: 'eu preciso desse pagamento hoje, porque vocês políticos não têm palavra, vocês não cumprem com o que prometem. Depois eu coloco o recurso para você lá e você nem me paga'."
Ainda segundo Pinheiro, Arilton Moura disse que os R$15 mil seriam usados para custear despesas dele em Brasília. Em seguida, contou o prefeito, o pastor propôs um desconto de 50% na propina. Kelton Pinheiro disse que Gilmar Santos apoiou o pedido do pastor Arilton, falando que seu colega era "amigo do ministro" e conseguiria o recurso. "Faz mais barato para ele mesmo, pastor", disse Gilmar Santos, segundo o prefeito. "Estimulou (o pedido de dinheiro)."
Kelton Pinheiro relatou ao Estadão que Arilton Moura propôs ainda uma contribuição para a igreja. "Se você quiser contribuir com a minha igreja, que eu estou construindo, faz uma oferta para mim, uma oferta para a igreja. Você vai comprar mil bíblias, no valor de R$ 50, e você vai distribuir essas bíblias lá na sua cidade. Esse recurso eu quero usar para a construção da igreja", disse o pastor, segundo o prefeito. "Fazendo isso, você vai me ajudar também a conseguir um recurso para você no Ministério."
O prefeito disse ter ficado "indignado" e não aceitou a proposta. "O cara está sentado do lado do ministro, um à direita, o outro à esquerda. Saem da reunião e vêm com essa conversa", reclamou. "A vontade que eu tive ali foi de mandar ele para o quinto dos infernos."Arilton, Gilmar e também o ministro da Educação, Milton Ribeiro, passaram a ser alvo de investigação do Ministério Público Federal após o Estadão revelar esquema de corrupção na pasta. Três prefeitos já disseram ao Estadão ter recebido pedidos de dinheiro pelos pastores. O prefeito Gilberto Braga, do município de Luís Domingues (MA), relatou ao jornal que o pastor Arilton, na presença de Gilmar Santos, líder da igreja Cristo Para Todos, teria cobrado propina em ouro para facilitar acesso ao ministério.
Em entrevista à CNN Brasil, Milton Ribeiro admitiu que teve conhecimento de 'conversas estranhas' do pastor Arilton Moura, envolvendo recursos do Ministério da Educação, mas manteve reuniões com o religioso. O ministro disse que recebeu relatos e também uma denúncia anônima sobre pedidos de recursos feitos pelo pastor em troca de benefícios no MEC, em agosto de 2021. Ele disse que repassou o caso à Controladoria-Geral da União (CGU).
O ministro da CGU, Wagner Rosário, confirmou ao Estadão abertura de investigação em setembro do ano passado após solicitação de Ribeiro. Em nota, a CGU informou que sua apuração constatou “possíveis irregularidades cometidas por terceiros”, mas não de agentes públicos. O Estadão apurou que o investigado é o pastor Arilton. A Controladoria repassou o caso à Polícia Federal por haver indício de “oferta de vantagem indevida” para liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A CGU abriu uma nova apuração a partir das informações divulgadas pela imprensa.
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