Entrevista de Geraldo Alckmin ao jornal A Tribuna

O ex-governador fala de suas atividades como professor e médico, PSDB e futuro na política

ex-governador Geraldo Alckmin 

A Tribuna

Longe da mídia e dos holofotes desde 2018, quando concorreu a presidente da República e ficou em quarto lugar, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ganhou espaço generoso na imprensa local nesta semana, quando ministrou aula e foi homenageado pelo Congresso Médico Acadêmico da Unimes, realizado segunda e terça-feira, no Parque Balneário Hotel. Alckmin é professor no curso de Medicina da Unimes e da Uninove, na Capital.

O Magistério, a Medicina e o doutorado têm sido suas principais ocupações nos últimos três anos, mas essa rotina pode começar a mudar nos próximos meses, quando se define o curso da política para 2022 dentro de seu partido, o PSDB. Sondado pelo PSD, DEM e outros, o ex-governador descarta sair do partido que ajudou a fundar, e não esconde a disposição de enfrentar as prévias para definir quem sairá como governador, sua intenção para o próximo ano.

Geraldo Alckmin esteve no Grupo Tribuna antes de retornar à Capital, e foi recebido pelo diretor-presidente da TV Tribuna, Roberto Clemente Santini, e pela diretora de Marketing, Renata Santini Cypriano, além dos diretores de Jornalismo dos veículos do grupo.


ENTREVISTA

Há cerca de um mês, o ex-governador e ex-prefeito Márcio França disse que aguardaria uma definição sua para se posicionar com mais precisão sobre o futuro dele próprio. O que há nesse sentido?
Eu gosto muito do Márcio França. Nas pesquisas que tenho visto, ele é um fortíssimo candidato a governador, tanto no Interior, como no Litoral e na Grande SP. Tem todas as condições de ser candidato, é generoso e amigo, para dizer que tenho prioridade quando ele também tem. Isso aumenta minha responsabilidade.

Ele seria seu vice novamente?
Então, seria indelicado eu dizer isso, porque ele tem estatura, preparo e experiência para ser candidato a governador. Mas eu gostaria muito de estar junto com o Márcio França. Gosto do Márcio, foi meu companheiro de chapa por quatro anos, foi candidato a governador e perdeu por uma diferença de 3%.

O senhor tem manifestado intenção de sair candidato a governador de São Paulo em 2022. Seria pelo PSDB mesmo? Se não houver consenso dentro do partido, o senhor iria para as prévias?
Eu sou a sétima assinatura na fundação do PSDB, então, seria muito triste ter que sair do partido. Eu vou aguardar para ver como é o sentimento do partido, como as coisas vão se processar. Sem pressa. A decisão não é agora. Vamos aguardar a questão nacional, o modelo de prévias. Os próximos dois meses serão fundamentais nessas definições.

Que leitura o senhor faz da foto que viralizou nas redes sociais, semana passada, entre os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula?
Foi apenas um encontro de ex-presidentes que acabou tendo uma conotação político-eleitoral. O objetivo não era esse. É evidente que Fernando Henrique apoiará o candidato da terceira via. Não vai apoiar Lula nem Bolsonaro. Segundo turno é outra eleição, e nós temos o dever de trabalhar para ter outra opção para além de lulismo e bolsonarismo. E acho que o Fernando Henrique também estará nessa posição.

Como é, hoje, sua relação com o governador João Doria?
Eu o ajudei quando ele precisou, dei a mão pra ele se viabilizar candidato a prefeito de São Paulo. Mas a gente não faz as coisas esperando retribuição. Naquele momento, achei que ele poderia ser um bom prefeito de São Paulo, que era o que ele se propunha, mas não fiz em troca de nada. Não tenho nenhum problema com ele. Pelo que tenho lido, ele pretende ser candidato a presidente da República. É legítimo que um governador de São Paulo queira aspirar a Presidência, não vejo nenhum problema.

O fato do vice-governador, Rodrigo Garcia, ter saído do DEM e migrado para o PSDB, em um movimento para torná-lo sucessor do atual governador em 2022, o surpreendeu?
O que eu acho anti-natural é uma pessoa que está há 20 anos em um partido entrar em outro partido exclusivamente para ser candidato. Claro que não é algo natural. Isso tem o objetivo nítido de impedir o PSDB de ter candidato e alguém tucano ser candidato. Mas não tem importância, isso a gente supera. O importante é o povo. A melhor parte da política é o povo, é ouvir o sentimento da população, que é o que estou fazendo.

O senhor estava governador quando, em 2015, o Estado viveu uma grande crise hídrica. Que obras deveriam ter sido feitas para evitar que essa crise retornasse agora?
Havia uma vulnerabilidade grande porque a região metropolitana era muito dependente do Sistema Cantareira, e a reservação desse sistema é pequena para uma região com 26 milhões de habitantes. Então, interliguei bacias, Billings para Guarapiranga, transposição do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira, transposição do Rio Ribeira para a região metropolitana, fora o Projeto Nascentes, com 30 milhões de mudas nativas. Esse programa foi tão bem-sucedido que nós passamos um ano de pandemia, com um gasto maior de água, sem problemas.

Mas a crise voltou..
Sim, mas nós precisamos estar preparados porque as mudanças climáticas vieram para ficar. Há uma preocupação hoje com a energia elétrica e com a dependência das hidrelétricas. Algumas usinas do Rio Grande já estão sofrendo com a baixa do rio. As obras que fizemos e entregamos foram fundamentais porque reduziram as vulnerabilidades do sistema.

A CPI da Covid tem estado diariamente na mídia. Que expectativa o senhor tem em relação ao desfecho?
Uma das tarefas do Legislativo é fiscalizar, é natural que o Senado queira fazer isso. O que pode ficar evidente é que o Governo não tomou as providências, no momento adequado, para a aquisição das vacinas. Não houve ação no momento certo. Acho, também, que devemos nos preparar para no futuro termos vacina nossa. O Brasil tem tamanho e competência para isso. Só precisa ter dinheiro. As pandemias por vírus têm sido frequentes. Precisamos estar preparados.

O que dá mais prazer ao senhor: ser professor, médico ou político?
São três paixões. Adoro dar aula, fui professor de Química em cursinho. Adoro a Medicina, porque é gostar de gente. A política tem um lado apaixonante porque você pode fazer para mais pessoas. Na vida, não basta viver, é necessário conviver e participar. Precisamos resgatar a boa política com amor ao próximo. A melhor parte da política é o povo, e eu gosto de gente.

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