O PSDB e o terceiro vértice na política brasileira

Partido precisa decidir se quer assemelhar-se cada vez mais às siglas do Centrão ou liderar uma agenda para o Brasil



Luciana Veiga*, Steven Ross** e Anselmo Rodrigues*** - Folha.com


O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) é um partido político que nasce de centro, fundado em 1988 por um grupo político que tinha como um dos seus líderes Mario Covas, ex-governador do estado de São Paulo.

O partido surgiu da combinação entre a social-democracia, a democracia cristã e o liberalismo econômico e social.

Em 1989, recém-criado, havia alcançado 11,51% dos votos e, desde então, teve candidatos nas oito eleições presidenciais da Nova República.

Liderou com o Partido dos Trabalhadores (PT) em seis delas, tendo vencido duas –ainda no primeiro turno– e perdido quatro.

O seu pior desempenho aconteceu em 2018, quando obteve 4,76% dos votos válidos, ficando fora do segundo turno.


A VOLATILIDADE DO VOTO NO PSDB

A partir de pesquisas pós-eleitorais referentes ao projeto Estudos Eleitorais Brasileiros (ESEB), mediante análises estatísticas, visamos entender a volatilidade do voto no PSDB entre 2010, 2014 e 2018.

Por meio da análise, identificou-se que a chance de um eleitor do PSDB para presidente em 2010 repetir a sua escolha em 2014, em vez de apoiar outro, foi acrescida em 53%.

Todavia, entre 2014 e 2018, tal chance decresceu em 96%. Ainda que intuitivamente todos saibam que houve uma revoada de votos do PSDB, sobretudo, para Jair Bolsonaro em 2018, não deixa de ser estarrecedor olhar para esses números.

Costuma-se dizer que a identidade partidária serve de âncora para evitar grande volatilidade de voto quando a legenda e o sistema partidário atravessam desafios e maus tempos.

O PSDB experimentou a falta que faz essa âncora em 2018. A afetividade partidária negativa, essa sim, deu o tom da eleição naquele pleito.

No campo da direita, a rejeição ao PT e a rejeição ao PSDB aumentaram respectivamente em 121% e 55% as chances de um eleitor votar em Bolsonaro em vez de votar em Geraldo Alckmin, ex-governador do estado de São Paulo.

No campo da esquerda, a rejeição ao PSDB aumentou em 219% a chance de um eleitor votar em Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito da cidade de São Paulo pelo PT, e não votar no candidato do PSDB, também conhecido como tucano, figura que identifica o partido desde 1988.

Ainda em 2018, alguns candidatos ao governo do estado pelo PSDB acharam por bem aproveitar a onda eleitoral bolsonarista para se eleger.

O tempo passou, e outro segmento de seus quadros se juntou aos partidos de centro, identificados como Centrão, para barganhar a presidência de comissão de seu interesse, entre outras vantagens, comportamento típico de partido coadjuvante e não protagonista como tem sido a tradição do PSDB.


O FUTURO DO PSDB

Cabe ao PSDB decidir qual projeto deseja daqui para a frente. Assemelhar-se cada vez mais aos partidos que compõem o Centrão –como um partido coadjuvante, pragmático, que se propõe a garantir sustentação a governos de diferentes ideologias em troca de fragmentação do poder– ou se quer o protagonismo de liderar uma agenda para o Brasil.

O caminho não é simples. Há uma polarização com duas lideranças que hoje contam de saída com a afetividade de aproximadamente 30% do eleitorado cada uma.

É uma má estratégia pensar que Luiz Inácio Lula da Silva está na esquerda, que Jair Bolsonaro está na direita e que o PSDB, juntamente com o Democratas (DEM) e outros aliados, pode se posicionar no centro. Lula tem se ocupado de alcançá-lo.

O PSDB precisa puxar um vértice e fazer dessa escala um triângulo.

O partido –se quiser disputar a eleição de 2022– deve considerar criar um campo triangular, ocupando uma das extremidades, claramente contra duas outras, de Bolsonaro e de Lula.

Lula e Bolsonaro já se posicionaram. Afinal, ambos têm ciência dos dados apresentados anteriormente: é parte constitutiva do voto no PT rejeitar o PSDB –agora também Bolsonaro–, e é parte constitutiva do voto em Bolsonaro rejeitar o PT e o PSDB.

Foi uma parte constitutiva do voto no PSDB no decorrer do tempo o sentimento de antipetismo, e o partido deve se posicionar quanto ao bolsonarismo.

Este artigo traz duas reflexões muito claras sobre se o PSDB vai investir em ser protagonista com uma agenda de respeito às instituições democráticas, às liberdades individuais, ao ambiente, à responsabilidade fiscal e a componentes de liberalismo econômico, com atenção aos imperativos de políticas públicas. E, se sim, sobre a necessidade de se posicionar na disputa nesses termos, puxando um vértice desta escala, transformando-a em um triângulo.

Não há garantia de sucesso eleitoral. Se houvesse, a escolha seria mais fácil. Mas está em jogo a decisão de buscar manter ou não o seu papel de protagonista na política brasileira pós-redemocratização.

*Luciana Veiga - Doutora em Ciência política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e professora da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

**Steven Ross - Estatístico, professor da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

***Anselmo Rodrigues - Mestre em ciência política pela Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

Comentários

  1. Otimo comentário... Assunto precisa de bastante resgate e aprofundamento.

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