Roda Viva: Ataques contra Covas revelam o despreparo de Boulos

O candidato do Psol criticou o prefeito porque havia 6,8 milhões de testes de Covid-19 estocados no aeroporto de Guarulhos. Boulos nem sabia que a responsabilidade pelos testes era do governo federal e não de Bruno

Guilherme Boulos e Bruno Covas

Na primeira parte do debate do programa Roda Viva desta segunda-feira (23), Bruno Covas (PSDB) respondeu sobre a composição de seu governo. Covas frisou que não falaria sobre a formação de sua futura equipe antes do final das eleições. Apenas reforçou que, caso eleito, formará seu governo ouvindo sugestões de integrantes da ampla frente que o apoiou nas eleições e que se ampliou no segundo turno.

No segundo tema, sobre as creches, Bruno reafirmou que, desde que assumiu a Prefeitura, bateu o recorde de criação de vagas. Segundo ele, foram criadas 85 mil vagas nas creches. Manifestou orgulho por ter chegado a esse recorde.

Entretanto, sua afirmação foi contestada. Uma jornalista lembrou que o recorde era de Gilberto Kassab (PSD), com mais de 100 mil vagas criadas.

Bruno Covas explicou que o número de Kassab correspondia a seis anos de gestão, enquanto o número de vagas nas creches, criadas em sua gestão, foi obtido em quatro anos.


DESCONHECIMENTO DA ADMINISTRAÇÃO

O candidato do Psol passou a primeira parte da entrevista explicando declarações suas sobre a crise da Previdência do município. Revelando desconhecimento sobre o assunto, ele criticara Bruno Covas e dito, numa sabatina realizada dias antes, que o problema do déficit da Previdência do município se resolve contratando mais funcionários, fazendo mais concursos.

Avisado por assessores de que essa medida, ao invés de resolver, agravaria o problema, Boulos voltou atrás e, cobrado no debate desta segunda, se corrigiu. “Eu me expressei mal naquele momento. Já me desculpei pelo que falei na sabatina”, disse ele. “Há uma questão da Previdência no país que tem que ser enfrentada”, acrescentou.

O debate sobre a Previdência tem sido constante, no país, desde o governo Fernando Henrique – e atravessou os governos Lula, Dilma e Temer, tornando-se feroz durante a infame “reforma da Previdência” de Bolsonaro.

Boulos, no entanto, parecia ignorar o tema, até a reação provocada por suas declarações, na atual campanha eleitoral, sobre a Previdência do município de São Paulo.


TESTES PARA COVID-19

O despreparo de Boulos também ficou exposto quando criticou o prefeito porque foram descobertos 6,8 milhões de testes diagnósticos de Covid-19 estocados no aeroporto internacional de Guarulhos.

Disse Boulos que os testes estavam lá, ao invés de serem distribuídos ao sistema de Saúde, por culpa da Prefeitura. Nas suas palavras: “os testes estão se perdendo no depósito, enquanto a administração pública municipal não faz o trabalho de testagem, que é necessário fazer para enfrentar a pandemia”.

No entanto, os testes são responsabilidade do governo federal – e estão se perdendo, armazenados no aeroporto, devido à negligência, imperícia e sabotagem do Planalto – isto é, de Bolsonaro e seu círculo – ao combate à pandemia pelos Estados e municípios. O Conselho de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) tem, inclusive, cobrado a liberação destes testes – e denunciou que eles vão perder a validade em janeiro.

Ao criticar Bruno por testes que o governo federal estocou e imobilizou, Boulos mostrou uma ignorância – e, aliás, falta de interesse em se informar de algo já noticiado amplamente – que dá razão a Covas, quando enfatizou o despreparo do adversário, ao dizer que Boulos não consegue distinguir entre dinheiro em caixa e recursos orçamentários disponíveis para gastar em investimentos. Não se pode, por exemplo, disse Covas, gastar o dinheiro do salário do funcionalismo em uma suposta “renda solidária”.


FALTA DE BASE

Guilherme Boulos teve que abordar o problema, levantado pelos entrevistadores, de como formar um governo com uma coligação pequena, que, mesmo com os apoios recebidos no segundo turno, tem uma bancada de apenas 17 vereadores na Câmara Municipal, num total de 55 legisladores.

O candidato do Psol respondeu que não terá problema em formar sua equipe, escolhendo quadros entre os seus apoiadores. Afirmou que vai fazer alianças programáticas e que, se eleito, vai contar com a vivência de seus vinte anos de militância no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e também com a experiência administrativa de Luiza Erundina.

Ao dizer que sua vice tinha sido a melhor prefeita de São Paulo, foi advertido pelos debatedores de que Luiza Erundina enfrentou muitos problemas em sua relação com a Câmara de Vereadores e que ela deixou o governo em 1992 com apenas 20% de aprovação.

Boulos disse que Erundina realmente teve problemas porque “teve muito boicote dos vereadores”, mas, mesmo assim, segundo ele, “deixou muitas marcas em sua administração”.

Depois que deixou a prefeitura, Luiza Erundina tentou algumas vezes retornar ao cargo – em 1996, 2000 e 2004 -, mas não conseguiu mais se eleger prefeita. Na última tentativa, em 2004, Erundina teve apenas 10% dos votos de Marta Suplicy, que hoje apoia Bruno Covas.


ATUAÇÃO NA PANDEMIA

Bruno Covas foi questionado sobre a atuação da Prefeitura no combate à pandemia de Covid-19 – e se ele não estaria subestimando uma possível segunda onda epidêmica.

O prefeito deu números da vigilância epidemiológica, mostrando que houve crescimento de internações, mas uma estabilidade no número de casos e de mortes.

Os dados, disse Covas, são transparentes: “A Prefeitura não age como o governo federal, que discorda e tenta manipular os dados do INPE para sustentar que não há desmatamento”, observou. “Não há nem o fim da pandemia e nem a fake news de que a Prefeitura estaria escondendo números de uma suposta segunda onda”.

Para Covas, uma vez que a pandemia não acabou, todos os cuidados devem ser mantidos. O aumento da taxa de ocupação dos hospitais, disse ele, se deve a um maior relaxamento do distanciamento social por parte da classe média alta.

Sobre a elevação da taxa de ocupação dos leitos, destacou que houve redução no número de leitos privados destinados à Covid-19, ao mesmo tempo que São Paulo tinha um aumento no número de pacientes originários de outros municípios.

Covas declarou que sabe como as mães e pais estão ansiosos pela volta às aulas, “até porque eu sou pai”. Mas, disse ele, “enquanto a vigilância epidemiológica não der a luz verde, as crianças não poderão voltar às aulas presenciais”.


ATAQUES À VACINA

Boulos voltou a criticar o governo do Estado de São Paulo pela defesa da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac.

Como se sabe – foi, aliás, um dos últimos escândalos de maior repercussão nacional -, Jair Bolsonaro disse que não compraria de jeito nenhum a “vacina chinesa”, desautorizou o ministro da Saúde, que havia assinado protocolo de intenções de compra do imunizante, e chegou a dizer, sem nenhuma prova, que a vacina do Butantan causaria “morte, invalidez e anomalias”.

A CoronaVac, portanto, foi claramente sabotada por Bolsonaro, que, inclusive, instrumentalizou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para interromper suas pesquisas no Brasil.

Entretanto, a defesa que Doria fez da vacina do Butantan foi caracterizada por Boulos como “baixaria e politização do tema”. Assim, o candidato do Psol colocou no mesmo nível quem defendeu e quem atacou a vacina.

Dois outros temas foram levantados, no debate do “Roda Viva”, em relação a Guilherme Boulos.

Em 2016, ele defendeu um quebra-quebra, em frente ao prédio da Fiesp, na Avenida Paulista. Na época, Boulos disse que entendia aquilo, porque a Fiesp apoiava o limite de gastos e era formada de bandidos. A frase foi lida por um dos entrevistadores, no debate de segunda-feira.

A outra questão foi a ocupação de uma área de proteção ambiental na Zona Sul da cidade, por integrantes do MTST. Na época, ele tentou justificar a ocupação, dizendo que não era toda a área preservada que fora invadida.

Durante a discussão deste tema, Boulos afirmou que, em vinte anos de ocupações, tinha conquistado 20 mil moradias. Contabilizou, aí, as ocupações feitas em todo esse tempo de sua militância nos movimentos de ocupação.

Fonte: Hora do Povo

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