'Me associar a Bolsonaro é desespero da campanha adversária’, diz Covas em entrevista a Lauro e Gabeira

Tucano reconhece ter dado pouco espaço a negros na sua gestão e nega planos de adotar medidas mais restritivas contra coronavírus na segunda-feira após a eleição

Bruno Covas ( PSDB ) é entrevistado por Fernando Gabeira e Lauro Jardim 
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Fernando Gabeira e Lauro Jardim - O Globo

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que tenta se reeleger, afirma que o morador da capital não deve esperar anúncios de medidas drásticas de combate ao coronavírus para a segunda-feira, dia seguinte à eleição. Nesta terceira entrevista com candidatos de Rio e São Paulo que disputam o 2º turno aos colunistas Fernando Gabeira e Lauro Jardim, o tucano reconhece ter dado pouco espaço a negros na sua gestão, e afirma pretender revitalizar a região central, com iluminação e segurança, para transformá-la em distrito cultural e de gastronomia.

Como é possível fazer uma campanha e simultaneamente tratar da questão Covid? Algumas medidas necessárias no combate a uma pandemia nem sempre são interessantes eleitoralmente. Como o senhor enfrenta esta situação?
Podem reclamar, discordar dessa ou daquela medida, mas em nenhum momento podem me chamar de omisso. Desde o início chamei para mim a responsabilidade de tudo o que acontece na cidade. Mostramos na última quinta-feira que, na quantidade de casos em relação a óbitos, estamos numa estagnação. Tivemos aumento nas internações, mas precisa levar em conta alguns dados. Há um aumento de pessoas internadas que são de fora da cidade de São Paulo. Tínhamos 13% de fora no início da pandemia, hoje são 20%. Houve desativação de leitos referenciados de Covid por hospitais privados. Chegamos a ter 31 leitos por cem mil habitantes na cidade, hoje estamos com 19,5 por cem mil habitantes. O que se percebe, e já tínhamos apontado (isso) há 30, 40 dias, é que as classes A e B, que tinham se protegido mais, voltaram a trabalhar e a confraternizar.

Está marcado um anúncio de novas medidas contra a Covid na segunda-feira em São Paulo. A população pode esperar no dia seguinte à eleição um aumento das restrições?
Não vai acontecer nada na pandemia de domingo para segunda que indique uma mudança de gestão. Estamos acompanhando os dados. A cidade está na fase quatro. Ainda que você tenha retrocesso, você não tem nenhuma mudança. Tudo o que pode estar aberto hoje na cidade, já poderia na fase três. Não há nenhuma necessidade de abastecer a casa para o dia 30, porque não há nenhuma ação que será tomada pela prefeitura no dia 30.

O assassinato de um cliente negro no Carrefour de Porto Alegre comoveu o país. No primeiro escalão da prefeitura de São Paulo não há nenhum secretário negro. Pretende mudar essa equação se vencer?
São 23 secretários; realmente, nenhum negro. Temos a primeira mulher negra comandando a Guarda Civil Metropolitana. Temos negros e negras como subprefeitos. Mas já no primeiro debate me comprometi a aumentar a presença de negros no primeiro escalão. A prefeitura cumpre uma legislação municipal de ter pelo menos 20% de negros e negras em cargos de confiança. Estamos com 21,5%, segundo o último levantamento. Mas a ausência (no primeiro escalão) é um negócio que também me incomoda. É um tema que, como não sofro na pele, tenho que aprender cada vez mais. Mas não tenha dúvida que reconheço a existência do racismo. Acho que já é um grande avanço, porque infelizmente alguns ainda estão nesse negacionismo de dizer que o racismo não existe no país.

Guilherme Boulos conseguiu reunir uma frente de esquerda motivada também pela necessidade de combater posições muito conservadoras do governo federal. A timidez em relação ao Bolsonaro não pode representar uma dificuldade especial para a sua candidatura?
Em diversas oportunidades eu fiz manifestações contrárias ao governo federal. Seja nos direitos humanos, na cultura, na área ambiental. Durante o governo Dilma eu era neoliberal. O pessoal do governo Bolsonaro me chama de comunista. Eu não quero ser candidato em 2022, quero ser prefeito por quatro anos. Prefeito tem que marcar suas posições, mas precisa trabalhar em parceria com os governos do estado e federal. Uma coisa são posições políticas, não tenho nenhuma vergonha em mostrar... Aliás, não foi por acaso que em 2018 não votei em Bolsonaro. Anulei meu voto. Não me sentia representado por nenhum dos dois projetos no segundo turno. Querer me associar à direita e querer me associar a Bolsonaro, para mim, é desespero da campanha adversária.

Como o senhor pretende fazer os investimentos que terá que fazer, se eleito? Pretende, por exemplo, ajustar ISS e IPTU?
Aqui na cidade de São Paulo fizemos nossa lição de casa. Fizemos a reforma da previdência municipal, que trouxe aos cofres, em 2019 e 2020, R$ 700 milhões. A relação dívida/receita que era de 97% no início da gestão caiu para 38% agora no segundo quadrimestre de 2020. A gente vem melhorando a situação fiscal do município. O ISS, não há nenhuma intenção em alterar, só que a gente agora depende da reforma que está sendo discutida em Brasília. Se aprovada do jeito que está, o setor de serviços, que hoje tem carga tributária em torno de 10%, vai ter carga de 22%, 23%, 24%. Então não há nenhuma intenção de aumento de ISS, mas a gente precisa discutir com cuidado essa reforma tributária, que nos próximos dez anos tira R$ 10 bilhões do orçamento da cidade.

Sinto que não foi possível ainda pensar em discutir o centro de São Paulo de forma mais estruturada. Como o senhor vê não só o problema da habitação, como as intervenções possíveis no novo centro de São Paulo?
Enviamos à Câmara um projeto que pega toda a região central para poder buscar também recursos privados para essa região. É uma região vocacionada à atração de eventos, para poder gerar emprego e renda na cidade. Uma área que tem toda infraestrutura, mas que depois das seis da tarde e nos finais de semana fica completamente abandonada e vazia. Estamos numa ação de revitalizar o calçadão, (ter mais) iluminação, mais segurança. A expectativa ali é ter o primeiro distrito criativo da cidade de São Paulo, com mais startups, mais áreas de gastronomia e culturais.

Qual foi seu grande erro como gestor?
Neste ano, teríamos investido muito mais. Uma das grandes obras era a construção de unidades habitacionais. Não foi possível, tivemos que remanejar recursos para a pandemia.


Comentários

  1. Na gestão tem 01 mulher negra em cargo de liderança que é a secretária executiva de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania.
    Na gestão foi aprovado o Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial, assinatura ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Reabertura dos Centros de Referência de Promoção da Igualdade Racial, Assinatura da Carta de Adesão Iniciativa Empresarial pela Igualdade, assinatura no Pacto pela Inclusão Social de Jovens Negras e Negros no Mercado de Trabalho de São Paulo, Programa Afro- Empreendedorismo , 1ª Virada da Consciência Negra, Acordo de Cooperação Técnica entre Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania e a Faculdade Zumbi dos Palmares, São Paulo Contra o Racismo entre outras ações

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