Bolsonaro ‘virou as costas para a cidade de SP’, diz Bruno Covas

Em sabatina com jornalistas do 'Estadão', prefeito e candidato à reeleição disse que governo federal reduziu repasses voluntários nos últimos dois anos

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas

Estado de S.Paulo

O prefeito e candidato à reeleição em São Paulo, Bruno Covas (PSDB), criticou a queda no repasse de recursos federais pelo governo Jair Bolsonaro à capital paulista e nacionalizou a campanha, durante a sabatina do Estadão para as eleições 2020 nesta quinta-feira, 15. Covas disse que Bolsonaro “virou as costas à cidade”, e que o presidente deve explicações pela diminuição no envio de recursos. A declaração serviu como crítica também a seu principal concorrente na disputa, Celso Russomanno (Republicanos), que é apoiado pelo presidente.

“O presidente podia aproveitar então, já que está dedicado e focado na campanha do Celso Russomanno, (para explicar) por que ele diminuiu as transferências voluntárias à cidade de São Paulo em 97%, quando comparado o último ano da gestão (Michel) Temer com o ano de 2020”, disse Covas aos jornalistas do Estadão. 

Transferência voluntária é o nome que se dá ao repasse de recursos da União para Estados ou municípios. A conta exclui transferências obrigatórias, como repasse de dinheiro para o Sistema Único de Saúde.

“Ele podia explicar por que virou as costas para a cidade de São Paulo nesses dois anos, e o candidato dele (Russomanno) pode explicar por quê, nesses dois anos, ele não ajudou a cidade de São Paulo a buscar esses recursos que foram reduzidos pela administração federal”, disse Covas. Ele disse, no entanto, que apesar da queda nos repasses voluntários, a Prefeitura conseguiu um total de R$ 2,5 bilhões com os governos estadual e federal para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. 

Covas também evitou classificar a queda nos repasses como um “boicote deliberado”, mas deixou aos espectadores a conclusão. “Vocês podem classificar o que é isso”, disse. 


PSDB e presença de Doria na campanha

Questionado sobre a ausência de João Doria (PSDB) na campanha, Covas garantiu que seu colega de chapa em 2016 deve aparecer nas peças da propaganda eleitoral. Ele disse que programas de TV ainda mostrarão as obras que a gestão municipal tem feito em conjunto com o governo estadual. “Não tenho nenhum problema em mostrar pessoas que me apoiam, não escondo meus apoiadores”, disse o prefeito.

Ele também rejeitou a hipótese de estar escondendo o nome do seu partido, o PSDB, nas peças de campanha. “Todo mundo sabe que eu sou do PSDB, meu nome é do PSDB”, disse o prefeito em referência ao seu avô, o ex-governador Mário Covas. 


Obras, calçadas e ciclovias

Questionado sobre a intensificação nas obras feitas pela Prefeitura nos últimos meses, Covas rejeitou a análise de que as ações teriam intenção de angariar apoio eleitoral. Ele disse que a gestão do município deve seguir com as obras, apesar das críticas. 

“Não dá para governar a cidade apenas por três anos, sou prefeito até o dia 31 de dezembro e não vou ter receio de continuar a governar a cidade de São Paulo só porque vão levantar a possibilidade de que as ações são eleitoreiras”, disse Covas. “Essa questão de que tudo que se faz no ultimo ano é questão eleitoral, isso todo candidato à reeleição enfrenta.” 

Entre as obras municipais que têm se intensificado estão as reformas de calçadas e de ciclovias. O prefeito disse que as intervenções nas calçadas são resultado de um plano municipal que teve início há três anos, e identificou os trechos mais utilizados por pedestres e que estavam em piores condições, para determinar quais regiões seriam priorizadas nas obras. 


Renda mínima

O prefeito afirmou que há recursos em caixa para pagar uma complementação do auxílio emergencial federal até o fim deste ano. A verba seria suficiente para pagar, ao todo, R$ 100 a um milhão de pessoas por três meses. Covas reiterou seu apoio a um projeto de lei do vereador Eduardo Suplicy (PT) que trata da transferência de renda, e foi motivo de polêmica com os concorrentes de campanha após o prefeito avalizar o projeto publicamente nas redes sociais. 

“Já fizemos as contas, é possível complementar (o valor) para um milhão de pessoas na cidade de São Paulo algo em torno de R$100 por mês em outubro, novembro e dezembro”, disse Covas ao Estadão. Ele disse que o assunto não havia sido discutido antes pois havia incerteza sobre a situação orçamentária. “Fomos tratando a cada semana com uma nova avaliação das contas públicas, e vamos chegar no fim do ano sem dever salário, sem dever 13º”, disse. 


Volta às aulas

O prefeito reiterou a decisão de reabrir escolas municipais apenas para atividades extracurriculares opcionais, sem o retorno de aulas com conteúdo curricular. Ele disse que, para tomar uma decisão, a gestão municipal aguarda o resultado de pesquisas que vão mostrar quantos alunos e professores estão imunizados contra a covid-19. 

"Estamos seguindo o recomendado sobre a área da Saúde. Não tenho satisfação em determinar fechamento de escola, mas sou responsável pela saúde dos alunos na rede municipal", disse Covas. "Estamos aguardando o momento apropriado aguardando a área da Saúde."

Para Covas, a reabertura de bares e restaurantes não é comparável à situação de escolas pois a fiscalização das normas sanitárias é mais difícil entre alunos. Ele ainda defendeu ações como a compra de 465 mil tablets para alunos da rede municipal, com conexão à internet, para auxiliar em atividades pedagógicas. 


Reforma no Vale do Anhangabaú

Alvo de críticas de adversários, a reforma no Vale do Anhangabaú foi defendida pelo prefeito como um investimento na retomada econômica da região central da cidade. Os concorrentes de Covas têm questionado o valor da obra, calculado em torno de R$ 100 milhões. O tucano diz que o valor foi orçado durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura, e apenas executado agora. 

“Levantamentos da Prefeitura mostram que, entre revalorização da região e geração de emprego e renda, nós temos um ganho na cidade de R$ 250 milhões por ano”, disse Covas sobre a obra. 
Investimento na periferia

Covas refutou reclamações de que não haveria investimento nas periferias da capital, e disse que a marca de sua gestão foi o investimento social. Ele citou a entrega de oito hospitais municipais, 12 novos Centros de Educação Integrados (CEUs) e novas unidades habitacionais. Ele diz que destinou R$ 900 milhões para construção de moradia, urbanização de favelas e regularização fundiária no orçamento municipal de 2021, que ainda deve ser aprovado pela Câmara.

“Só ali em Paraisópolis nós ampliamos os cinco equipamentos que a Prefeitura tem na área da saúde. Hoje Paraisópolis é 100% atendida pelos profissionais das equipes da Saúde da Família, os 12 CEUs que nós inauguramos são na periferia da cidade”, disse Covas. “Toda ação que é feita de ampliação de leitos hospitalares é para poder atender a população da periferia da cidade.”

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