Estudo com 50 mil pessoas aponta eficácia de vacina chinesa, diz Doria; produto é testado em parceria com o Instituto Butantã
Diretor da Sinovac na América do Sul, Xing Han, o governador João Doria e o presidente do Instituto Butantã, Dimas Covas
O Estado de S.Paulo
O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira, 23, que o estudo clínico realizado em mais de 50 mil voluntários na China indica segurança da Coronavac, o imunizante contra a covid-19 desenvolvido em parceria do laboratório Sinovac e o Instituto Butantã, que está na fase 3 de testes. Segundo o governo, a expectativa é que a vacinação possa ter início ainda na segunda quinzena de dezembro e chegue a 60 milhões de doses até fevereiro.
De acordo com a gestão Doria, o estudo já teria aplicado 67.260 doses em 50.027 voluntários, incluindo idosos e crianças, na China. Do total, 5,3% apresentaram efeitos adversos mas pouco nocivos - sendo o mais comum dor no local de aplicação. Só quatro voluntários (0,03%) teriam apresentados sintomas considerados mais graves, como falta de apetite, dor de cabeça, fadiga e febre acima de 38,5ºC.
“Esses resultados comprovam que a Coronavac tem excelente perfil de segurança e confirma a manifestação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que a indicou como uma das oito vacinas mais promissoras do mundo”, afirmou o governador. Doria comparou, ainda, o resultado com imunizantes já amplamente aplicados no Brasil. “A vacina da gripe, por exemplo, apresenta efeitos adversos pouco nocivos em não mais do que 10% da totalidade das pessoas.”
Ao apresentar os resultados, Doria chegou a afirmar que a Coronavac teria demonstrado eficácia em 98% dos casos. O presidente do Instituto Butantã, Dimas Covas, no entanto, disse que ainda é cedo para falar da eficiência.
“O estudo de fase 3 está em andamento e os resultados são de conhecimento de quem controla o estudo, que é um organismo internacional”, relatou Covas. “Ainda não temos dados disponíveis sobre a eficácia. A partir do dia 15 de outubro, podemos ter os resultados de eficácia que permitirão o registro da vacina na Anvisa.”
Diretor da Sinovac na América do Sul, Xing Han demonstrou confiança em obter bons resultados e disse que o laboratório trabalharia “dia e noite” para entregar 60 milhões de doses a São Paulo até fevereiro. “Estamos confiantes com a Coronavac tanto para segurança quanto para eficiência . Os testes estão sendo bem feitos e daqui a um ou dois meses já saem os resultados da fase 3, com curto prazo para registro na Anvisa”, disse. “
No Brasil, os testes em voluntários de saúde começaram no dia 21 de julho. Segundo o governo do Estado, mais de 5,6 mil dos 9 mil médicos e paramédicos já teriam recebido a Coronavac, sem nenhum registro de reação adversa até o momento. “Como governador, tambem torço para que outras vacinas se mostrem eficientes. Não estamos em uma corrida por vacina, mas pela vida. Quanto mais vacinas aprovadas e mais vacinas chanceladas pela Anvisa, mais brasileiros serão salvos mais rapidamente”, disse Doria.
Segundo o governador, o primeiro lote com 5 milhões de doses da Coronavac, produzidas na China, chegará a São Paulo ainda em outubro. Pelo cronograma do Estado, o Instituto Butantã deve produzir mais 40 milhões de doses até 21 de dezembro, com expectativa de outras 55 milhões até maio de 2021.
“Deveremos, por óbvio, aguardar a finalização dessa terceira e última fase de testagem e a aprovação da Anvisa, mas já em dezembro, na segunda quinzena, poderemos iniciar a imunização de acordo com critérios da Secretaria de Saúde e dos protocolos do Ministério da Saúde”, disse Doria.
Especialistas têm apontado que, além da comprovação da eficácia e da segurança da vacina, a imunização em massa também terá desafios logísticos, como estratégias de produção, distribuição e aplicação do produto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já disse não prever imunização em massa antes de 2022.
O acordo firmado com a Sinovac permite a transferência de tecnologia ao Butantã, que poderá também produzir a vacina. No fim de agosto, o governo paulista també pediu pelo menos R$ 1,9 bilhão do Ministério da Saúde para ampliar a previsão de entrega da vacina Coronavac no próximo ano, de 60 milhões para 120 milhões de doses. Doria disse nesta quarta que o governo federal prometeu liberar o primeiro lote de R$ 80 milhões para apoiar o processo de produção.
Já o governo federal assinou acordo com a farmacêutica AstraZeneca, que desenvolve com a Universidade de Oxford (Reino Unido), um imunizante que também está na fase 3 dos ensaios clínicos, com humanos. Esse contrato também prevê transferência de tecnologia, para a fabricação de doses no Brasil. Já os governos de Paraná e Bahia fecharam parceria com a Rússia para testar a vacina Sputnik 5, também em fase final de testes. Ainda segundo infectologistas, ter mais de um imunizante contra a doença pode ser necessário para garantir proteção mais ampla da população.
Imunizante também será testado na Turquia
A Sinovac anunciou esta semana que vai iniciar o teste da vacina também na Turquia. De acordo com nota da empresa, em um primeiro momento, 1,3 mil profissionais de saúde entre 18 e 59 anos serão voluntários no país, nesta etapa considerada em que é testada a eficácia do imunizante. Em um segundo momento, 12 mil pessoas da população em geral receberão uma dose da vacina ou um placebo, no intervalo de duas semanas.
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