Saída de Datena embola disputa pela vaga de vice de Covas para as eleições em SP


Mara Gabrilli, Marta Suplicy e coronel Salles, ex-comandante da Polícia Militar, estão entre os cotados pelos aliados do prefeito

prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB)

Igor Gielow - Folha.com

A desistência do apresentador José Luiz Datena de participar das eleições deste ano embolou a disputa pela vaga de vice na chapa do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).

Filiado ao MDB, Datena era o nome de convergência de aliados importantes do tucano para integrar a disputa em novembro.​

Agora, o jogo zera. Entre aliados do tucano, três nomes despontaram de forma mais imediata nas bolsas de apostas internas.

Primeiro, o da senadora Mara Gabrilli (PSDB), na hipótese de ser montada uma chapa puro-sangue que não melindre eventuais aliados para um eventual segundo turno.

Em favor de Mara, há a densidade eleitoral: ela teve 6,5 milhões de votos em 2018, numa campanha calcada em sua imagem de defensora dos direitos das mulheres e de pessoas com deficiência (ela é tetraplégica).

Contra, o fato de ela transitar numa faixa de eleitorado não muito diferente da de Covas, mais ao centro e com apelo a estratos da centro-esquerda. Como a confiança dos estrategistas tucanos é a de que o prefeito confirme o favoritismo das pesquisas pré-campanha, isso poderia ser um peso menor.

Entre aqueles mais preocupados em angariar apoio nas periferias, volta à baila o nome da ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade), cujo legado dos Centros de Educação Unificados (CEUs) é um ativo sempre citado por ambos os lados do espectro político.

Ela foi cortejada pela ala do PT contrária à candidatura de Jilmar Tatto, mas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis impor Fernando Haddad no jogo, por ora seu nome segue no mercado eleitoral.

Um nome que sempre sai com razoável intenção de votos que chegou a ser especulado na vice no começo do ano, Celso Russomanno (Republicanos), hoje é visto como pouco provável por sua ligação umbilical com a Igreja Universal —aliada de Jair Bolsonaro, inimigo declarado do PSDB paulista.
Bruno Covas, prefeito de São Paulo.

Por fim, há entre integrantes da cúpula tucana uma hipótese nova: atrair o coronel Marcelo Vieira Salles, ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo, que em princípio será candidato a vereador.

O problema central é que ele integra o PSD, partido que já tem como pré-candidato na disputa Andrea Matarazzo. O ex-vereador era o favorito para disputar a eleição pelo PSDB em 2016, mas foi atropelado por João Doria, então com ajuda do então governador Geraldo Alckmin.

Matarazzo assim saiu do PSDB após 25 anos e acabou como vice de Marta, então no MDB, que ficou em quarto lugar no pleito vencido por Doria.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, descarta a hipótese a interlocutores, e diz que considera Matarazzo não só viável, mas como uma provável surpresa na eleição. Eles estiveram juntos nesta semana, adiantando planos para a convenção do partido, em 31 de agosto.

Com a sua reunião marcada para 12 de setembro, o PSDB tem um mês para resolver seu problema.

Ele já foi mais agudo. Na virada do ano, a candidatura de Covas balançava devido a diversas pesquisas mostrando que ele teria dificuldades sérias na disputa. Tudo mudou com dois fatores.

Primeiro, o prefeito foi diagnosticado com um câncer agressivo, que enfrenta com transparência pública. Sua aprovação começou a subir, em pesquisas internas, quase que imediatamente, e ele asseverou sua palavra nas decisões do partido.

Além disso, ele posicionou-se de forma bastante ativa no combate à pandemia, ainda que esse seja um flanco usual de ataque de seus adversários.

A possibilidade de que ele tenha de ausentar-se por vezes da prefeitura por questões de saúde segue sendo uma preocupação da escolha da vaga de vice, mas a boa disposição demonstrada por Covas durante o tratamento retirou um pouco dessa pressão.

No mais, ele virou favorito na pré-campanha, com a pulverização de concorrentes. O PT está abatido, tendo protagonismo roubado pelo PSOL, e o bolsonarismo orgânico não encontrou nenhum candidato com aspecto viável até aqui.

Datena era uma solução ideal porque trazia densidade inerente a um comunicador popular e, principalmente, atendia a um acerto maior entre partidos aliados que buscam montar um polo alternativo de poder no país.

Um acerto tripartite, encabeçado até aqui no quesito presidenciável pelo agora governador Doria, foi estabelecido entre PSDB, DEM e MDB. Nele, os democratas manteriam sua influência no Congresso, hoje dominado pela figura de Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara.

O fariam, caso o Supremo Tribunal Federal venha a permitir, pela manutenção de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na chefia do Senado e com o MDB, na figura provável de seu presidente, deputado Baleia Rossi (SP), como sucessor e aliado de Maia.

Nesse arranjo, o MDB ganharia poder em São Paulo por um novo vetor, Datena, esvaziando Paulo Skaf, que está aliado ao presidente Jair Bolsonaro. Ainda no estado, o DEM permanece com a perspectiva de lançar o vice de Doria, Rodrigo Garcia, candidato ao governo em 2022.

Por fim, hoje numa órbita que ora passa pelo governo Bolsonaro, onde tem ministério, e ora pela associação com antigos aliados tucanos, está o PSD de Kassab, ainda solto no jogo.

O abandono de Datena, novamente creditado a questões financeiras por seus correligionários, complicou o arranjo. Todas as opções na mesa trazem riscos para Covas e, principalmente, para o planos de Doria de estabelecer uma aliança nacional a partir dos níveis de capitais e estados.

PRINCIPAIS PRÉ-CANDIDATOS À PREFEITURA DE SÃO PAULO

  • Andrea Matarazzo (PSD)
  • Arthur do Val (Patriota)
  • Bruno Covas (PSDB)
  • Celso Russomanno (Republicanos)
  • Eduardo Jorge (PV), com Roberto Tripoli (PV) como vice
  • Filipe Sabará (Novo), com Marina Santos (Novo) como vice
  • Guilherme Boulos (PSOL), com Luiza Erundina (PSOL) como vice
  • Jilmar Tatto (PT)
  • Joice Hasselmann (PSL)
  • Levy Fidelix (PRTB)
  • Márcio França (PSB), com Antônio Neto (PDT) como vice
  • Marcos da Costa (PTB)
  • Orlando Silva (PC do B)
  • Vera Lúcia (PSTU)
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