'Isso pode custar muitas vidas ao país', diz secretário de Saúde de SP sobre mudança na divulgação de dados de Covid-19 pelo governo federal


Ministério da Saúde apresentou dois boletins com números diferentes de óbitos na noite deste domingo (7). Edson Aparecido cobrou transparência e disse que índices são fundamentais em momento que cidades e estados inciam flexibilizações.

‘Há um problema de subnotificação importante’, destaca Edson Aparecido

G1

O secretario municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, criticou nesta segunda-feira (8) as mudanças feitas pelo governo federal na divulgação dos dados de coronavírus no país e cobrou transparência do Ministério da Saúde.

"É fundamental que o Ministério retome a publicação dos números, sobretudo em um momento de flexibilização de atividades econômicas no pais, em cidades, estados. (...) O Ministério precisa ter esse compromisso, é um compromisso com a ciência, com a sociedade, com o sistema único de saúde. Sem isso nos perderemos um elemento fundamental, que é poder analisar os cenários e as taxas de uma maneira correta. Isso pode custar muitas vidas ao país", afirmou o secretário em entrevista à GloboNews.

O primeiro balanço do ministério apontava para 1.382 mortes nas últimas 24 horas, elevando o total de óbitos para 37.312. O segundo, no entanto, divulgado no painel oficial do ministério que acompanha a evolução da doença, informava 525 óbitos, somando 36.455 mortes desde o início da pandemia no Brasil. A diferença na apuração das mortes das últimas 24 horas entre os dois balanços é de 857 pessoas.

Na avaliação do secretário, a confusão é ainda mais perigosa no momento em que diversas cidades e estados começam a permitir aberturas gradativas de alguns setores do comércio, como é o caso da capital paulista.

Na última sexta (6), a Prefeitura de São Paulo autorizou o funcionamento de concessionárias e escritórios pelo período de 4h.

"Temos um sistema único de saúde instalado em todo o país e é fundamental que o cérebro desse sistema, que é o Ministério da Saúde, possa não só centralizar todas as informações, mas também divulga-las para o conjunto de estados e municípios, sobretudo em um momento onde agora estados, capitais estão discutindo medidas de flexibilização. Você ter os números de forma transparente em todos os locais do pais isso também de alguma maneira nos orienta no planejamento em cada um dos locais, em cada uma das cidades."


Subnotificação

Aparecido também defendeu que os números apresentam um retrato do sistema e avanço da doença no Brasil, e admitiu que o país enfrenta um problema de subnotificação da doença.

"Os números não são fantasiosos, ao contrário, os números são subnotificados. Apesar de todo o esforço do sistema de saúde nos estados e municípios, não há menor sombra de dúvida que há um problema de subnotificação importante. No ano passado, entre 17 de março e 31 de abril, morreram na cidade 29 pessoas de síndrome respiratória aguda grave. Este ano, no mesmo período, morreram 2972 pessoas. O que tem de diferente desse ano para o ano passado? Obviamente a pandemia. Esses óbitos suspeitos que gradativamente deixam de ser suspeitos e se confirmaram são fundamentais para ser contabilizados do ponto de vista da estratégia que a saúde pública precisa adotar, sob o ponto de vista epidemiológico, sob o ponto de vista das ações."


Capital paulista

Durante a entrevista, o secretário afirmou que a cidade de São Paulo tem, atualmente, uma das menores taxas de transmissibilidade do vírus do estado e defendeu um controle da doença no município.

"RT de transmissibilidade na cidade, hoje, é de 1.0. no interior do estado, onde a doença chegou de forma agora de forma muito aguda é 1.7, no estado é 1.5. além disso, tem a questão da taxa do número de leitos de UTI para cada 100 mil habitantes. O número de novos casos. Aqui na cidade de São Paulo vivemos um crescimento menos acelerado do que nos tivemos no final de abril e começo de maio, que até o momento, eu acho, pelos números e acompanhamento, foi o momento mais difícil e mais agudo da doença na cidade de SP."

Questionado sobre os riscos de inciar a flexibilização em meio a registros de recorde de casos no estado, Aparecido defendeu que as mudanças seguem protocolos rigorosos da vigilância sanitária, e que a gestão municipal não descarta mudar os planos em caso de piora no cenário municipal.

"A flexibilização vai obedecer rigorosamente os números, os cenários e as taxas que vamos ter em cada um dos critérios. Qualquer reversão no quadro da pandemia na cidade, não há menor sombra de dúvida que se recua nessa flexibilização. É preciso estar muito atento para que a flexibilização não comprometa o que, por exemplo, na cidade de São Paulo, a gente já conquistou de controle da epidemia."

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