Governadores criticam pressão de Bolsonaro por reabertura


Presidente quer usar socorro a estados como moeda de troca para relaxar isolamento. Secretários pedem sanção imediata do projeto

Bolsonaro e Doria têm embate em reunião com governadores; veja ...
Bolsonaro e Doria discutem durante teleconferência do presidente com governadores


Geralda Doca, Gustavo Schmitt e Manoel Ventura - O Globo

A intenção do presidente Jair Bolsonaro de usar o pacote de socorro aos estados como moeda de troca para conseguir a flexibilização da quarentena provocou reação de governadores neste sábado.

Conforme o GLOBO revelou, Bolsonaro pretende atrelar a liberação de recursos a uma ação coordenada nos estados para iniciar a abertura gradual da economia a partir do próximo mês de junho.

- Negociar o que é um direito dos estados é algo absolutamente inaceitável. Não há o que negociar. O governo tem que cumprir o que determina o Congresso e contribuir para que os estados continuem trabalhando para salvar vidas. Não é hora de proteger interesses políticos ou partidários. São Paulo não negocia nada - disse o governador de São Paulo, João Doria, a Globonews.

Reunidos neste sábado numa live do Observatório da Democracia — instituição que reúne sete fundações partidárias— outros governantes endossaram as palavras de Doria.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que a relação com o governo deve “se basear em lealdade, não em chantagens”.

— Não se trata de interesses pessoais de governadores. Se Bolsonaro quer debater o conteúdo de medidas preventivas, estamos prontos a participar e ouvir as propostas. E evidentemente podemos até concordar com as propostas, desde que tenham base científica e não sejam meros achismos ideológicos — afirmou.
'Projeto na gaveta'

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), fez coro e acusou Bolsonaro de “engavetar” o projeto de socorro.

— O congresso reuniu diversas posições políticas de A a Z e votou o pacote de socorro aos estados e municípios. Passada a urgência dessas duas instâncias democráticas, o presidente simplesmente botou o projeto na gaveta. Isso não é se propor a governar com seriedade. É como se as relações fossem pessoais. Quem de nós não queria estar com o comércio aberto ? Não temos alternativa. Temos que valorizar a vida humana — disse.

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) disse o país não pode perder tempo com discussões ideológicas.

— As medidas de isolamento são determinantes para reduzir o contágio e garantir atendimento no sistema de saúde. O único adversário do Brasil nesse momento deve ser o coronavírus. Precisamos de uma grande união em torno da vida — afirmou.

Para Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo, o país está à deriva.

— Precisamos aumentar o isolamento evitando aglomerações. A dificuldade é que não há nenhuma coordenação nacional. Não bastasse isso, o presidente procura enfrentamento em todos os assuntos. Jamais pensei que ele fosse fazer enfrentamento à vida — disse.

Em paralelo à reação dos governadores, os secretários de Fazenda estaduais enviaram uma carta ao presidente Jair Bolsonaro pedindo a imediata sanção do projeto de ajuda aos estados para conter os efeitos da Covid-19.

No documento, assinado por representantes de todas unidades da federação, eles expressam preocupação com a demora da sanção, falam das dificuldades para manter os serviços essenciais à população e lembram que o projeto está há uma semana à disposição do presidente.
Reajuste de servidores

Além do socorro de R$ 60 bilhões em transferências diretas, os secretários destacam outros pontos do projeto que dão fôlego aos estados, como suspensão das dívidas e não execução por parte da União das garantias firmadas nos contratos de operação de crédito junto as instituições nacionais e organismos internacionais.

Eles não mencionam o reajuste dos servidores públicos, principal ponto de divergência do pacote de ajuda.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, condicionou o socorro aos governadores ao congelamento dos salários dos funcionários públicos por um ano e meio, mas o projeto foi alterado no Congresso. Bolsonaro prometeu vetar esse trecho a Guedes.

O ministro defendia a importância de se salvar vidas no início da pandemia. Mais recentemente, com os números ruins de setores como indústria e comércio, tem adotado um tom mais favorável à retomada da atividade econômica.

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