Prefeitura de São Paulo promove festival com espetáculos censurados ou criticados pelo governo federal


Festival contra censura em SP terá DJ Rennan da Penha, Arnaldo Antunes e peças de teatro vetadas

Filme Bruna Surfistinha

​O festival Verão sem Censura, lançado pela gestão Bruno Covas (PSDB) em reação a atitudes vistas como ataques à liberdade de expressão no Brasil, acontecerá em São Paulo entre os dias 17 e 31 de janeiro e contará com a participação de artistas como o músico e poeta Arnaldo Antunes, o DJ Rennan da Penha, a banda russa Pussy Riot e abrigará shows, peças de teatro, exposições e debates.

Ao todo, 45 atividades gratuitas serão realizadas em espaços como a Praça das Artes, o Theatro Municipal, o Centro Cultural São Paulo (CCSP), a biblioteca Mário de Andrade e o Centro Cultural da Juventude (na zona norte), entre outros.

Parte significativa da programação é composta por espetáculos que foram censurados ou criticados pelo governo federal, sob comando de Jair Bolsonaro, ou por algum de seus órgãos.

Encarregado de abrir o festival em 17 de janeiro, às 20h, com apresentação na Praça das Artes, Arnaldo Antunes teve o clipe da música “O Real Resiste” retirado da programação da TV Brasil no começo de dezembro.

A canção cita milícias, terraplanistas, torturadores e fundamentalistas, e, segundo funcionários da EBC (que controla a TV Brasil) consultados pelo site Buzzfeed News, teria sido censurado por tratar de temas considerados sensíveis ao governo federal. Em nota, a EBC disse que não transmitiu o clipe porque fez mudança na grade em cima da hora para incluir flashes da final da Libertadores.

Vetada em agosto pelo atual secretário de Cultura do governo federal, Roberto Alvim, durante sua passagem pela Funarte, a peça “Res Publica 2023”, montada pelo grupo de teatro A Motosserra Perfumada, será apresentada nos dias 22 e 23, às 20h, no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte). A peça encena leitura distópica de um Brasil tropical fascista em 2023.

Vetada pela Funarte em agosto, a peça 'Res Publica 2023' será apresentada no festival Verão sem Censura, em São Paulo

A ideia do festival nasceu após o prefeito se incomodar com o veto à peça e decidir abrigá-la em São Paulo, o que aconteceu em outubro. Depois disso, Covas passou a pensar com o secretário de Cultura, Alê Youssef, em maneiras de dar guarida a todas as produções sob ataque.

O CCSP receberá, entre os dias 17 e 31, uma exposição com cartazes de filmes brasileiros. Trata-se de uma resposta à retirada de pôsteres de filmes nacionais dos corredores e do site da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

No dia 19, às 15h, o mesmo local receberá exibição do filme “A Vida Invisível”, do diretor Karim Aïnouz, como resposta à decisão da Ancine de cancelar a exibição da obra para seus funcionários em 12 de dezembro.

Na mesma seara da resistência a ataques da administração federal, a Praça das Artes receberá no dia 18, às 22h, a exibição do longa-metragem “Bruna Surfistinha”, de 2011, precedida de debate (às 21h30) com Raquel Pacheco, cujo livro “O Doce Veneno do Escorpião” inspirou o filme, e a atriz Deborah Secco, que fez o papel da ex-prostituta.

Em julho, Bolsonaro disse que não podia admitir que dinheiro público fosse direcionado para “filmes como o da Bruna Surfistinha”.

Uma das atrações de peso do festival será o DJ Rennan da Penha, que fará apresentação na sacada do Theatro Municipal no dia 17, às 23h.

Um dos expoentes da cena funkeira atual, Rennan ficou sete meses detido após ser condenado a seis anos e oito meses por associação para o tráfico de drogas.

Ele deixou a prisão em novembro, contemplado pela mesma decisão do Supremo Tribunal Federal que beneficiou o ex-presidente Lula —a de que um condenado só pode ser encarcerado quando se esgotam todos os recursos (o chamado trânsito em julgado).

Sua prisão catalisou discussões sobre criminalização do funk no Brasil e disparou a campanha #DJNãoÉBandido.

"É um artista que tem muita força, muito popular, e que sofre com a confusão social que existe em relação ao funk como cultura e às formas que ele adquire como cultura. Achamos importante ter um artista do funk como uma forma de mostrar que em São Paulo estamos abertos a todas formas de produção cultural", afirma Youssef.

A peça “Caranguejo Overdrive”, sobre um soldado da Guerra do Paraguai que, dispensado após colapso nervoso, retorna ao Rio para ver sua cidade de origem completamente mudada, terá palco no CCSP nos dias 17, 18 (21h) e 19 (20h).

A montagem, que faz aclimatação dos temas do movimento manguebeat, foi laureada com os principais prêmios do teatro nacional nos últimos anos.

Após ter sido convidado para encená-la na mostra “CCBB - 30 anos de Companhias”, o grupo Aquela Cia de Teatro viu a peça ser cancelada da programação em outubro sem receber qualquer explicação.

A encenação da peça “Roda Viva”, escrita por Chico Buarque e com direção de Zé Celso, censurada durante a ditadura militar, encerrará o festival. Ela acontecerá no Theatro Municipal no dia 31, às 19h.

Quando a encenação deixar o Theatro e partir para a Praça Ramos de Azevedo, guiada pelos versos da música "Cordão" —“Ninguém vai me acorrentar/ Enquanto eu puder cantar/ Enquanto eu puder sorrir”—, se juntará a festas promovidas por blocos como A Espetacular Charanga do França, Tarado Ni Você e Minhoqueens, celebrando a passagem para o Carnaval.

“Será uma espécie de festa da liberdade, valorizando o Carnaval como uma resposta da identidade nacional para qualquer tipo de cerceamento ou ataque”, afirma Youssef.

“O festival é a melhor exemplificação do que temos chamado de resistência proativa. A gente mostra realizações concretas que fazem com que a resistência tenha que ser de quem nos ataca. Trata-se de mostrar, além do discurso, coisas boas, bonitas e fortes”, completa.

Pussy Riot com Linn da Quebrada Grupo de rock feminista que teve integrantes condenadas à prisão na Rússia toca com cantora que se define como “bicha, preta, trans e periférica”. Pça. Ramos de Azevedo, dia 30, 23h

Abrazo Peça infantil conta a história de local no qual abraços são proibidos. Cancelada pela Caixa Cultural. Centro Cultural Olido, dias 17, 18 e 19, 18h

Gritos Caixa Cultural foi acusada, em setembro, de cancelar exibição do espetáculo em Brasília por sua temática LGBT. Centro Cultural Olido, dias 17, 18 e 19, 21h

Debates Livro Marighella será objeto de conversa com seu autor Mário Magalhães (dia 29, 19h); a historiadora Lilia Schwarcz discutirá a obra 1984, de George Orwell (21, 19h). Biblioteca Mário de Andrade

Praça das Artes
17.jan
20h Show do músico e poeta Arnaldo Antunes

18.jan
21h30 Conversa com atriz Deborah Secco e Raquel Pacheco, autora do livro "O Doce Veneno do Escorpião"
22h Exibição do filme "Bruna Surfistinha"
0h Desfile da Daspu, grife de movimento de prostitutas do Brasil
00h30 Desculpa Qualquer Coisa com performance das Maravilhosas Corpo de
Baile

CCSP (Centro Cultural São Paulo)
17 e 18.jan
21h Peça "Caranguejo Overdrive", d'Aquela Cia de Teatro

19.jan
20h Peça "Caranguejo Overdrive", d'Aquela Cia de Teatro

19.jan
15h Filme "A Vida Invisível", do diretor Karim Aïnouz

17 a 31.jan
Exposição com cartazes de filmes brasileiros

Biblioteca Mário de Andrade
17 a 31.jan
19h Banidos - Exposição do acervo de livros censurados no decorrer de três séculos

17.jan
19h Bate-papo reúne o escritor Ignácio de Loyola Brandão, que teve obras censuradas no período da ditadura, e a jornalista e colunista da Folha Laura Mattos, autora do livro "Herói Mutilado: Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura"

18 e 19.jan
19h Peça "O Caderno Rosa de Lori Lamby", baseada em obra homônima de Hilda Hilst. Com Iara Jamra, dirigida por Bete Coelho.

21.jan
19h Leitura de "Cabaré da Fossa" que inclui também canções e cenas de filmes
19h A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz discutirá a obra "1984", de George Orwell

23.jan
19h Erotismo Censurado, aula sobre autores e obras malditas apresentada pela filósofa e ensaísta Eliane Robert Moraes. Trechos escolhidos serão lidos pela atriz Helena Ignez

24, 25 e 26.jan
19h Peça "Navalha na Carne Negra", de Plínio Marcos. Obra foi censurada pela ditadura em 1967. Direção de José Fernando Peixoto de Azevedo

25.jan
10h às 13h, 14h às 17h Oficina de Poesia Sem Censura, com a poeta Angélica
Freitas, autora dos livros "Rilke Shake" e "Um Útero é Do Tamanho de Um Punho". 20 vagas

28.jan
19h Proibidas - A revista literária “Puñado”, editada por um coletivo de
mulheres, vai fazer um clube de leitura com trechos de autoras
latino-americanas brancas e negras que foram censuradas, proibidas ou
sofreram resistência

29.jan
19h Debate sobre Carlos Marighella, guerrilheiro de esquerda, com o jornalista Mário Magalhães, que escreveu sua biografia, e Maria Marighella, sua neta, que está à frente do relançamento de volume de escritos do avô

30.jan
19h Mulheres nos Anos de Chumbo - Debate com as romancistas Claudia Lage e Maria Valéria Rezende e a historiadora Maria Claudia Badan Ribeiro sobre a escrita ficcional e historiográfica que reconstitui a atuação feminina no período entre a repressão de 1964 à reabertura política

30 e 31.jan
19h - Leitura dramática da peça "Calabar, o Elogio da Traição", escrita por Chico Buarque e pelo cineasta Ruy Guerra, que foi censurada durante a ditadura militar. A peça trata de figura que tomou partido dos holandeses contra os portugueses durante a Insurreição Pernambucana, no século 17. A adaptação para leitura é assinada por Renata Palottini

Centro Cultural Olido
17, 18 e 19.jan
18h Peça "Abrazo", do Grupo Clowns de Shakespeare

17, 18 e 19.jan
21h Peça "Gritos", do grupo Cia Dos à Deux

18.jan
16h Sessão de curtas LGBT: "Vando Vulgo Vendita", "O Órfão", "Preciso Dizer que Te Amo", "Reforma
Tea for Two", "Swinguerra"

19.jan
15h Filme "Corpo Elétrico", de Marcelo Caetano
17h Sessão de médias-metragens: "Verona", "Nova Dubai"
19h Filme "Bixa Travesty", de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla

Centro Cultural da Diversidade
18.jan
21h Peça "A Mulher Monstro", da S.E.M. Cia de Teatro

19.jan
19h Peça "A Mulher Monstro", da S.E.M. Cia de Teatro

25.jan
21h Peça "Sombra", do grupo Teatro da Pomba Gira

26.jan
19h Peça "Sombra", do grupo Teatro da Pomba Gira

Teatro Flávio Império
18.jan
20h Peça "O Crime da Cabra", do grupo Cia do Sal

19.jan
19h Peça "O Crime da Cabra", do grupo Cia do Sal

29.jan
20h Peça "Lembro Todo dia de Você", do grupo Núcleo Experimental

30.jan
20h Peça "Lembro Todo dia de Você", do grupo Núcleo Experimental

Vila Itororó
18 e 19.jan
15h Peça "Blitz, o Império que Nunca Dorme", do grupo Trupe Olho da Rua

25 e 26.jan
20h Peça "Quando Quebra Queima", do grupo Coletiva Ocupação, peça construída por estudantes que viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundarista em 2015 e 2016

Centro Cultural da Juventude
17 e 18.jan
20h Peça "Domínio Público", que reúne artistas que recentemente foram foco de debates sobre expressão artística, liberdade e censura: Maikon K, Renata Carvalho, Wagner Schwartz e Elisabete Finger.

22.jan
20h Peça "Res Publica 2023", do grupo A Motosserra Perfumada

23.jan
20h Peça "Res Publica 2023", do grupo A Motosserra Perfumada

Centro de Culturas Negras
25 e 26.jan
16h Monólogo "Macacos", do grupo Cia do Sal

Praça Ramos de Azevedo
30.jan
23h Show da banda Pussy Riot com participação da cantora Linn da Quebrada

31.jan
23h Cortejo com a Espetacular Charanga do França
0h Festa com bloco Tarado Ni Você
1h Festa com bloco Minhoqueens

Theatro Municipal
17.jan
23h DJ Rennan da Penha (Sacada)

29.jan
20h Show "Divinas Divas", com mulheres trans que sofreram atos de censura durante a carreira

31.jan
19h Peça "Roda Viva", do grupo Oficina

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