Em áudio, Queiroz diz querer voltar para o PSL e 'lapidar a bagunça' do partido


Ex-assessor de Flávio Bolsonaro também critica uso do Twitter pelo presidente e sugere 'porrada' em Maia

Fabrício Queiroz, que foi assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)

Ana Luiza Albuquerque, Catia Seabra e Italo Nogueira - Folha.com

​À espera de solução na investigação do Ministério Público do Rio sobre sua movimentação financeira, o ex-policial Fabrício Queiroz sonha ser reintegrado ao grupo político do presidente Jair Bolsonaro para organizar a sigla no Rio de Janeiro. Ele é ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Áudios obtidos pela Folha mostram que Queiroz mantém planos para ajudar o presidente, inclusive de “lapidar” a “bagunça” no diretório regional do PSL-RJ, atualmente comandado por Flávio.

"Resolvendo essa pica que está vindo na minha direção, se Deus quiser vou resolver, vamos ver se a gente assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa porra", afirmou ele a um interlocutor.

Os áudios foram enviados por Queiroz a um interlocutor não identificado, por meio do WhatsApp. A fonte que repassou as gravações à reportagem pediu para não ter o nome revelado.

Nas conversas, Queiroz se diz “agoniado” para voltar a trabalhar. "Torcendo para essa pica passar. Vamos ver no que vai dar isso aí para voltar a trabalhar, que já estou agoniado. Estou agoniado de estar com esse problema todo aí, atrasando a minha vida e da minha família, a porra toda."

Além de afirmar que está "tudo bagunçado aqui no Estado [Rio]", Queiroz se oferece para blindagem do presidente Jair Bolsonaro, de quem é amigo.

"Politicamente, eu só posso ir para partido. Trabalha isso aí com o chefe aí. Passando essa ventania aí, ficamos eu e você de frente. A gente nunca vai trair o cara. Ele sabe disso. E a gente blinda, a gente blinda legal essa porra aí. Espertalhão não vai se criar com a gente", disse o ex-assessor de Flávio.

Queiroz e Flávio Bolsonaro passaram a ser investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro depois que o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) identificou uma movimentação de R$ 1,2 milhão nas contas do ex-assessor de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. 

Desde que o caso foi revelado, Queiroz teve raras aparições públicas. De acordo com sua defesa, ele está em São Paulo desde dezembro do ano passado para o tratamento de um câncer.

Jair e Flávio Bolsonaro afirmam que não conversam com Queiroz desde que a atípica movimentação financeira do ex-assessor veio à tona, no fim de 2018. 

Os promotores do Gaecc (Grupo de Atuação ao Combate à Corrupção) apuram possíveis práticas de lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro no período em que foi deputado estadual.

Nos áudios, Queiroz também demonstra acompanhar de perto o noticiário sobre o mandato do presidente e ter sugestões para o antigo amigo. Ele afirma que o presidenta da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), "está esculachando". 

“Estão fazendo chacota do governo dele. Rodrigo Maia está esculachando. Rodrigo Maia… As declarações dele humilha [sic] o Jair. Jair tinha que dar uma porrada nesse filha da puta. Botar o [ministro da Justiça] Sergio Moro para ir no calço [sic] dele. Tem p.... na bunda dele aí, antiga”, afirmou Queiroz, em março.
Dias antes, ele reclamou da superexposição do presidente nas redes sociais. “Tem que falar com ele para parar com esse lance de Twitter. Tá pegando mal pra caralho. Ciro botou agora: ‘Elegeram um garotinho de 13 anos twitteiro.’ Aí vem um milhão de comentários. ‘Tem garoto de 13 anos mais inteligente’, não sei o quê. Focar no governo e esquece essa porra de internet de lado. Ta pegando mal”, sugeriu o ex-assessor de Flávio também em março.

Ele também lamentou não poder mais atuar em favor da família, em razão da exposição de seu nome e figura nas investigações.

“Se eu não estou com esses problemas aí, cara, a gente não é de bobeira, não ia ter que fazer muita coisa com eles lá em Brasília, podia estar igual a você andando. Dava para investigar, infiltrar, botar um calunga no meio deles entendeu? Para levantar tudo. A gente mesmo levantava essa parada aí”, disse ele em julho, sem especificar no áudio sobre qual tema iria atuar.

Na quarta-feira (24), o jornal O Globo divulgou uma gravação em que o ex-assessor fala sobre cargos que poderiam ser ocupados no Congresso.

"Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado... Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles [família Bolsonaro] em nada. Vinte continho pra gente caía bem, pra c..., caía bem pra c... Não precisa vincular a um nome", disse Queiroz, em gravação de junho.

O presidente Jair Bolsonaro classificou a gravação como "áudio bobo". Ele também afirmou que não tem ciência sobre as atividades do amigo: "O Queiroz cuida da vida dele, eu cuido da minha". 

Posteriormente, a Folha teve acesso a esse áudio e conseguiu outras gravações.

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