Morre o economista e ex-ministro do Trabalho Walter Barelli


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O ex-ministro e economista Walter Barelli morreu na noite de quinta-feira, uma semana antes de completar 81 anos. Ele estava internado desde o início de abril no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, depois de sofrer uma queda e bater a cabeça. Deixa três filhos, Suzana, Pedro e Paulo.

Doutor em Economia, Barelli teve sua trajetória marcada pelo sindicalismo, com bandeiras como o aumento salarial e a ampliação do nível de emprego no país.Transitou pelo PT, participou do governo paralelo criado por petistas em resistência ao então presidente Fernando Collor de Mello, foi ministro do Trabalho na gestão Itamar Franco e elegeu-se deputado federal pelo PSDB.

Barelli começou a militância na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), na Juventude Universitária Católica (JUC), e seguiu no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Durante a ditadura militar, em 1965, assumiu o cargo de diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), e permaneceu no cargo por 25 anos, até 1990. Dirigiu a entidade em um momento de fortalecimento do movimento sindical, e deu rumo para as campanhas salariais, além de denunciar a manipulação feita pelo governo para reduzir índices de inflação, durante a ditadura.

Sob seu comando, o Dieese ganhou visibilidade e credibilidade. Foi, durante muitos anos, a instituição com mais prestígio em relação às estatísticas do mercado de trabalho. Sua atuação no órgão fez com que fosse preso pelos militares em 1979, mas diante da forte mobilização de políticos e sindicalistas, foi solto rapidamente. No período da redemocratização, Barelli participou também da elaboração de projetos para a Assembleia Nacional Constituinte.

O trabalho no Dieese fez com que Barelli se aproximasse do movimento sindical e do PT. Na campanha presidencial de 1989, assessorou Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo sem se filiar ao partido, tornou-se muito amigo de Lula. Com a vitória de Collor, deixou o Dieese e participou do governo paralelo, articulado pelo PT para fiscalizar a gestão e apresentar propostas alternativas.

Depois do impeachment de Collor, aceitou o convite do então presidente Itamar Franco para ser ministro do Trabalho. Dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) ensaiaram uma resistência a seu nome, que consideravam muito alinhado às propostas petistas e da CUT, mas Itamar manteve a nomeação.

No comando do ministério, articulou mudanças na política salarial e definiu reajustes para recuperar as perdas decorrentesda inflação. Ao integrar a gestão Itamar, Barelli marcou posição em relação ao PT, que não queria lideranças como a ex-prefeita Luiza Erundina -- então filiada ao partido -- no governo. Para o economista, era necessário participar do esforço de conciliação promovido pelo então novo presidente.

No ministério, Barelli cobrou a participação dos sindicatos na luta contra os aumentos abusivos e contra a inflação. O então ministro fez com que, pela primeira vez, o governo federal reconhecesse e combatesse a prática de trabalho infantil e escravo no país, e pediu à Polícia Federal que investigasse os casos denunciados pela Comissão Pastoral da Terra na região Norte.

Barelli entrou em conflito por diversas vezes com o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso e ameaçou deixar o governo por criticar a falta de participação do Ministério do Trabalho na formulação do Plano Real. Um dos principais pontos da discórdia era a conversão dos salários em unidade real de valor (URV) e a regra dos salários da nova moeda. Outra divergência foi em relação ao valor do salário mínimo: o então ministro propunha ao menos US$ 100 e FHC, US$ 70.

No governo, defendeu a aprovação das reformas trabalhista e sindical junto com a implementação do Plano Real. Barelli, lamentou quando Itamar enviou ao Congresso a reforma trabalhista "aos pedaços". Propôs o fim do FGTS e afirmou que o fundo não cumpria mais sua função de investimento no setor habitacional. Defendeu também a extinção da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) e justificou que essa lei tinha pontos arbitrários, como o imposto sindical e a lei sobre greve. Defendeu a livre negociação entre trabalhadores e empresários, a implementação de contratos coletivos para ampliar a geração de emprego, e a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas para criar oportunidades de trabalho.

Em 1994, filiou-se ao PSDB, deixou o governo e tentou ser vice na chapa de Mario Covas ao governo paulista. A vaga device, no entanto, foi para Geraldo Alckmin. As divergências com Fernando Henrique Cardoso foram superadas e Barelli participou da formulação do plano de governo da candidatura presidencial do tucano, eleito naquele ano. No ano seguinte,assumiu a Secretaria estadual de Emprego e das Relações de Trabalho no governo Mario Covas, em São Paulo. Ficou no cargo entre 1995 e 2002. Nesse período, tentou disputar uma cadeira na Câmara por duas vezes, em 1998 (não conseguiu votos suficientes), e em 2002 (ficou na suplência). Em 2005 assumiu a vaga. Dentro do PSDB, participou da Executiva nacional do partido.

Encerrado o mandato, em 2007, afastou-se da política e dedicou-se à carreira acadêmica. Durante sua trajetória, Barelli lecionou em faculdades como PUC, FGV e Unicamp, e escreveu livros como "O futuro do emprego", "Distribuição funcional de renda nos bancos comerciais" e "As alternativas de emprego para o mercado de trabalho".


Fonte: Valor Econômico

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