'Planos do Cebolinha', artigo de Vera Magalhães


Elucubrações de olavetes e derivados se assemelham cada dia mais aos planos ‘infalíveis’ dos gibis: bem maquinados, mas fadados ao fracasso à primeira coelhada

O Estado de S.Paulo

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Olavo de Carvalho

A experiência internacional recente do surgimento e êxito de uma nova direita mundial indica que o parquinho ideológico montado pela autoproclamada ala antiestablishment do bolsonarismo (que tem representantes no governo e na família presidencial) não vai cessar sua guerra de guerrilha, tendo alvos distintos.

Pode ser. Mas essas elucubrações de olavetes e derivados se assemelham cada dia mais, quando cotejadas à realidade econômica, social e política de um país como o Brasil, aos planos “infalíveis” do Cebolinha nos gibis: bem maquinados, com uma lógica própria, mas fadados ao fracasso à primeira coelhada. A Mônica, no caso, são os militares.

Os generais tiveram importância muito maior para a construção que levou à vitória de Jair Bolsonaro que livros e vídeos de Olavo de Carvalho. Enquanto o último animava uma militância aguerrida nas redes sociais – o que, claro, teve um peso na vitória –, coube aos militares reabilitar um ex-capitão que deixou o Exército sem honras, tido como agitador sindical, e passou as décadas seguintes como um deputado folclórico.

Foram os militares que viram em Bolsonaro, a quem antes destinavam certo desprezo condescendente, a melhor possibilidade de derrotar o PT em 2018. A importância que teve a fala do general Villas Bôas, então comandante do Exército, em abril do ano passado, por ocasião do julgamento do habeas corpus de Lula, levantando o risco de crise institucional caso o ex-presidente fosse solto, ainda está por ser devidamente contada, numa reconstituição de bastidores daqueles dias e dos subsequentes.

Que uma pessoa que vive entre rifles na Virgínia e tem contato com o Brasil pela tela de computador rebaixe o papel dos militares em benefício próprio se entende. Que integrantes do governo e da família de Bolsonaro incorram no mesmo erro, passa a ser risco de instabilidade constante para o governo e prova de uma leitura muito caolha da realidade.

Para registro: nas questões que realmente importam até agora, os militares vencem de goleada os olavetes e demonstram pragmatismo para ler a conjuntura. A embaixada do Brasil em Israel ainda não mudou para Jerusalém, não houve nem haverá intervenção militar na Venezuela e Vélez Rodríguez, um filho que Olavo se recusa a assumir, caiu sem deixar saudades.

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