'O circo', artigo de Janio de Freitas


No governo de Bolsonaro, tudo está combinado, como nos picadeiros

Folha de S.Paulo


A aparência intempestiva das atitudes dos Bolsonaros é farsante. Estamos diante de uma trupe como são tantas famílias circenses. Grosserias, desobediências, postagem nas redes e logo a retirada, os alvos e temas escolhidos, nada disso é espontâneo. Tudo está combinado, como nos picadeiros. Com funções distribuídas entre os diferentes estilos entre os protagonistas. E para uma plateia aparvalhada.
Além de Jair Bolsonaro na Presidência, a família Bolsonaro conta com outros representantes em cargos públicos na esfera federal e municipal. Outros integrantes mais distantes também já mostraram interesse em entrar para a política. 

O pai desobedecido e, no entanto, incentivador de novas sandices do filho tido como o mais destrambelhado, seria bastante para se duvidar de condutas divergentes. Bolsonaro pai, afinal de contas, se sujeita aos desgastes de uma situação ridícula e, em país com algum autorrespeito, desmoralizante. O próprio Bolsonaro pai, porém, dá indicações explícitas de que o jogo de acusações e o divisionismo pelo insulto são combinados. E articulados com objetivos ocultos, capazes de justificar o alto custo político e pessoal para seus persistentes praticantes.

No começo da semana passada, Bolsonaro soltou pequena nota para dizer que "as recentes declarações" (só as recentes, pois) de um dos seus guias, Olavo de Carvalho, não contribuíam para "a unicidade de esforços" do governo. A notinha foi propagada como crítica. Quem difundira dois dias antes, sábado à noite, "as declarações" de virulência ensandecida, contra as escolas militares e "os milicos" em geral, foi o próprio Bolsonaro, no YouTube. Para maior difusão, replicado pelo filho Carlos.

Apesar de possíveis dificuldades, Bolsonaro por certo entendeu "as recentes declarações" e tornou-as públicas por vontade sua. Não foi ingenuidade. Assim como havia um propósito na remessa, houve no passo seguinte de Bolsonaro e do filho. O desagrado de Carlos com a retirada da postagem de Bolsonaro, consta que por pressão, não foi mais do que outra ceninha. Seus ataques não cessaram.

Exemplos nessa linha são numerosos. Já é tempo de se encerrar o papel de tolos manipulados pelas farsas dos Bolsonaros.

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