Entrevista com Rodrigo Garcia, candidato a vice-governador de São Paulo


Thais Bilenky - Folha.com

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Rodrigo Garcia (DEM), candidato a vice-governador de São Paulo na chapa de João Doria (PSDB)

Candidato a vice-governador na chapa de João Doria (PSDB), o deputado federal Rodrigo Garcia (DEM) afirma que o tucano recebeu e recebeu e agradeceu o apoio do adversário Márcio França (PSB) em 2016, quando disputou a Prefeitura de São Paulo. Mas diz que oportunismo é o pessebista não admitir ser de esquerda.

Garcia afirma também que foi fiel a Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno, mas que Jair Bolsonaro (PSL) é agora a alternativa "para administrar o Brasil contra o PT".

Segundo o candidato a vice, o tucano derreteu porque não foi visto como "o anti-PT", posto que Bolsonaro assumiu.

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O sr. é aliado de Alckmin de longa data. Doria começou com a bênção dele e tentou substitui-lo na disputa presidencial. Como o sr. se posiciona?  
Não é uma questão de posicionamento. Alckmin fez um grande trabalho em SP. Vejo que Doria buscou o seu caminho, elegeu-se prefeito, se Deus nos permitir será governador, e isso causa bastante ciúme no tradicional PSDB. 

Ele tentou ser candidato a presidente. Agiu bem?
Isso é especulação. Ele é candidato a governador.

As pessoas falam publicamente que ele se apresentou como alternativa a Alckmin.  
Estou discutindo o segundo turno. Doria é o único candidato que ganharia a eleição, pelo que ele representa de futuro.

O sr. agiria como ele?  
Ele cumpriu todas as etapas partidárias. Enfrentou prévias, ganhou, tomou atitudes.

Isso em um segundo momento. Num primeiro, ele viajou o Brasil, fez contatos...  
Mostrando a gestão dele, trazendo investimentos para São Paulo. Discutir agora quem era o melhor candidato não cabe.

Em dezembro de 2017, à Folha, o sr. disse que o PSDB deu sua contribuição, mas que a sociedade queria renovação. Agora o sr. está com o PSDB.
Quando dei essa entrevista, era pré-candidato a governador. Doria não. Quando ele se colocou, enxerguei nele a pessoa certa, na hora certa.

Compartilha da visão de Doria de que França é representante da esquerda?  
Márcio é integrante do Partido Socialista Brasileiro. Não estamos tratando de impressões. Estamos tratando de realidade.

Ele associa França ao PT, a Lula e uso termos como esquerdista de maneira pejorativa. 
Se é pejorativo perante a sociedade é porque o PT causou isso para toda a esquerda. 

França foi vice do PSDB nos últimos quatro anos e coordenou a campanha de Doria em 2016. O sr. diria que França de lá pra cá ficou mais de esquerda?  
Márcio França sempre foi o que é. Em 2014, a Folha fez várias matérias dizendo que Alckmin dava um sinal à esquerda buscando-o para ser seu vice. Márcio esteve com Lula em 2002, com Lula em 2006, com Dilma em 2010 e aí uma candidatura própria do Eduardo Campos e da Marina [Silva, em 2014]. Nós estivemos sempre do outro lado. 

Não soa oportunista que em 2016 ele tenha sido útil e agora isso é tratado de maneira negativa?
Oportunismo é ele não assumir que é socialista em uma campanha em que pessoas discutem direita e esquerda. Você insiste que [França] coordenou a campanha [de Doria em 2016], mas não teve nenhum papel maior que o meu, que era líder de um partido importante e apoiei o João a pedido do governador [Alckmin] como ele [França] apoiou, como Arnaldo Jardim [PPS] apoiou e outros. João recebeu o apoio de todos aqueles que eram aliados de Geraldo Alckmin e agradeceu esse apoio. 

Tanto o sr. como Doria criticaram lá atrás o extremismo de Bolsonaro e ambos agora declararam voto nele. Por que a mudança?  
Segundo turno é uma nova eleição. Bolsonaro neste momento representa o antipetismo, a anti-esquerda, por isso ele nos representa.

E o extremismo dele?  
Acredito que ele mudou muito nos últimos meses, entendendo o papel de futuro presidente.

Mudou onde?  
Já não vi mais declarações como no passado.

Por exemplo, qual?
Várias dessas que vocês já publicaram. Hoje ele tem feito discurso pacificador.

Ontem [domingo (21)] ele não fez um discurso pacificador. Disse que os opositores ou vão para fora ou vão para a cadeia.  
Mas acho que é um discurso, enfim, que ele hoje está fazendo, uma inflexão e que ele vai defender as ideias que sempre defendeu, mas de uma forma mais moderada.

Que sinal deu de moderação?
Ele deu, sim.

Qual?
No segundo turno, quem eu não quero? O PT. 

O sr. teme recrudescimento da violência nas ruas, um autoritarismo?  
Nenhum. A democracia é muito maior que qualquer vontade individual. 

Em setembro, o sr. disse ao jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, que tanto PT quanto Bolsonaro eram um risco para o país, porque "são os extremos". Entre um extremo de esquerda e um de direita, o sr. preferiu um extremo de direita, é isso?
Prefiro ficar com quem representa o antipetismo. O PT já demonstrou que é nefasto.

Nessa entrevista, o sr. falou que Bolsonaro não demonstra ter experiência para ser presidente. Mudou de ideia?  
Ele é a alternativa que tem para administrar o Brasil contra o PT.

Tem experiência?
Vai procurar se cercar das melhores pessoas, é o que ele está anunciando. Você não precisa concordar com todas as ideias. Como não concordo com nenhuma ideia do PT, apoio Bolsonaro. Não existe contradição, constrangimento.

Doria disse que iria concluir o mandato, mas saiu antes para disputar o governo. Agiu corretamente?
Sem dúvida. Se não fosse ele, São Paulo correria o risco de ter a bandeira vermelha fincada no Palácio dos Bandeirantes. 

Vale desonrar um compromisso público?  
Ninguém ganha uma eleição imaginando outra. As circunstâncias mudaram e ele teve que tomar uma decisão difícil, se arriscar. 

A Justiça Eleitoral encontrou material de propaganda irregular em comitês da sua campanha e de Doria.  
O adesivo foi cortado de maneira errada e o CNPJ foi saindo. Nenhum problema. Se teve um erro da gráfica ou da campanha, vamos identificar agora.

Se Skaf estivesse no segundo turno contra o PSDB, aceitaria apoio de França? 
Não dá para falar sob hipótese. Agora, o Skaf apoiou França. Lamento. Ele está do lado errado.

Por quê?  
O lado certo é o lado do Doria. Combina mais com ele. Razões talvez pessoais o levaram a apoiar França. Não sei se ele se sentiu ferido na campanha, não entendi.

A campanha está deixando muitos feridos?
Olha, a gente tem já alguma experiência e espero que, no domingo, a gente possa ter uma união. 

Doria tem sido criticado, inclusive por França, por não ter se empenhado na campanha de Alckmin. Faz mea-culpa?
Isso parte do adversário, só faltava ele elogiar Doria. Quem está aqui dentro sabe do esforço até recentemente.

O que foi determinante para o fiasco de Alckmin?  
O anti-PT foi o Bolsonaro. A campanha era quem gosta do PT e quem não gosta.

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