"Quem vota no Bolsonaro não sabe que está abrindo caminho para a volta do PT", afirma Alckmin em sabatina


Candidato do PSDB se esquivou durante sabatina sobre acusações de tucanos na Lava-Jato e afirmou que a eleição será decidida na última semana

BERNARDO MELLO, FERNANDA KRAKOVICS E JEFERSON RIBEIRO - ÉPOCA

Geraldo Alckmin (PSDB) é sabatinado na Redação Integrada da Infoglobo 
Foto: Márcia Foletto - Agência O Globo

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, participou nesta quinta-feira de sabatina promovida pelos jornais O GLOBO, Valor Econômico e pela revista Época. Logo no início da entrevista, o tucano foi questionado sobre as últimas ações da Polícia Federal contra o ex-governador do Paraná e o atual do Mato Grosso do Sul Beto Richa e Reinaldo Azambuja, respectivamente, nesta semana. "Não passamos a mão na cabeça de ninguém", disse ao tentar se desvincular de políticos do seu partido envolvidos em esquemas de corrupção. Ele também é acusado de receber caixa dois da Odebrecht. Para mudar de assunto, resolveu atacar o PT e fez, ao final da sabatina, uma alusão à volta do partido de Lula ao poder, caso Jair Bolsonaro (PSL) seja eleito. Ele tentou também se descolar do apoio que seu partido deu ao governo do presidente Michel Temer.

- Tem vários tons de PT, como disse o (Guilherme) Boulos (PSOL). O PT e os adoradores do Lula. Tem o Ciro, a Marina, o Boulos e o Meirelles, que foi presidente do Banco Central (na gestão Lula). Nós sempre fomos oposição - disse, ao se referir ao projeto de outras correntes nas eleições.

- O projeto do PT não é o Brasil. É o Lula - afirmou ao tentar colar os candidatos do PDT, da Rede e PT. Os três e o petista Fernando Haddad estão empatados tecnicamente nas pesquisas.

- Tem de um lado uns vários tons de vermelho, o Haddad, o Ciro, a Marina, o Boulos. De outro lado você tem um radicalismo caricato. E quem vota no Bolsonaro não sabe que está abrindo caminho para a volta do PT.

Na reta final da campanha, eleitores que hoje indicam votar em candidatos mais mal posicionados no campo da direita, como Fernando Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo), vão migrar para o voto útil para evitar a subida do PT. Essa é, pelo menos, a aposta de Alckmin.

Muita gente que está votando no Bolsonaro não sabe que está elegendo o PT. Muita gente está votando no Bolsonaro e dando passaporte para vola do PT e o que eu puder fazer para evitar isso vou fazer. Acho que vai ter voto útil, à medida que vai avançando a campanha - disse.

Até o ataque sofrido na última quinta-feira, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) ainda não havia confirmado a sua presença na sabatina. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad foi convidado após a oficialização do nome dele como candidato a presidente pelo PT, mas ainda não confirmou uma data.


TUCANOS NA LAVA-JATO

Após insistência dos entrevistadores sobre as denúncias contra tucanos de alta patente, ele afirmou que ficou surpreso, e disse que eles precisam se explicar. Alckmin ressaltou que eles ainda não foram julgados e negou que o PSDB seja condescendente com os seus.

- Nós não passamos a mão na cabeça de ninguém. O que vejo é que há necessidade de proteger as instituições. Queremos que se investigue, puna os culpados e absolva os inocentes. Pessoas citadas devem se explicar. É claro que foi uma grande surpresa. Vamos aguardar as investigações.

Richa foi preso em uma operação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná. Enquanto o MP estadual apura irregularidades em licitações num programa de estradas rurais; na Lava-Jato o juiz Sergio Moro aceitou pedido do Ministério Público Federal (MPF) e mandou prender preventivamente seu ex-chefe de gabinete Deonilson Roldo e o empresário Jorge Atherino, ambos delatados por ex-executivos da Odebrecht.

Já a operação da PF contra Azambuja partiu de colaborações premiadas de executivos da J&F. A suspeita é de um esquema criminoso de concessão de créditos tributários, que teria encoberto o pagamento de propina no estado.


CAIXA DOIS DA ODEBRECHT

Pressionado pelas acusações de ter recebido caixa dois da Odebrecht nas últimas eleições, que deu origem a uma ação de improbidade pelo Ministério Público de São Paulo neste mês, Alckmin mostrou estranheza com o momento das denúncias, a um mês da eleição. O candidato do PSDB lembrou que a corregedoria do Conselho Nacional do MP abriu uma reclamação disciplinar contra os promotores responsáveis pela ação.

- É a posição pessoal de um promotor - afirmou ao colocar em dúvida o trabalho de Ricardo Manuel Castro.

Na ação, o promotor Ricardo Manuel Castro pede que o candidato à Presidência perca os direitos políticos e pague uma multa. Como a investigação é no campo civil, uma eventual condenação não pode levar à prisão o candidato.

Alckmin, no entanto, tentou se mostrar tranquilo diante das acusações. Disse que defende a "inversão do ônus da prova para quem está na vida pública", ou seja, que aumentos de patrimônio de políticos sem origem comprovada levem a confiscos. E aproveitou para ironizar uma declaração de Ciro Gomes, que falou em "botar o Judiciário na sua caixinha", numa crítica a eventuais excessos de juízes e promotores.

- Não tem nenhum problema. Deixa investigar, deixa fazer. Não vou botar ninguém dentro de caixinha, não. Todo poder precisa fazer sua tarefa bem feita.

Ao falar de reforma política, Alckmin citou Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas de intenções de voto, como exemplo do "corporativismo" que o tucano diz combater.

- O que é Bolsonaro? Corporativismo puro. Sete mandatos defendendo carreira, corporação. Vota contra quebra do monopólio do petróleo, das telecomunicações, contra o Plano Real. É preciso mudar o sistema eleitoral.

Na avaliação de Alckmin, é possível que o Congresso aprove uma reforma política que reduza seu próprio tamanho. Para isso, o tucano defendeu que é preciso propor mudanças de forma "gradual".

- Foi esse Congresso que votou o fim da coligação proporcional, por exemplo. A gente acha que de um lado está tudo certo e de outro está tudo errado. Só em filme existe isso.

Alckmin tentou minimizar a permanência do ex-governador de Minas Eduardo Azeredo e do senador Aécio Neves (MG) - um preso e outro investigado por corrupção - no PSDB, afirmando que eles estão afastados da vida partidária.

Apesar de atualmente ser presidente do PSDB, Alckmin disse não ter liderança sobre o partido. Ele fez o comentário após dizer que, quando Aécio foi reeleito para o comando partidário, ele foi contra, assim como também se opôs ao PSDB entrar no governo Temer.

- Nunca tive (liderança no partido), me dedicava à política de São Paulo.


APOIO A TEMER E BOLSONARO

Ele também procurou se afastar do apoio de seu partido ao governo do presidente Michel Temer.

- Primeiro foi eleito sem voto. Segundo, o o governo Temer é muito ruim. Distante do povo. O PSDB não tem nada a ver com o governo - afirmou.

Tentando recuperar parte de seu eleitorado que migrou para o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, Alckmin tentou se apresentar como a opção mais segura para representar o anti-petismo.

- Somos contra o populismo de direita e de esquerda. Com um aventureiro, o país sofre as consequências.

Questionado sobre a proposta de reforma política, Alckmin explicou que defende a mudança para o voto distrital.

- O que é o Bolsonaro? - É corporativismo puro. Sete mandatos defendendo uma carreira.

Geraldo Alckmin reiterou que o problema do governo Temer, em sua avaliação, "não é de ministro, mas sim do presidente que não tem liderança". Alckmin também mostrou certo incômodo com o vídeo, divulgado nas redes sociais, em que o presidente lembra do apoio do PSDB ao seu governo.

- Foi o PT que escolheu o Temer - disse Alckmin, lembrando a chapa de Dilma Rousseff.

- Quem recebe crítica fica "pê" da vida, mas a gente amadurece e vai entendendo melhor. A crítica, para quem está na vida pública, não é à pessoa física. Achei a postura dele (Temer) meio fora do tom, porque não fiz uma crítica pessoal, e sim administrativa.

O tucano defendeu também a aliança com o PTB de Roberto Jefferson, o delator do Mensalão no governo Lula. Lembrado pelos entrevistadores que Jefferson também fazia parte do esquema, Alckmin disse que Jefferson manteve apoio a Fernando Collor mesmo durante o processo de impeachment, numa tentativa de mostrar que o aliado é firme em suas posições.

- Quando o PTB declarou apoio a mim, eu tinha 2% de intenções de voto. Preciso acreditar que ele (Jefferson) está acreditando em mim - afirmou.


MILITARES NA POLÍTICA

Sobre a polêmica declaração do candidato Ciro Gomes (PDT), ontem na sabatina do GLOBO, em referência à participação de militares na política, Alckmin mostrou pensar o contrário.

- Sou admirador do general Villas Boas. Eu não vi que ele tenha dito nada fora do comum, ele não falou nenhum impropério. Ele é um democrata, é correto.

Na sabatina do GLOBO, nesta quarta-feira, Ciro Gomes disse que os militares não terão participação política em seu governo, caso seja eleito. Para Ciro, seu projeto de país "não existe sem Forças Armadas fortes", mas o candidato evocou a Constituição para criticar, de forma dura, a intromissão de líderes militares da ativa na vida política nacional. O candidato do PDT destacou que, se fosse presidente, o general Villas Bôas "estaria demitido e provavelmente pegaria uma 'cana'" pela declaração sobre o futuro governo.

CORRIDA PRESIDENCIAL

Geraldo Alckmin é sabatinado pelo Jornal O Globo, Valor Econômico e Revista Época, na Redação Integrada da Infoglobo 
Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Pressionado pelo desempenho eleitoral aquém do esperado por sua ampla aliança, o candidato do PSDB à Presidência disse que a eleição está aberta e que os eleitores só vão se definir na última semana de campanha.

- Acho que ninguém está garantido no segundo turno, a eleição está totalmente aberta. As últimas eleições (presidenciais) já foram assim, com decisão nos últimos sete dias e muita gente muda de voto até no dia - argumentou o tucano, que está empatado tecnicamente em segundo lugar, segundo as pesquisas mais recentes, com os candidatos do PDT, Ciro Gomes; da Rede, Marina Silva, e do PT, Fernando Haddad.

Nesse cenário, parte dos aliados de Alckmin defendem que ele adote uma estratégia de pedido de voto útil, apontando que ele seria a melhor opção para evitar que o PT ganhe as eleições. Os defensores dessa postura acreditam que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, conseguirá chegar ao segundo turno, deixando apenas uma vaga aberta na disputa do primeiro turno.

- Essa é uma eleição que teve o episódio triste do ataque ao Bolsonaro e o PT só definiu o candidato há dois dias - argumentou Alckmin.

O tucano afirmou que não se importa que alguns integrantes da sua aliança façam campanha para outro candidato à Presidência ou não combinem agendas conjuntas com ele, como o candidato ao governo do Rio, Eduardo Paes (DEM). Alckmin disse que isso é norma por conta do quadro político do país.

- A falta da mudança política levou a essa fragmentação. Temos um quadro político muito artificial - analisou.

Apesar dessas "traições", Alckmin disse que está confiante em chegar no segundo turno porque tem melhor estrutura e tempo de TV.

- Eu estou em segundo lugar, estamos disputando uma eleição que agora vai esquentar, que o tempo da TV e do Rádio vai ser mais importante ainda que antes. Em política não se obriga, se conquista. Meus partidários estão aqui.


SEGURANÇA E PCC

Alckmin voltou a defender a política de segurança de sua gestão em São Paulo, onde houve uma forte redução dos homicídios na última década, porém ele se esquivou ao ser questionado sobre o controle do crime organizado de dentro das cadeias. O tucano negou que exista isso em relação ao PCC em São Paulo.

- Cita um líder do crime organizado que está fora da cadeia em São Paulo. Não é verdade (que eles dão ordem de dentro dos presídio em São Paulo). O que precisa é ter segurança e o governo federal tem que entrar na briga. Porque o crime cresce onde não tem segurança. É simples - afirmou.


INCENTIVOS FISCAIS

Questionado sobre como fará para zerar o déficit primário, que deve ser de aproximadamente R$ 139 bilhões em 2019, o candidato do PSDB evitou detalhar que cortes fará nas desonerações tributárias que reduzem a arrecadação do governo federal.

- Vamos rever todos os incentivos. Vamos analisar todos. Mas nós temos que analisar primeiro o mérito e o custo benefício para a população brasileira, o valor dos incentivos e o preço disso. Vamos analisar no momento adequado - disse sem detalhar.

Alckmin disse ainda que fará um profundo corte de gastos, mirando as estatais.

- Vou cortar gastos. O pessoal não tem ideia dos cortes que vou fazer - afirmou, citando ainda a redução do número de estatais.

Outro caminho para melhoras as contas públicas, segundo ele, é aprovar reformas de estado, principalmente a da Previdência a Tributária.

- Ajuste fiscal em dois anos zerado - afirmou.


SALÁRIO MÍNIMO E APOSENTADORIAS

Alckmin afirmou que, se eleito, vai manter a vinculação do salário mínimo ao piso das aposentadorias do INSS. Ele disse ainda que o salário mínimo, em seu governo, vai ser reajustado acima da inflação.

O tucano prometeu ainda uma remuneração melhor para o dinheiro do FGTS, que seria feita pela Taxa de Longo Prazao (TLP). O trabalhador ainda teria o direito de escolher onde aplicar metade do seu fundo de garantia.

Quanto às aposentadorias, ele propõe que o funcionário público receba o teto do INSS e, se quiser ganhar mais, faça uma Previdência complementar.

Na política externa, Alckmin defendeu uma abertura comercial do Brasil, com mais acordos internacionais de comércio.

Já para aumentar a competitividade, o candidato do PSDB disse que é preciso reduzir o custo do dinheiro no país. Para isso, ele quer aumentar a competição no setor bancário por meio de medidas como a regulamentação de Fintechs (bancos digitais) e cooperativas de crédito.

- Vou revogar o decreto que diz que para entrar banco estrangeiro no Brasil tem que ter autorização do presidente da República.

Alckmin foi o terceiro na série de entrevistas com os principais candidatos à Presidência, de acordo com o que apontam as pesquisas de intenções de voto. Marina Silva (Rede) abriu a sequência de sabatinas na terça-feira, e Ciro Gomes (PDT) foi o entrevistado na quarta.

A sabatina foi conduzida pelos colunistas do GLOBO Miriam Leitão, Merval Pereira, Lauro Jardim, Ancelmo Gois e Bernardo Mello Franco e pela diretora de redação da revista ÉPOCA, Daniela Pinheiro.

As entrevistas têm início previsto para as 10h, na sede da Redação Integrada, na Cidade Nova, no Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo no site e no Facebook do GLOBO, além de cobertura em tempo real com análises e observações de bastidores pelo Twitter.

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