E-mails de Marcelo Odebrecht à Lava Jato citam campanhas de Skaf e Haddad em 2010 e 2012


Desde que saiu da prisão da Lava Jato, em Curitiba, para domiciliar em São Paulo, empreiteiro tem se dedicado a analisar mais de 480 mil mensagens armazenadas em um HD e a enviar corroborações de sua delação ao Ministério Público Federal

Julia Affonso - Estadão

Resultado de imagem para Skaf e Haddad

O empreiteiro Marcelo Odebrecht já entregou mais de 3 mil e-mails em 1,2 mil páginas à força-tarefa da Operação Lava Jato desde que entrou em prisão domiciliar, em dezembro de 2017, após dois anos e meio em regime fechado em Curitiba, beneficiado pelo acordo de delação que fechou com o Ministério Público Federal. O acervo contém não apenas mensagens escritas pelo delator da Odebrecht ou a ele enviadas que ligam o ex-presidente Lula – condenado e preso na Lava Jato – ao terreno que abrigaria o Instituto Lula, em São Paulo, e ao sítio de Atibaia.


Documento

Documento


Os e-mails entregues pelo delator em fevereiro e em abril deste ano tratam também de suposto caixa 2 à campanha de Fernando Haddad (PT), à Prefeitura de São Paulo, em 2012, e doação para campanha de Paulo Skaf (MDB) ao Governo de São Paulo em 2010 e em 2014.

Marcelo Odebrecht deixou a cadeia em dezembro do ano passado. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, em abril, o delator contou que começou a analisar os e-mails no fim de janeiro.

“Na época que eu fiz a minha colaboração, basicamente fiz de memória e com alguns poucos documentos que eu consegui obter da empresa. Não tinha acesso a meu computador”, contou Marcelo ao magistrado.

“É muita dificuldade para fazer essas pesquisas, viu? Eu não imaginava, na verdade, quando eu recebi esse computador. Eu tive acesso a ele duas semanas antes de sair da custódia. Quando eu vi a quantidade de informação, pelas limitações da custódia, de ter acesso a computador, eu disse: vamos deixar para receber em casa.”

A cópia do HD do notebook de Marcelo Odebrecht foi disponibilizada pelo Ministério Público Federal. O computador havia sido apreendido formalmente em junho de 2015 quando o executivo foi preso na Lava Jato.

Em cada bloco de e-mail entregue, o empreiteiro explica o conteúdo das mensagens. Segundo Marcelo Odebrecht, há cerca de 480 mil e-mails, 230 mil arquivos e 70 mil documentos no HD disponibilizado.
Os e-mails que citam a campanha de Skaf

Uma parte da análise de Odebrecht se debruçou sobre e-mails que citam o candidato ao governo de São Paulo Paulo Skaf (MDB) e o marqueteiro Duda Mendonça. Em fevereiro, o empreiteiro entregou 38 e-mails de 10 de junho de 2010 a 12 de agosto de 2013, em 42 páginas, e 16 registros de agenda de 6 de outubro de 2008 a 30 de novembro de 2010, em 16 páginas.

Na delação premiada, o empreiteiro relatou que a Odebrecht pagou em 2010, a pedido de Benjamin Steinbruch, então presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), R$ 14 milhões a Antônio Palocci e de R$ 2,5 milhões à campanha de Paulo Skaf ao Governo de SP naquele ano pelo PSB.

Segundo Marcelo Odebrecht, os valores foram pagos por meio do Setor de Operações Estruturadas, o departamento da propina da empreiteira, sem registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O empreiteiro indica que os e-mails recuperados de seus arquivos ‘contextualizam e corroboram’ sua delação. Ele afirma que as mensagens deixam ‘evidente’ que Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete de Antonio Palocci, ‘ficou responsável por operacionalizar os repasses de Benjamin Steinbruch (‘Aço’) para o PT’.

“Esclarece que a citação a ‘DM’ se refere a Duda Mendonça, o que sinaliza que em 2010 os recursos para a candidatura de Paulo Skaf também foram para ele, parcialmente ou mesmo na integralidade”, explicou.

“Na agenda também há parte de registros de encontros com Benjamin Steinbruch, que corroboram este relato, assim como de outras tratativas conjuntas envolvendo o governo federal (Refis da Crise, tributação de lucros no exterior, etc.).”

O empreiteiro observou ainda que, quanto a um reembolso da CSN, ‘não fica claro se ocorreu na Obra de Aços Longos ou na Obra da Transnordestina, pois os e-mails encontrados sinalizam ambas as alternativas, sendo que o colaborador não se recorda como se deu ao final e em que valor’.


Um dos novos e-mails entregues por Marcelo Odebrecht é de 16 de agosto de 2010. Na mensagem, o empreiteiro escreveu a Hilberto Silva, o chefe do departamento da propina. “1-Conseguiu se acertar no tema aço com JD? 2 – Entendo que os 2.5 de Duda do aço já está ok?”

Hilberto Silva respondeu, em seguida. “1 – Conversamos com ele que teremos que fazer da forma que estamos trabalhando e que neste momento estamos com muita dificuldade portanto atenderemos a medida que tivermos disponibilidade e que temos de ter um tempo maior para atendê-lo. 2 – Estamos falando do 1º. ou do 2º. 2.5 porque o 1º. já está no processo de atendimento junto com o nosso 2,5.”

“1. Ele está ok? 2. Só o 1º. O 2º ainda não me foi confirmado”, escreveu Marcelo Odebrecht.

O chefe da propina explicou. “1 – Por agora esta OK no tempo vai pedir para acelerar mas vamos levando quando folga aceleramos na falta seguramos. JD entende o funcionamento. 2 – OK so liberamos o 1º. O segundo so com seu OK.”

Cinco dias depois, Marcelo Odebrecht pergunta a Hilberto Silva. “Aqueles 20 do aço que vc esta acertando com JD, por enquanto esta reduzido para 15. Ele parece que vai conseguir uma conta externa para agilizar.”

Em 30 de setembro, o chefe da propina avisou ao empreiteiro. “Atendemos com muito sufoco os 3 do Aço que estava programado para esta semana’.

Outra mensagem entregue por Marcelo Odebrecht é de 4 de dezembro de 2010, às 18h16. Ele escreveu a dois de seus executivos Benedicto Júnior, o ‘BJ’, e Hilberto Silva.

“Aço: aceitou liberar tudo (Italiano concorda que vai para recompor o que adiantamos. Assim agora vou buscar de Aço (15 + 2,5). É este o valor?”

As mensagens sobre ‘aço’ continuaram sendo trocadas no ano seguinte. Em 16 de março de 2011, Marcelo Odebrecht perguntou a ‘BJ’ e a Hilberto Silva. “Qual a dívida com o aço? 15 + 2.5 + %?”.

Hilberto respondeu ‘mais mínimo de 20%’.

“Você não conhece o negociador do outro lado…”, afirmou Marcelo Odebrecht. “Mas o valor eh 15 + 2.5%?”

O chefe da propina escreveu. “O valor é este mas preciso confirmar se os 2,5 não foram para DM.”

Marcelo Odebrecht, então, alerta. “Hilberto: cuidado para não misturar as bolas e interlocutores: 15 JD, 2.5 DM para SP.”

Além dos e-mails entregues em fevereiro, Marcelo Odebrecht enviou, em abril, mais mensagens resgatadas em seu computador. Desta vez, relativas às eleições de 2014, ano em que Paulo Skaf foi candidato ao governo de São Paulo pelo MDB. Segundo o delator, as doações para Paulo Skaf saíram do ‘mesmo montante acordado para o PMDB de R$ 10 milhões’.

“Inclui e-mails que corroboram o relato do colaborador sobre a doação para Paulo Skaf via Duda Mendonça na campanha para o Governo de São Paulo em 2014”, relatou.
Os e-mails que citam a campanha de Haddad


Marcelo Odebrecht entregou à Lava Jato e-mails que, segundo ele, corroboram ‘pagamentos com recursos de caixa 2 (Via João Santana) para campanha eleitoral de Fernando Haddad para Prefeitura de SP (2012)’. As mensagens foram trocadas entre outubro e novembro de 2012 e não citam o nome do petista.

O suposto caixa 2 foi delatado pela marqueteira de campanhas do PT Monica Moura. A mulher de João Santana afirmou que a campanha do petista custou R$ 50 milhões, dos quais R$ 30 milhões foram pagos de forma oficial pelo PT e R$ 20 milhões por meio de caixa 2. Segundo Monica Moura, a parte não contabilizada deveria ter sido paga pelo PT (R$ 5 milhões) e pela Odebrecht (R$ 15 milhões). A empresária disse que a empreiteira pagou sua parte, mas o PT não.

Uma das mensagens de Marcelo Odebrecht é 24 de outubro de 2012. O documento indica que o e-mail foi enviado a executivos da Odebrecht, que depois se tornaram delatores. “Avalie se não deve dizer para seus 2 amigos que a pedido do meu amigo já adiantamos 15 dos 23 para o parceiro local deles.”

Durante a noite, um dos então dirigentes da empreiteira respondeu ao empreiteiro. “Marcelo, já os avisei que só tinha autorização para a primeira parcela (4) e que qualquer liberação posterior precisaria de liberação do dono da caneta. Acho que só deveria voltar ao assunto após a assinatura (próxima semana), concorda? Abs, PM.”

Cinco minutos depois, Marcelo Odebrecht escreveu e citou outro executivo da empresa, Benedicto Júnior, o BJ. “A avaliação é sua, mas depois que falamos notei que vai ficar difícil vc dizer que não sabia da antecipação dos 15 para o daqui. Acho que até o amigo de BJ sabe da onde veio estes recursos. A menos que vc depois diga que eu fiz sem te avisar, mas vai passar pouca credibilidade.”

Em 22 de novembro, Odebrecht troca mensagens com outros três executivos da empreiteira. No título do e-mail: ‘Meus amigos em SP’.

O empreiteiro descreve o que tem registrado. “Total 27, sendo: para out/12: 3 dos seus amigos, 1 do meu amigo via V (amigo de BJ); para 2014: 2 dos seus amigos, 21 do meu amigo via V. Sendo que dos 21 ( que era para ser até 2014), meu amigo pediu para anteciparmos 14 para evento local último, totalizando 15 (somado ao 1 original).”

A reportagem está tentando contato com Duda Mendonça e Juscelino Dourado. O espaço está aberto para manifestação.

Comentários