'Por que votarei em Geraldo Alckmin', artigo de Lucas Padilha


São Paulo investe e emprega enquanto o Brasil arca com um déficit primário bilionário pelo 6º ano seguido.

Revista Amálgama


Acredito que existe algo de muito radical em ser um chuchu em terra de pimentões – tão fortes quanto vazios. As candidaturas chamadas de radicais não representam projetos políticos radicais: ser radical é ir à profundidade dos problemas, principalmente dos crônicos, de maneira racional e responsável, tão crítica quanto analítica e propositadamente transformadora.

Bolsonaro e o PT se confrontam no campo da estética, apenas. As cores contrastam e as palavras de ordem e hashtags estão à exata distância de um longo diâmetro. Esta polarização é assentada sobre verdadeiras palafitas estéticas — aparentes e frágeis, que fazem as vezes de fundação política. Em ambos os polos, há um super-homem redentor que porá as coisas em ordem e no sentido do progresso, relegando à segunda ordem qualquer plano de governo e necessidade de experiência comprovada. Quais as garantias de que a vontade se tornará ação política? Mais uma vez, lá vem o Brasil descendo a ladeira: o debate é tosco, a discussão democrática inócua e o diálogo impossível. PT e Bolsonaro não apresentam novidades ao eleitor.

O Brasil tem pressa e precisa mudar, mudar radical e democraticamente.

Democracia é a arte de construir consensos e administrar dissensos tendo, por método eticamente preponderante, o diálogo; por ritmo, a progressividade reformista ante a revolução e a publicidade, por esfera de ação, para que o acordado (via representação) com todos e todas seja cumprido. A liderança é a do Presidente eleito, mas o protagonismo é multipolar. Movem-se, ainda que não imunes a estresses e disputas, as instituições formais, informais, políticas: sociedade civil (organizada e não organizada), partidos políticos, mercados e seus agentes, demais poderes políticos (judiciário e legislativo, vamos nos lembrar deles) rumam à resposta politicamente vitoriosa ao enigma do desenvolvimento. Qual, para quem, como e quando?

Democracia é o contrário do que PT e Bolsonaro representam. Como unir eleitoralmente um país em recessão e sem confiança em si e nas instituições a partir de algum dos dois extremos? Existe alguém que represente este programa democrático, reformista e progressista com força política aliada à experiência administrativa? Alguém cuja verdadeira novidade que apresenta é a defesa do interesse público falando as duras verdades?

Sim, Geraldo Alckmin.

O Brasil precisa se livrar dos males crônicos da corrupção e do Estado ineficiente, que sorve dinheiro do povo por meio de impostos elevados e regressivos que não se traduzem em serviços públicos de qualidade. Alckmin promoverá uma profunda reforma do Estado para eliminar privilégios e criar mecanismos de avaliação e de mensuração da qualidade e da eficiência dos serviços públicos, integrando mercados, sociedade civil e Estado. Trata-se da virada do Estado empresário e errático para o Estado gerencial e indutor de desenvolvimento. Geraldo Alckmin avançará o legado teórico e político de Fernando Henrique Cardoso, a exemplo do que foi feito em São Paulo, onde o terceiro-setor administra de hospitais a teatros, onde concessionárias oferecem serviços bem avaliados e acessíveis e o Estado é exemplo de eficiência prestando serviços como o Poupatempo e o Bom Prato.

Aliada à reforma do Estado, justifica-se uma radical reforma tributária rumo à cidadania fiscal. Paga-se muito e paga-se mal: a cada 200 brasileiros empregados, um trabalha na área contábil. Nos Estados Unidos, a proporção é um para mil e, na Europa, um para 500. Algo está errado. A estrutura de tecnologia e recursos humanos que as empresas precisam montar para lidar com a burocracia consome cerca de 1,5% do seu faturamento anual que poderia ser investido em ganhos de produtividade diminuindo custos, aumentando renda. Cinco impostos podem ser simplificados – gerando economia e ganhos de eficiência – em um só IVA (Imposto sobre Valor Agregado).

O Brasil precisa voltar a crescer, para que os brasileiros possam empreender, trabalhar, inovar, prosperar e criar suas famílias e negócios com segurança, em todos os sentidos da palavra. O desenvolvimento é o novo nome da paz. A saúde fiscal é a segurança da continuidade do Estado e de sua capacidade de investir em infraestrutura, saúde, educação e segurança. É preciso ter coragem e experiência para combater efetivamente os caçadores de renda e as corporações – públicas e privadas – que vivem às custas da coletividade.

Em São Paulo, Geraldo Alckmin vendeu aviões, carros, helicópteros para uso oficial, não topou aumentar o próprio salário porque aumentaria automaticamente o de muitos outros servidores, extinguiu fundações e empresas públicas ineficientes, revisou os contratos de serviços terceirizados de apoio administrativo e operacional, o que resultou em economia de R$ 370 milhões em 2016. Mais R$ 215 milhões foram poupados com a suspensão de novas contratações de locação de imóveis, veículos e serviços de apoio administrativo. Foram extintos 3.723 cargos vagos e outros 396 comissionados. A conta? Economia de R$ 1,9 bilhão aos cofres públicos, sem que os cortes baixassem os índices sociais de São Paulo.

São anos de superávit fiscal durante a maior crise fiscal da história do país: pelo 6º ano seguido, o Brasil arcará com um déficit primário bilionário. Enquanto isto, São Paulo investe e emprega. A diferença entre ter compromisso e experiência e não ter é, portanto, radical: o MDB quebrou o
Rio de Janeiro e o PT, Minas Gerais.

Além de racionalizar a máquina pública paulista, Geraldo Alckmin promoveu uma reforma de previdência estadual já em 2011 unificando os regimes colocando no lugar um sistema justo e contributivo que para de pé.

O Brasil precisa de segurança pública e combate inteligente e firme ao crime organizado, garantindo segurança nas fronteiras, nas cidades e no campo. Ser brasileiro tornou-se risco de vida. Não existe bala perdida, o que existe é vítima baleada. A violência atinge patriotas de todas as classes, idades
e regiões, especialmente os mais jovens, negros e moradores de periferia. O medo é maior que a esperança e nenhuma solução tentada – vide a malfadada intervenção federal no Rio de Janeiro – parece melhorar, sequer um pouco, o problema.

No Brasil, morrem inocentes, morrem policiais. Morre muita gente: as 62.517 vítimas de homicídio no Brasil, em 2016, representam um recorde. É 5% mais do que no ano anterior e 14% mais do que o registrado dez anos antes. A taxa de homicídios de 30,3 por 100 mil habitantes, também recorde, coloca o Brasil entre os países mais violentos do mundo. A taxa mundial é menor que 10 entre 100 mil habitantes. A taxa média do continente americano, o mais violento do mundo, é metade da taxa brasileira.

Em 1999, São Paulo aparecia como o quinto estado mais violento do país. Naquele ano, a taxa de homicídios no estado atingiu a marca de 35,2 mortes para cada 100 mil habitantes. O governo Alckmin fechou o ano de 2017 com 7,54 homicídios por 100 mil habitantes — a menor taxa desde que as estatísticas criminais começaram a ser registradas, em 1995. Hoje, o estado apresenta a menor taxa de homicídios do Brasil, com 78% de redução em relação a 2001. Nesses 17 anos de trabalho, 130 mil vidas foram salvas. Contra o medo, a esperança, não o terror e o autoritarismo. Esperança que só não é ingênua se depositada em quem sabe fazer.

O Brasil precisa se tornar um país mais justo, onde a igualdade de oportunidades seja assegurada pela educação pública de qualidade e por programas sociais que assegurem uma vida digna aos mais vulneráveis. O melhor programa de inclusão social é o emprego. São 13 milhões de desempregados legados pelos 13 anos de governo petista. O Brasil tem pressa: emprego e renda são as palavras de ordem de um governo que queria devolver à esperança do brasileiro e da brasileira.

São Paulo orgulha-se de ter, hoje, a maior nota no IDEB, o principal índice educacional do país, um amplo e conceituado sistema de saúde pública utilizado não só por paulistas, mas por brasileiros de todas a regiões, uma rede integral de saneamento básico, além de programas sociais como o Programa Bom Prato, de segurança alimentar, e o Mãe Paulistana, de combate à mortalidade infantil.

A mudança na educação brasileira, principalmente de base, é urgente e precisa ser radical, sem remendos. O Brasil do futuro não chegará se as crianças, desde a primeira infância, não aprenderem capacidades adaptativas aos novos empregos e situações sociais ao invés de conteúdos enciclopédicos
que estão disponíveis à palma da mão. A evasão escolar dá o alerta: a escola é chata, provavelmente inútil. As universidades brasileiras custam caro e não entregam suficiente originação científica com relevância para o aumento da produtividade no país. Falta dinheiro, faltam soluções inovadoras de
financiamento do ensino e pesquisa. O que fazer?

O Via Rápida é uma ação do governo do estado de São Paulo que oferece capacitação em cursos de curta duração aos cidadãos que buscam ingressar ou se reinserir no mercado de trabalho ou abrir o próprio negócio. Foram mais de 440 mil pessoas capacitadas para o mercado de trabalho em mais de 60 tipos de cursos de curta duração oferecidos gratuitamente, além da Univesp, a primeira Universidade Virtual pública do Brasil, criada em 2017. Em nível técnico, são 150 cursos oferecidos pelas Etecs e mais de 70 disponíveis nas Fatecs paulistas, em áreas como Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Automação Industrial, Gestão Ambiental, Big Data no Agronegócio, Jogos Digitais, Têxtil e Moda. É educação para o emprego do presente e do futuro. É educação para o emprego do presente e do futuro dando segurança às famílias e produtividade às empresas.

No campo da política, para que o eleitor volte a acreditar no próprio voto, o sistema eleitoral e partidário precisa ser reinventado radicalmente: voto distrital reduz os custos de campanha – em outras palavras, demanda por mais recursos públicos e privados gastos com política – enquanto aproxima o voto do votado, o eleitor do mandatário. Só quem não tem medo de povo pode propor isto. Os políticos não podem mais se esconder nos palácios: nos distritos, saberemos quem são, como vivem e o que fazem. É a primeira reforma de Geraldo Alckmin, a política.

Além do plano, a prática: só são factíveis reformas radicais e estruturantes se acompanhadas de sustentação parlamentar suficiente para aprovação de emendas constitucionais. Um programa reformista sem respaldo político desperdiça tempo e oportunidade e ilude o eleitor. Geraldo Alckmin
construiu uma candidatura apoiada por outros oito partidos políticos que representam quase metade do Congresso Nacional brasileiro. A conversa foi pública, sob o olhar atento dos eleitores e da imprensa. Satisfeita a régua política, pergunta-se se a moral foi baixada. Não. A escolha da premiada
Senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) para encabeçar a chapa presidencial enquanto vice-presidente afirma como e com quem se faz política.

Há bons e maus quadros em todos os partidos e cabe à liderança política escolher os melhores: sem entrega de ministérios no regime de “porteira fechada”, sem aparelhamento ou intervenção em agências reguladoras, sem abrir mão dos melhores da sociedade, inclusive não filiados, a exemplo de Pérsio Arida, pai do Plano Real, escalado para colaborar com Geraldo Alckmin – e não substituí-lo, caso de Paulo Guedes, o dono, até segunda ordem, da agenda econômica de Bolsonaro.

Queremos voltar a sorrir, mas não nos preocupamos o suficiente com a potencial ingenuidade da alegria. A festa, de poucos, será breve, ainda que catártica, a depender do eleito. Não será o caso, se escolhermos a liderança do homem modesto que através de planaltos e planícies, chuvas e secas, riqueza e pobreza, governou São Paulo. Os gestos simples, a pacatez do homem do interior e a objetividade pedagógica com que fala e faz política (rara entre os tucanos…), são as características de Geraldo Alckmin, o melhor candidato a presidente do Brasil. Candidato a ter um papel na história brasileira profunda, aquela história de como as coisas mudaram para valer, de como mudaram radicalmente — e para melhor.


Lucas Padilha -Formado em Direito na FGV-SP, onde atualmente cursa pós-graduação em Direito Econômico. É filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira.

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