Com Ana Amélia, Alckmin celebra seu modo de fazer política


Tucano dedica boa parte do discurso na convenção que o ungiu candidato a presidente à senadora, além de mirar 'anarquia' associada a Bolsonaro

Igor Gielow - Folha.com

Geraldo Alckmin ao lado de sua vice, a senadora Ana Amélia, e sua mulher, Lu Alckmin, na convenção do nacional do PSDB 
Foto:Pedro Ladeira/Folhapress

​Geraldo Alckmin tornou-se candidato a presidente em dezembro do ano passado, quando tomou o poder dentro do PSDB após passar o ano sob a sombra do ex-pupilo João Doria. 

A convenção deste sábado (4), na qual o tucanato ungiu o ex-governador paulista presidenciável para efeitos legais, foi portanto mais um rito cartorial do que qualquer outra coisa.

Estão no passado eventos como as disputadas convenções do antigo PMDB, que descambavam até para a violência.

Com exceção da alfinetada de Tasso Jereissati em Doria e, por tabela, em José Serra, o roteiro foi de extrema previsibilidade —a estridência do locutor, que chamava oradores como quem convoca peões de rodeio, também destoou, mas aí é apenas uma questão formal.

O discurso de um algo rouco Alckmin, portanto, foi uma espécie de celebração desse momento. Politicamente, o tucano está em alta, algo que apenas ele parecia acreditar há meros dois meses.

Em pesquisas aqui e ali há sinais de que pode estar recuperando o terreno perdido em seu estado natal, ainda que não haja ainda a expectativa de nenhuma grande virada em plano nacional. É um jogo de paciência.

O ex-governador fez sua parte, apesar do nariz torcido de lideranças como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja insistência em chamar Alckmin de “homem simples” trai algo além do elogio.

O candidato costurou, por obra própria tanto quanto pela aversão a risco dos caciques do centrão, um amplo leque de apoio. A elegia ao nome de Alckmin feita por ACM Neto, o chefe do DEM que fez de tudo para evitar o apoio ao tucano, é um testemunho eloquente do pragmatismo político brasileiro.

O tucano passou meses questionado por aliados e espezinhado por adversários, chegando ao ponto de confrontar os caciques de seu partido insatisfeitos.

A saudação de Alckmin a líderes das siglas aliadas foi uma espécie de catarse para alguém que se viu isolado boa parte do ano —o fato de que eles trazem acusações diversas para seu colo é outra história, cuja cobrança será aferível na campanha. Em sua fala, a vacina: é preciso de votos para aprovar reformas e unir o país.

Em sua fala, o candidato tucano gastou um bom trecho inicial fazendo elogios à sua vice, Ana Amélia. A senadora do PP-RS é uma aposta para atrair as mulheres e alguma fatia do eleitorado à direita que debandou para a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), mas também um símbolo do apreço de Alckmin à sua forma de operar. FHC inclusive verbalizou essa formulação, ao defender o presidencialismo de coalizão que sempre criticou: “A chegada da Ana Amélia antecipa a vitória”.

Não deixa de ser irônico que até terça-feira a senadora se considerava apenas um nome citado por políticos de seu meio, já que não havia uma indicação direta de Alckmin sobre sua preferência.

Em poucos dias, ela veio para o centro do palco, sob os holofotes, com direito a vídeo próprio antes de sua fala. Foi a verdadeira estrela do evento, que teve outro momento coreografado de sinalização feminina, com a declaração de amor do candidato a Lu Alckmin.

Discursos em convenção são pregação a convertidos, então não era esperada nenhuma grande revelação por parte de Alckmin.

Palavras genéricas sobre recuperar a dignidade nacional, transformar o país, melhorar a economia e a vida das pessoas são parte do cardápio. A corrupção, que será um tema a assombrar o tucano, ganhou uma menção bastante lateral.

Críticas ao PT, algo que deverá ser elaborado à frente na campanha, perderam espaço a tiros contra Bolsonaro, foco atual do PSDB. Alckmin, fazendo analogia com a balbúrdia em países como a Venezuela, criticou quem “quer governar sozinho, com um grupo de fanáticos, gente que quer ditadura, que degenera em anarquia”.

Novidade mesmo, Ana Amélia e a introdução da fitinha verde-e-amarela na lapela dos presentes —será um dos símbolos da campanha. Ao fim, o fulcro da fala do tucano foi, por toda a imagem de humildade e decoro sempre associada a ele, um autoelogio a seu modo de fazer política.

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