Eleições 2018: Para diretor do iFHC, Alckmin “vai bem na partida mesmo jogando sem bola”


Governador é o preferido do eleitor tucano ante agressividade de João Doria para disputar a presidência

Resultado de imagem para alckmin welbi

O governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, tem motivos para sorrir. Postulante à vaga do PSDB para a disputa da presidência em 2018, ele teve os últimos dias repletos de boas notícias. De acordo com levantamento do instituto Datafolha divulgado no sábado, ele é apontado pelos paulistanos como o melhor nome do partido para disputar o Planalto no ano que vem. No total, 45% dos entrevistados preferem Alckmin, ante 31% que escolheram o prefeito de São Paulo, João Doria. Os dois vivem uma espécie de guerra fria para ver quem será o nome da legenda na corrida presidencial. Mas nesta batalha eles usam estratégias praticamente opostas.

Enquanto o prefeito parte para a ofensiva com uma agenda repleta de viagens e superexposição nas redes sociais, Alckmin age nos bastidores do partido. Como diz o diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Fausto, o governador “vai bem na partida mesmo jogando sem bola”, uma vez que é o “pole position” da legenda, tendo em vista que dentre os caciques da sigla ele seria o menos atingido pela Lava Jato – os outros nomes que disputavam a vaga são os senadores Aécio Neves e José Serra. “O Alckmin está na vida política há 40 anos, é um protagonista em São Paulo há mais de 20 anos. O prefeito tenta reduzir essa vantagem deliberadamente buscando uma exposição intensa, sobretudo nas mídias sociais, e viajando pelo país”, afirma Fausto. Só que a pesquisa revelou que esta estratégia de Doria cobrou um preço. Além do revés sofrido contra seu mentor na preferência do eleitorado tucano, o levantamento apontou uma queda em sua aprovação (de 44% em fevereiro deste ano para 32%) e um aumento no número de eleitores que rejeitam sua gestão (de 13% para 26%).

Para Fausto, os números piores de Doria são consequência de seu método de fazer política. “O fato do governador ser o pole position do partido obriga o prefeito a fazer manobras arriscadas. Ele acaba se tornando mais conhecido nacionalmente do que um prefeito novato seria, mas isso gera um desgaste”, diz Fausto. Ele cita a percepção de que a busca por exposição tem sido feita por Doria em detrimento da atenção à cidade. Para 50% dos entrevistados, o prefeito “viaja mais do que deveria”. As visitas do tucano a outros Estados e países, feitas muitas vezes durante dias úteis da semana, são percebidas como parte de uma estratégia de projetar nacionalmente seu nome para viabilizar uma candidatura em 2018. Doria, porém, afirma que estas incursões trazem “investimentos” para a cidade, mas, para 49% dos paulistanos ouvidos pelo instituto Datafolha elas trazem “mais prejuízos do que benefícios”. Apenas 35% acreditam que elas geram “mais benefícios que prejuízos”.

A socióloga Fátima Pacheco Jordão também faz coro a Fausto, e acredita que o resultado “não é uma virada do Alckmin”, mas sim uma “perda ou reversão das expectativas com relação ao Doria”. “A mudança no panorama veio nessas últimas quatro semanas, e tem a ver com uma questão tradicional da política, que é o não cumprimento de promessas”, afirma. De acordo com Jordão, o prefeito assumiu uma série de compromissos, como liquidar as filas de exames médicos laboratoriais, e isso “não se confirmou”. “O centro do programa do Doria é privatização, mas essa agenda até o momento não teve impacto direto na vida da população”, diz.

A imagem de “gestor” construída pelo prefeito com o auxílio de sua presença quase diária nas redes sociais também sofreu abalos nas últimas semanas. De acordo com reportagem do jornal O Estado de São Paulo, oito de nove serviços de zeladoria da cidade feitos pela prefeitura, como varrição de rua e reparos nas calçadas, tiveram queda entre janeiro e agosto, comparado com o mesmo período do ano passado. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação, mas o balanço de quatro ações do município solicitadas pela reportagem não foram enviados.

Enquanto o prefeito coloca o bloco na rua, o governador tem se mostrado mais prudente em sua agenda de viagens a outros Estados – de acordo com ele, todas feitas durante os finais de semana. “No momento atual ele está se poupando de desgaste, ao mesmo tempo em que constrói internamente no partido sua candidatura”, diz Jordão. Essa estratégia interna “não depende da opinião publica”. “Alckmin sempre teve uma avaliação muito estável, sempre com uma margem positiva, na capital e no Estado. No índice de percepção de honestidade e ética, apesar dos processos e escândalos de corrupção de seu Governo, ele é melhor avaliado do que outros políticos do status dele”, explica a socióloga.

Em jogo também está não só o candidato tucano, mas quem tem as melhores chances de encarnar o oponente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou outro nome do campo centro-esquerdista que o petista venha apoiar caso não se candidate, no ano que vem. Neste aspecto, tanto Doria como Alckmin aparecem, até agora, em desvantagem nas simulações do Datafolha em relação ao deputado de extrema direita Jair Bolsonaro (PSC-RJ) - ele oscila entre 16% e 17% enquanto os tucanos marcam 8%. Se Bolsonaro parece angariar os humores do antipetismo, ele não tem tanto trânsito entre o empresariado e os investidores do mercado financeiro quanto os tucanos: o establishment liberal e os novos atores que defendem menos Estado se alinhariam mais facilmente ao PSDB do que ao ex-militar. Seja como for, o deputado carioca, consciente da debilidade neste ponto, está tentando reposicionar sua candidatura no campo liberal e isso também não é uma boa notícia para Doria. O MBL, que tem mostrado poder mobilizador na Internet e apoia abertamente a candidatura do prefeito, publicou mensagem na qual elogia "o golaço" de Bolsonaro ao criticar a CLT e pedir menos Estado.

Fonte: El País

Comentários