Folha de S.Paulo
Não faltam críticas procedentes de que deveríamos ter nos antecipado nessa tarefa, aproveitando os tempos de bonança, como na fábula da cigarra e da formiga. É preciso prover e ser previdente no tempo bom, para depois poder enfrentar o inverno.
Com o perdão da ousadia, acho que fizemos um pouco disso no Paraná. Em dezembro de 2014, com os sinais de deterioração no horizonte, iniciamos um forte ajuste.
Encaramos a questão da Previdência dos servidores públicos -que naquele momento impunha compromissos exagerados ao Tesouro estadual- e revisamos alíquotas de impostos, ajustando-as aos níveis praticados em outras unidades da Federação.
Impusemos limites aos gastos e ao crescimento das despesas, que terminaram por contar com boa margem de apoio na iniciativa privada e até mesmo no funcionalismo público. São controles cada vez mais rígidos, que exigem atenção permanente para garantir novas economias e o corte de despesas não prioritárias.
Claro que nos favorece a inevitável comparação com outros Estados, nos quais salários atrasados ou parcelados foram tomados como exemplo de realidade a ser rejeitada. A manutenção de pagamentos em dia é mais importante que o argumento corporativo dos sindicatos, sempre a querer mais e mais benefícios. Fornecedores que recebem nas datas combinadas também fazem parte dessa receita.
Os investimentos públicos voltaram a crescer. As obras de infraestrutura criam novas condições para o avanço dos investimentos privados, num ciclo virtuoso e poderoso para debelar crises e gerar empregos.
Costumo dizer que não há mau governo com dinheiro em caixa. Não para entesourar riqueza, mas para organizar e programar os investimentos, segundo prioridades definidas pela sociedade.
Neste momento em que o Brasil precisa, mais do que nunca, de ajustes de Norte a Sul, vejo que a experiência paranaense deve ser olhada como um gesto de coragem e de contribuição para o país.
Não há fórmulas mágicas ou indolores, mas é por comparação que vamos descobrindo novos caminhos para retomar o crescimento e recuperar os milhões de empregos perdidos nos desvãos da crise.
O debate sobre a Previdência é apenas parte do problema. No entanto, o êxito de um projeto que devolva solvência ao sistema, sem impor sacrifícios demasiados aos trabalhadores, será visto como o primeiro passo numa reforma maior, que aponte para novas bases nas relações federativas. O contrário disso será desastroso.
Apesar de tudo, sou otimista. É na dificuldade que aprendemos a procurar as saídas mais responsáveis. O Brasil que quer resgatar a esperança tem um encontro marcado com seus deficits nas contas públicas. E não pode fugir dele.
Não se trata mais de escolher entre fazer ou não fazer o ajuste e as reformas. Chegou a hora de ousar e realizar. A história, mais uma vez, cobrará daqueles que possuem a responsabilidade e a oportunidade em suas mãos.
O bom desse desafio é que no final, feito o ajuste, o cenário é bem mais favorável que a fatigante rotina de administrar o caos.
*BETO RICHA (PSDB) é governador do Paraná. Foi prefeito de Curitiba e deputado estadual
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