Artur Rodrigues e Leandro Machado - Folha.com
Entidades de aliados políticos, suspeitas de irregularidades e de fachada estão entre as beneficiadas por repasses sem licitação feitos pela Prefeitura de São Paulo para a organização de eventos esportivos desde 2010.
Apenas no ano passado, foram firmados R$ 52 milhões em contratos de convênios, desde ações recreativas para crianças a campeonatos de artes marciais –alguns realizados sem divulgação.
Editoria de Arte/Folhapress
Valores dos contratos feitos pela Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo com entidades
Um exemplo é a Feplam (Federação Paulista de Lutas e Artes Marciais), entidade sem fins lucrativos que assinou R$ 1,6 milhão em convênios no ano passado.
O presidente da entidade, Fernando Couto, é cabo eleitoral do vereador e medalhista olímpico Aurélio Miguel (PR). Em vídeo gravado em 2012, Couto falou sobre a importância do judoca para ampliar o leque de eventos da entidade: "O vereador me ensinou o caminho das pedras".
Couto também é responsável por outra entidade, o Instituto Mais Esporte, que recebeu R$ 600 mil em 2014.
Outro instituto beneficiado nesses convênios, o Esporte e Vida é usado para realizar eventos do programa "Juventude contra o Crack", vitrine política do vereador licenciado e atual secretário estadual de Esportes, Jean Madeira (PRB). Em 2014, a entidade recebeu R$ 381 mil.
No site do PRB, é possível encontrar fotos de Madeira nos eventos, abraçando crianças e atletas. A página atribui as atividades à "iniciativa do vereador".
Hoje em prática sob Fernando Haddad (PT), essa modalidade teve início na gestão de Gilberto Kassab (PSD).
Em 2007, o então prefeito criou lei que deu autonomia ao secretário de esportes para realizar esses eventos.
Os primeiros convênios, porém, só passaram a ser realizados em 2010, quando foram feitos contratos de R$ 74,7 milhões para os eventos.
A gestão Haddad continuou a realizar essas ações. Nos últimos cinco anos, os eventos somam R$ 260 milhões –cerca de 15% da verba de investimento da pasta.
Além dessas ligações políticas, há também exemplo de entidade pega na "malha fina" da prefeitura. Em 2014, a CGM (Controladoria Geral do Município) obrigou um instituto a devolver R$ 233 mil.
Trata-se do Idecesp (Instituto de Desenvolvimento, Cultural, Esportivo e Social do Estado de SP), que contratou parentes do presidente para realizar as atividades financiadas pela prefeitura.
Nos últimos meses, a Folha acompanhou alguns eventos contratados por meio desses convênios com a prefeitura.
Em um deles, em dezembro, havia 30 crianças brincando de carrinho de rolimã numa área do autódromo de Interlagos. O custo: R$ 151 mil.
A entidade responsável, Instituto de Incentivo aos Esportes de Ação, foi criada na metade de 2014 e já conseguiu R$ 1 milhão em convênios com a prefeitura.
Também criado no ano passado, o Projeto Mefibosete obteve R$ 450 mil em convênios para atividades esportivas em diferentes áreas, como torneios de tênis e handebol e brincadeiras.
No endereço registrado pelo instituto, porém, funciona uma igreja evangélica. Entre os vizinhos, ninguém nunca ouviu falar da entidade.
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