É o dinheiro que falta para a saúde, diz chefe da PF em SP sobre desvios na Petrobrás

 
Roberto Troncon alerta para ‘possíveis e imagináveis muitos desdobramentos graves’

Fausto Macedo - Estadão
Roberto Troncon, superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo
Foto: Evelson de Freitas/Estadão
 

O delegado Roberto Troncon, superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo, alertou aos policiais sobre a escassez de recursos e que todos devem estar preparados para um 2015 sob forte contenção de verbas.

“A Polícia Federal tem muitas atribuições e tem pouca gente. Não há outro caminho, ou se aumenta significativamente o efetivo ou se tira atribuição. Nós somos equilibristas de prato, continuamos equilibrando pratos, e muitos pratos, e fazemos o nosso serviço, mas podemos fazer muito mais”, disse Troncon, durante evento na sede da PF, nesta segunda feira, 17, em homenagem a federais que se aposentaram recentemente.

“Temos em curso um caso gravíssimo, pelo menos é o que se sabe pela imprensa até agora. Um caso gravíssimo de corrupção em alto escalão em que o dinheiro de uma empresa pública é desviado. E é justamente aquele dinheiro que falta para os órgãos técnicos, que falta para a saúde, que falta para a educação. Vivemos um momento histórico em nosso País. E o País precisará muito dos policiais federais.”

Troncon apontou para a regra que há algumas décadas marcava o cotidiano do País. “No País de 30 anos ou 25 anos atrás, aparentemente tínhamos uma linha de corte. Para quem estava abaixo da linha de corte da lei, ela valia. Para cima não se tem notícia de que a lei atingia pessoas com elevado poder político ou poder econômico.”

“Hoje, infelizmente de um lado, estamos presenciando esse novo escândalo envolvendo a Petrobrás com possíveis e imagináveis muitos desdobramentos graves. Mas há algo para se comemorar: a lei está sendo aplicada. Estamos contribuindo para o País mudar e a responsabilidade é de cada um de nós, sim, especialmente nós que ocupamos cargos públicos.”

Troncon abordou o combate aos malfeitos na administração pública, especialmente na Petrobrás – alvo da Operação Lava Jato. “No campo do enfrentamento à corrupção a Polícia Federal avançou bastante em todo o país. Também novos organismos têm sido criados, a Controladoria Geral da União, o COAF, os mecanismos começam a funcionar.”

O chefe da PF em São Paulo agradeceu aos que agora entraram para a inatividade e dirigiu-se aos que permanecem no exercício da função. “A polícia de amanhã, a polícia do futuro, será a que nós faremos.”

Ao citar a Constituição que prevê uma extensa série de atribuições para a Polícia Federal, Roberto Troncon enfatizou. “Temos um problema de fundo que espera o próximo governo, o Poder Legislativo, os nossos novos congressistas. Uma das atribuições da Polícia Federal é cuidar da fronteira terrestre que chega a quase 16 mil quilômetros. Isso é evidentemente impossível realizar com o efetivo que temos hoje.”

Para Roberto Troncon, o Brasil vive um “cenário que não é confortável”, inclusive no aspecto econômico.

“Isso vai impactar certamente no próximo ano em todas as instituições governamentais. Tem que gastar menor. A segurança pública tem enormes desafios. Em 2013 ocorreram mais de 53 mil homicídios, mais que numa guerra civil, mais que muitos conflitos espalhados pelo mundo, entre países e regiões em que o conflito é pela tomada do poder.”

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