Alckmin já dá sinais de seu plano para 2018


Daniela Lima - Folha.com


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), guarda na gaveta de sua mesa de despachos no Palácio dos Bandeirantes dois mapas do Estado. As peças comparam seu desempenho em cada um dos 645 municípios nas eleições de 2010 e 2014.

"Aqui, por exemplo, perdi em todos os lugares que tinham assentamento de reforma agrária", disse a um interlocutor sobre a região Noroeste, onde há quatro anos perdeu para o PT em 13 cidades, todas marcadas em vermelho.

"Fizemos um programa para compra da produção agrícola, melhoramos as estradas... Fiz diversas visitas a esses lugares", disse, e abriu o mapa de votação em 2014. A região estava azul –como praticamente todo o Estado.

"É com trabalho, não com discurso, que se desmonta a propaganda deles", concluiu.

Neste ano, Alckmin só não foi o mais votado numa cidade, Hortolândia –"ilha petista" num "oceano tucano".

AÉCIO

Desde a reeleição, quem conversa com Alckmin nota que agora ele sempre tem se referido a São Paulo em um contexto nacional: "Aqui, como fazemos ajustes permanentes, vamos segurar, mas muitos Estados vão ter problemas fiscais. Prefeituras, então... nem se fala", avaliou no início deste mês, em uma roda de tucanos após evento promovido pelo PSDB para o senador Aécio Neves (MG).

O mineiro, que concorreu à Presidência neste ano, tem trabalhado para se manter em evidência e segurar a vaga de candidato do partido ao Palácio do Planalto até 2018.

Seu principal obstáculo é Alckmin, com quem mantém uma relação cordial. O clima amistoso não deve dar lugar à beligerância antes de 2016.

Mas ambos vem se preparando, cada um ao seu modo, para conduzir o partido nas próximas eleições nacionais.

O paulista mantém seu estilo cordato ao falar da gestão da presidente Dilma Rousseff, mas faz uma análise crítica de sua gestão. Diz ter ficado surpreso com a descrença de investidores internacionais e que 2015 não será "o caos", mas será novamente um ano de "crescimento na casa de 1%", o que é "o mesmo que dar um passo atrás".

Manifesta ainda preocupação com setores da economia. "A agricultura se segura. Para eles, o empecilho é o preço, mas mesmo com a seca, teve recorde de produção. O problema é a indústria."

A "palestra" ocorreu depois que ele retornou da viagem a Nova York em busca de financiamentos. Alckmin voltou feliz exibindo seu "triple A", uma espécie de atestado de liquidez para o Estado.

Mesmo os políticos mais próximos ao governador reconhecem que, apesar de sua importância de Alckmin no xadrez partidário, para ter chance de fazer frente a Aécio, ele precisará da combinação de uma série de fatores.

O tucano espera entregar uma série de obras que ficaram pelo caminho neste mandato. Ultimamente, tem dedicado atenção quase integral à crise da água, retratada de forma unânime entre seus correligionários como o desafio mais grave e urgente.

A questão tem adiado decisões sobre o governo. Alckmin promete anunciar um pacote de fusões de fundações, autarquias e secretarias (um estudo propõe unir as secretarias de Saúde e Direitos da Pessoa com Deficiência) e cortes de cargos comissionados.

Alckmin sabe que Aécio tem a hegemonia no PSDB, mas diz que "quatro anos, em política, são quatro séculos": "Estou mais animado hoje do que quando me elegi prefeito de Pindamonhangaba aos 23 anos", advertiu, aos risos.

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