Tesoureiro do PT operava desvios na Petrobras


Mário Cesar Carvalho, Samantha Lima e Flávio Ferreira - Folha.com



O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef disseram que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, intermediava os recursos desviados de obras da estatal para o partido.

Costa e Youssef fizeram acordo de delação premiada e prestaram depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira (8). Deflagrada em março pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato descobriu uma ação que movimentou estimados R$ 10 bilhões. Segundo a PF, uma "organização criminosa" atuava dentro da empresa.

"Tinha uma outra pessoa que operava a área de serviços, que se eu não me engano era o senhor João Vaccari", afirmou o doleiro em depoimento, cujo vídeo, anexado ao processo na Justiça, a Folha teve acesso.

Segundo o doleiro, ele teve "uma ou duas" reuniões com o tesoureiro petista para tratar do esquema de desvio na Petrobras.

Youssef disse também que as empresas que faziam contratos com as áreas de abastecimento e de serviços da Petrobras tinham que pagar propina de 1% sobre dos valor do contratos.

O juiz Sergio Moro, responsável pelo processo do caso, indagou se o valor de 1% dos contratos da área de serviços passava por Paulo Roberto Costa e o Youssef respondeu: "Não, isso era para outro partido".

O doleiro citou ainda que o lobista Fernando Soares fazia essa intermediação para o PMDB e que ele próprio cuidava dos recursos que ia para o PT. "Tinha Fernando Soares que operava com Paulo Roberto Costa para o PMDB."

O primeiro depoimento à Justiça Federal foi de Costa, após o acordo de delação premiada. O ex-diretor afirmou que o suborno correspondia a 3% do valor líquidos dos contratos da Petrobras.

Segundo ele, o PT recebia 2% dos 3% cobrados sobre o valor das obras de maior vulto. Outro 1% era destinado ao PP, partido responsável por sua indicação à diretoria da Petrobras.

Tais obras se avolumaram a partir de 2007, explicou o ex-diretor, quando, em sua área, surgiram projetos de construção de quatro refinarias. "Me foi colocado pelas empresas e também pelo partido que, dessa média de 3%, o que fosse da diretoria de abastecimento, 1% seria repassado para o PP e os 2% restantes ficariam para o PT, dentro da diretoria que prestava esse serviço. Isso me foi dito com toda a clareza."

De acordo com Costa, o esquema funcionava em todas as diretorias. Naquelas cujas indicações cabiam ao PT —segundo ele, a de Exploração e Produção, a de Gás e Energia e a de Serviços— os 3% eram integralmente repassados para o partido.

Guilherme Estrella conduziu a diretoria de Exploração e Produção entre 2003 e 2012. Renato Duque foi diretor de Serviços entre 2004 e 2012. A diretoria de Gás e Energia foi conduzida por Ildo Sauer entre 2003 e 2007. Depois, ele foi substituído por Maria das Graças Foster, que virou presidente da Petrobras em 2012.

Ainda de acordo com Costa, a diretoria internacional, em que trabalharam os ex-diretores Nestor Cerveró (2003 a 2008) e Jorge Zelada (2008 a 2012), 1% iria para o PMDB, que os indicou.

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