Programa de Governo de Aécio quer reduzir meta de inflação a 3%


Mariana Carneiro e Daniela Lima - Folha.com

Proposta defendida pelo então candidato Eduardo Campos no início da campanha eleitoral, a redução da meta de inflação para 3% ao ano, ressurgiu, nesta sexta-feira (3), no programa de governo de Aécio Neves (PSDB).

A ideia tinha circulado na campanha do concorrente PSB antes da morte de Campos. Mas foi abandonada na elaboração do programa de Marina Silva, que assumiu a candidatura em agosto. A ideia de Campos era baixar a meta para 3% em 2019.

No programa do PSDB, não há data para que a nova meta entre em vigor. Hoje, a inflação está em 6,5% –apesar do adiamento dos reajustes da gasolina, da energia elétrica e do transporte público em capitais como São Paulo.

Economistas estimam que a inflação poderá ficar ainda mais elevada no ano que vem, em razão da correção esperada destes preços represados e do impacto da alta do dólar sobre a inflação em 2015.

O economista Armínio Fraga, responsável pelo programa e já "nomeado" ministro da Fazenda, caso Aécio seja eleito, afirma, porém, que se trata de um objetivo a ser alcançado gradualmente –em um horizonte mais longo do que os quatro anos de mandato presidencial.

"Talvez tenha que ter mais tempo para chegar [à meta de 3%]. Dada a situação precária que podemos herdar, eu prefiro não marcar uma data".

O sistema de metas foi implantado durante a gestão de Armínio no Banco Central, em 1999. A meta de inflação é o alvo fixado pelo governo para dar à sociedade uma ideia do que esperar do aumento de preços. Essa referência perdeu credibilidade na gestão de Dilma Rousseff (PT), porque a inflação ficou sempre acima da meta anunciada, de 4,5%.

No programa do PSDB, é dito que a meta atual só deve ser alcançada em dois a três anos. A partir daí, haveria um esforço gradual de reduzi-la até 3%. O intervalo de tolerância, hoje de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo, também seria reduzido para 1,5 ponto percentual.

O PT vem criticando a proposta de redução da meta desde que a ideia foi apresentada por Campos. Afirma que persegui-la significaria aumentar o desemprego.

No debate da TV Globo, da última quinta-feira (2), a presidente Dilma Rousseff criticou a gestão econômica do governo FHC. A presidente afirmou que o PSDB "quebrou o país três vezes" e que Armínio fixou a mais elevada taxa de juros da história do país, em 45% ao ano.

Em entrevista à Folha, Armínio retrucou: "O PT tira as coisas do contexto. A taxa de juros foi a 45% ao ano, mas a expectativa de inflação foi a 50%. Fazer o quê? Perder o controle da inflação? É fácil falar. Aquele momento foi bastante difícil e nós seguramos a barra".

O economista assistiu ao debate na plateia, no estúdio da emissora, e brincou quando Dilma citou seu nome: "Vou pedir direito de resposta". A presidente afirmou que o PSDB entregou os bancos públicos em situação frágil.

"Isso de dizer que entregamos os bancos públicos mal é mentira. Entregamos tudo na santa ordem. Agora é que ninguém sabe como está".

O programa econômico do PSDB tem 64 páginas e propostas para a política externa e reforma tributária. Segundo Armínio, cerca de 50 pessoas fizeram contribuições para o texto, que ficou pronto há um mês. "Essa fase final de organizar, revisar, durou um tempo surpreendentemente grande. Não teve essa estratégia [de atrasar para evitar críticas]", disse.

Sobre impostos, o PSDB pretende extinguir taxas como o ICMS, IPI, PIS e Cofins para criar um imposto único.

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