Entrevista do governador Geraldo Alckmin ao jornal Folha de S.Paulo


Bruno B. Soraggi - Folha de S.Paulo


Alckmin assumiu o governo de SP pela primeira vez em 2001, após a morte de Mário Covas, de quem era vice. Foi reeleito em 2002, mandato ao qual renunciou antes de concluir para concorrer à presidência em 2006. Em 2010, voltou ao Palácio dos Bandeirantes no primeiro turno (50,63% dos votos válidos).

O governador em exercício encerra a série de entrevistas que a sãopaulorealizou com todos os candidatos ao governo paulista. As respostas a seguir foram enviadas por e-mail.

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FSP - Com qual bairro ou cidade paulista o senhor se identifica?
Geraldo Alckmin - Pinda [Pindamonhangaba], minha cidade natal, e todos os outros lugares que revelam o espírito de trabalho e de superação do povo de São Paulo.

O que mais o agrada no Estado?
O seu povo: generoso, honesto e humilde.

E o que mais o irrita?
Desigualdade, injustiça e privilégios. O Estado de São Paulo é terra de oportunidades porque abre caminho a todos.

Por que quer se reeleger?
Para manter São Paulo no rumo certo. As mudanças que vêm sendo feitas são consistentes, e não fruto do improviso ou de surpresa.

Os protestos de junho mudaram a sua forma de ver a política?
Reafirmaram princípios que me conduziram à vida pública. Já havíamos decidido, antes de junho, que não daríamos um centavo para estádios. E não demos. Havíamos decidido fazer o maior investimento em mobilidade urbana da história –temos hoje o maior plano de expansão. Os protestos ensinaram que o brasileiro não confunde reivindicação com violência.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestantes?
A Constituição e nossas convicções proíbem o emprego de violência contra manifestações pacíficas e democráticas e nos obrigam a combater o vandalismo, preservar o direito de ir e vir dos cidadãos e manter serviços essenciais. Os dois princípios devem ser perseguidos com obstinação e bom senso.

A polícia deve reprimir os "black blocs" ou deixá-los protestar do jeito deles?
A polícia pode e deve reprimir vandalismo ou atos que violem o direito de ir e vir ou interrompam serviços essenciais. Sancionei a lei que proíbe o anonimato em manifestações. A democracia deve ser exercida com responsabilidade, e não há responsabilidade no anonimato.

Como pretende combater o PCC nos próximos quatro anos?
Com inteligência, tecnologia e sufocando o financiamento. Buscamos integrar ações da polícia às de outros poderes e esferas.

Como se prepara para enfrentar uma eventual continuidade da crise de água?
Planejamento, investimento e estímulo ao uso racional. Estamos garantindo o abastecimento mesmo sob a maior seca dos últimos 84 anos. A população tem feito a sua parte: em agosto, 76% dos clientes da Sabesp na Grande São Paulo conseguiram diminuir seu consumo.

O metrô é a única salvação para o trânsito em São Paulo? Quantos quilômetros pretende construir?
São Paulo tem 101 km em obras e três tatuzões perfurando o subsolo. São oito obras em execução simultânea, além de 52 km de corredores de ônibus. O metrô vai sair da capital: para o ABC e Guarulhos.

O senhor acha a qualidade da água boa? Bebe água da torneira?
Bebo. A qualidade da água da Sabesp é pura, reconhecida e testada pela vigilância sanitária periodicamente.

A tarifa do transporte pode ser zero?
O transporte tem que ser mais rápido, confortável e barato. Além de expandir e integrar, fizemos a integração tarifária entre os ônibus da EMTU e os trilhos do Metrô e da CPTM. Isso representa uma economia de R$ 2,70 todos os dias.

Qual é o seu principal projeto para a rede pública de saúde se reeleito?
Construir dez novos hospitais e transformar os Ames (Ambulatórios Médicos de Especialidades), em hospitais-dia, com cirurgias de média complexidade. Expandir a presença da rede Hebe Camargo de combate ao câncer, de 73 para cem unidades. E diminuir o tempo de espera.

Utiliza algum serviço público?
Estudei em escola pública e, quando preciso, sou atendido por hospitais públicos.

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
Vários. Eu citaria dois: Mário Covas (1995-2001) e José Serra (2007-2010).

E o pior?
Meu pai recomendava: "Filho, lembre-se de Santo Antônio de Pádua. Quando não puder falar bem, não diga nada".

Em que político o senhor se inspira?
Mário Covas, exemplo de homem público. Tinha a objetividade do engenheiro politécnico e grande sensibilidade social.

Se reeleito, qual será a marca do seu próximo governo?
Melhoria constante da qualidade de vida dos paulistas.

O que não faltará no seu gabinete nos próximos quatro anos?
Trabalho e humildade.

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