Fabrício Lobel - Folha.com
Desde o início deste mês, quando a Prefeitura de São Paulo implantou uma ciclovia na rua Cesário Magalhães, no Cambuci, no centro, um grupo de mães de jovens autistas tem um novo obstáculo numa rotina já difícil: parar os carros da rua para que seus filhos a atravessem.
A cena se repete sempre que o transporte dos jovens não encontra vagas na região da AMA (Associação de Amigos do Autista), que rarearam após a implantação da via.
"Antes tinha mais opção para parar. Agora a gente tem que desembarcar no meio da rua, parando em fila dupla", disse Vera Hernandes, 50.
A dois quarteirões dali, a ciclovia fica bloqueada sempre no horário de entrada e saída de alunos de uma escola municipal. As peruas que antes paravam rente à calçada agora têm de estacionar no meio da rua para o desembarque dos alunos, alguns dos quais cadeirantes.
Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Cadeirante desembarca em ciclovia implantada em frente a escola, no centro de SP
As ciclovias se tornaram a principal bandeira do segundo ano da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT).
O projeto tem grande aprovação dos paulistanos –80% são a favor, de acordo com o Datafolha– e, ao que tudo indica, ajudou a elevar a popularidade do petista.
Por outro lado, carrega consigo uma série de críticas, entre elas a de que sua implementação é feita sem consulta e desconsidera particularidades locais, como a da associação dedicada aos autistas e a escola do Cambuci.
Desde abril, o secretário de Transportes da prefeitura, Jilmar Tatto, argumenta que numa primeira fase das obras de ciclovias o mais importante é implantá-las, mesmo que, futuramente, ajustes tenham que ser feitos.
Apesar das constantes reclamações, para Maria Ermelina Malatesta, urbanista e especialista em planejamento cicloviário, cabe ao proprietário de determinado estabelecimento as adaptações necessárias para receber seus clientes ou visitantes.
Vinícius Pereira/Folhapress
Ciclovia no Butantã passa sobre calçada e tem como obstáculos uma árvore e um poste
"Esperar que a rua dê conta dessa demanda é o mesmo que privatizar um espaço que é público", diz ela.
Em algumas áreas, as ciclovias foram feitas em locais onde funcionam feiras livres.
"Ninguém me falou nada sobre a ciclovia. Montei minha barraca aqui, pois também pago imposto para a prefeitura", diz o feirante Carlos Augusto Pascoal, 44, há 12 anos no mesmo ponto.
Nesses casos, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) indica que o ciclista atravesse o trecho da feira a pé, empurrando a bicicleta.
A companhia admite, porém, que esses casos estão em fase de adequação, que podem ser solucionados até com a mudança de endereço da ciclovia ou da feira.
No Butantã, um longo trecho da ciclovia da avenida Politécnica ocupa a calçada e os ciclistas dividem espaço com pedestres.
"É claro que com a ciclovia é mais seguro andar (de bike). Mas eu não consigo entender ter que disputar espaço com o pedestre. Não dá para tomar o espaço do pedestre", diz o programador Tomás Rangel, que usa a via para treinar ciclismo.
A ciclovia tem buracos, desníveis e desvios para contornar os postes da via.
Em um ponto, uma árvore ocupa 1,70m dos 2,80m de largura da via. Resta ao ciclista e ao pedestre apenas uma estreita passagem.
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