Governo pediu prótese antes de mulher gravar com Dilma


João Pedro Pitombo - Folha.com

Dona Nalvinha, 43, que diz ter recebido uma prótese dentária 'do pessoal da Dilma'


A agricultora baiana que ganhou dentes novos na véspera de gravar programa eleitoral com a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu o benefício após um pedido direto do governo federal à Prefeitura de Paulo Afonso (BA).

A prefeitura, do PDT, disse que Marinalva Gomes Filha, 46, conhecida como dona Nalvinha, recebeu atendimento numa unidade municipal de saúde odontológica, por solicitação do Ministério do Desenvolvimento Social.

Veja também
Sertaneja diz que ganhou prótese antes de gravar com Dilma para TV

Dilma e o ex-presidente Lula estiveram na cidade do sertão baiano nesta quinta (21) para gravação de imagens para o horário eleitoral –a visita também constava da agenda oficial da presidente.

"Essa demanda chegou da assessoria do ministério", disse à Folha o secretário da Saúde, Alexei Vinícius. O contato, disse ele, foi feito na segunda (18), por telefone.

Após o pedido, a prefeitura mandou buscar Nalvinha na zona rural da cidade e a levou para colocar a prótese.

A prefeitura informou que a unidade recebe cerca de 20 pacientes por dia e que ninguém deixou de ser atendido para dar lugar à agricultora.

Nalvinha também recebeu, na semana da visita de Dilma, uma ampliação em seu fogão à lenha.

Responsável pelo programa de "fogões ecológicos", em convênio com o governo federal e o governo petista da Bahia, a ONG Agendha disse que a obra era necessária.

"Não é porque a presidente vinha que íamos deixar de fazer", disse Valda Arouche, fundadora da ONG e filiada ao PT desde 2011.

A construção do fogão e de duas cisternas na casa da agricultora integram o convênio com a ONG, orçado em R$ 4 milhões e que prevê a construção de 756 estruturas hídricas, como cisternas e barragens, e dos fogões.

O "fogão ecológico" foi desenvolvido pelo pesquisador Maurício Lins Aroucha, fundador da Agendha e filiado ao PT desde 2008.

Para o especialista em direito eleitoral Silvio Salata, consultor da OAB, a campanha praticou conduta vedada pela legislação, ao "usar bens e serviços públicos em favor" da candidata.

"Foi oferecido um benefício a uma eleitora que iria aparecer na propaganda eleitoral", disse. Para ele, a conduta, se comprovada, pode resultar em multa ou até cassação da candidatura.

Comentários